Descrição de chapéu Congresso Nacional

Lira avisa que irá congelar projetos de Lula até governo mudar relação com deputados

Presidente da Câmara e líderes do centrão sinalizam que vão continuar pressionando Planalto a buscar soluções céleres para atender pedidos da Casa

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), avisou a interlocutores do Palácio do Planalto que não irá pautar projetos de interesse do presidente Lula (PT) até que os deputados avaliem que o governo ajustou a articulação política e a relação com a Casa.

A mensagem foi passada na quarta-feira (31), segundo aliados de Lira, ao líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), responsável pela interlocução entre o Palácio do Planalto e os deputados.

Com isso, Lira e líderes do centrão adotam uma postura para continuar pressionando o Palácio do Planalto a buscar soluções céleres para atender a pedidos da Câmara, como liberação de emendas, nomeações em cargos e também por mais espaço no governo, podendo inclusive configurar uma reforma ministerial.

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), durante a votação da urgência para o projeto do arcabouço fiscal. - Pedro Ladeira / Folhapress

Apesar da pressão por mudanças na Esplanada, Lula rejeitou, também nesta quinta, realizar uma reforma ministerial por causa de problemas no Congresso.

"Não está na minha cabeça fazer a reforma ministerial, a não ser que aconteça uma catástrofe que eu tenha que mudar. Mas, por enquanto, o time está jogando melhor que o Corinthians", disse Lula, após encontro com o presidente da Finlândia, Sauli Niinistö.

Ele também afirmou nunca ter ouviu pedidos de ministérios por parte de Lira.

"Não pediram e não poderia pedir porque o PP é um partido de oposição e tem gente que vota com a gente. O PT já teve ministro do PP, o PP teve dois ministérios do governo da Dilma Rousseff. Não é problema, se ele pedisse a gente vai avaliar, mas até agora nunca ouvi Lira pedir ministro", disse.

A decisão de Lira de congelar projetos do governo faz parte do acordo costurado com líderes partidários para evitar a derrubada da MP (medida provisória) da Esplanada, que seria a maior derrota de Lula.

Projetos prioritários do governo, como a proposta com regras para a proclamação de resultados de julgamentos do Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), que julga disputas bilionárias entre empresas e a União sobre pagamento de impostos, devem ficar paralisados na Câmara.

A MP que recria o Minha Casa, Minha Vida também está na lista de espera.

Aliados de Lira dizem que pretendem usar essa trava em projetos do governo como forma de pressionar também o Senado a votar texto já aprovados na Câmara e que encontram resistência de senadores, como a derrubada de decretos com mudanças de regras no Marco do Saneamento.

Apesar da trava a pautas de interesse do governo, Lira afirmou a parlamentares próximos que a reforma tributária não terá o calendário afetado. A ideia do presidente da Câmara e do governo é votar a proposta na Câmara ainda neste semestre.

A Câmara aprovou por 337 votos a favor e 125 contra (e uma abstenção) no fim da noite de quarta-feira a MP que reestrutura o governo. A medida foi rapidamente chancelada pelo Senado nesta quinta (1º), para não perder a validade.

Lira declarou na madrugada desta quinta que, apesar da aprovação da medida provisória, o governo está longe de comemorar ter uma base; e afirmou que o Planalto terá agora de andar com as próprias pernas.

"A Câmara, os líderes de partidos independentes, que não estão na base, reconheceram a necessidade de dar mais uma oportunidade para o governo, portanto, nós estamos longe ainda de estarmos comemorando uma base, como alguns tentam passar", disse.

"Daqui para frente o governo vai ter que andar com as suas pernas. Não haverá mais nenhum tipo de sacrifício", afirmou.

Já na tarde desta quinta, Lira voltou a afirmar que fez alertas a Lula sobre a insatisfação dos parlamentares com a relação entre o Executivo e a Câmara e defendeu que o petista dê espaço em seu ministério para mais partidos para aumentar sua base no Congresso.

Em entrevista à GloboNews, o parlamentar disse que o governo federal se predispôs a montar a sua base parlamentar dando ministérios para partidos que o apoiaram na campanha, além de MDB, PSD e União Brasil —e defendeu que é lógico que essa alternativa possa ser usada a outras legendas no intuito de aumentar a base.

"É lógico que em uma conversa entre líderes, parte da articulação política ou com o presidente da República ou com o presidente da Câmara, que essa mesma solução seja dada para outros partidos que ele queira [para] aumentar a base. O que há de errado nisso? O que há de diferente nisso? O que há de estranho nisso?", afirmou Lira.

O presidente da Câmara, no entanto, disse que não reivindicou ao governo ministérios ou emendas e que não pediu a demissão de nenhum ministro, referindo-se às notícias de que ele teria pedido a cabeça de Renan Filho (Transportes), filho do senador Renan Calheiros (MDB-AL).

Integrantes do Planalto atribuíram ao que chamaram de "questões paroquiais", resultado de uma disputa em Alagoas entre Lira e Renan, o receio de que o presidente da Câmara não atuasse para ajudar o governo na votação da MP da Esplanada.

No Twitter, o senador chamou Lira de caloteiro, o acusou de desviar dinheiro público e também de ter batido na ex-mulher Julyenne Lins. O presidente da Câmara mandou recado ao Planalto de que considerava inadmissíveis as declarações do senador da base de Lula e que o governo estava sendo leniente ao manter Renan Filho na Esplanada.

Nesta quinta, Lula também comentou o resultado da votação da MP que reestrutura o governo. "Era razoável que a Câmara votasse do jeito que votou", disse.

Embora a proposta tenha sido aprovada, o texto foi modificado e houve esvaziamento dos ministérios do Meio Ambiente e dos Povos Indígenas, além do fortalecimento de pastas comandadas pelo centrão.

Lula teve que entrar pessoalmente na articulação política para garantir a votação da MP. Ele falou com deputados e, segundo interlocutores, abriu margem para fazer trocas em ministérios.

Na quarta, Lula recebeu para uma reunião o líder da União Brasil na Câmara, deputado Elmar Nascimento (BA). Embora tenha três ministérios no governo, o partido —que tem 59 deputados— ameaçava votar para derrubar a MP.

O presidente, então, chamou Elmar para uma conversa e disse, segundo relatos de aliados do parlamentar, que o deputado poderia indicar novos nomes para substituir as indicações atuais da União Brasil nas pastas que ocupa caso quisesse: Integração Nacional, Turismo e Comunicações.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.