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02/10/2010 - 07h00

Candidato suspeito de ligação com o PCC dá assistência jurídica a presos

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ANDRÉ CARAMANTE
DE SÃO PAULO

A Polícia Civil de SP detectou nos últimos dias que o ex-detento e candidato a deputado federal pelo PSC (Partido Social Cristão) Claudinei Alves dos Santos, 30, o Ney Santos, ajuda a prestar assistência jurídica para presos no Estado de São Paulo.

Ney Santos é acusado pela polícia de usar uma rede de 13 postos de combustível, uma ONG e uma factoring para lavagem de dinheiro e de ter elo com a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).

A polícia descobriu que Ney Santos ajuda presos com assistência jurídica quando quatro homens foram presos na tarde do dia 27, na zona oeste de São Paulo, sob a acusação de roubar a casa de Messias Candido da Silva, ex-prefeito de Cajamar (Grande SP). O roubo ocorreu dia 9.

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Os quatro presos contaram com a ajuda de um motorista da Prefeitura de Cajamar no roubo. O motorista passou detalhes sobre a rotina do ex-prefeito e, até ser descoberto, também ajudava a tramar um outro roubo contra uma vereadora da cidade.

Depois da prisão dos quatro acusados, Santos foi procurado para enviar advogados para defendê-los.

Desde o dia 14, quando a Polícia Civil, fez uma operação contra Santos, a reportagem pede uma entrevista com o candidato a deputado federal, mas ele não fala.

O advogado de Santos, Francisco Assis Henrique Neto Rocha, disse que seu cliente é inocente e não tem ligações com o PCC.

Segundo Rocha, as acusações da polícia contra seu cliente são "atos desesperados por nada ter sido achado contra ele e também porque Santos será eleito como deputado federal".

A análise inicial dos documentos apreendidos dia 15 pela Polícia Civil na operação contra Santos apontou que ele movimenta R$ 6 milhões por mês com sua rede de postos de combustível.

Desde quando saiu da prisão, Santos juntou, segundo a polícia, patrimônio de mais de R$ 100 milhões. O candidato teve todos os seus bens bloqueados por ordem da Justiça, inclusive uma Ferrari de R$ 1,4 milhão, por ser suspeito de usar "laranjas" no seu esquema.

PENITENCIÁRIAS
A Polícia Civil também sabe que Santos e seus assessores políticos têm preparado uma mobilização nas penitenciárias paulistas. O objetivo dele é conseguir apoio para receber votos dos parentes dos detentos no domingo.

A campanha de Santos mapeou todas as prisões e as dividiu por região do Estado para saber onde tem chance de obter mais votos e para melhorar o desempenho nas áreas onde ele não conseguiu ter parcerias políticas.

COMPRA DE VOTOS
A Justiça Eleitoral de São Paulo analisa desde sexta-feira (24) uma denúncia feita pelo Ministério Público Eleitoral contra Santos por oferecimento de vantagem em troca de votos.

Segundo a denúncia, Santos teria ofereceu vale-combustível em troca de votos, quando participou de um churrasco, no último dia 12, realizado em creche conveniada da Prefeitura de São Paulo, na zona Sul da capital.

O local fica a 900 metros de um posto de combustível que pertence ao candidato e a um sobrinho dele.

O candidato tem dez dias para apresentar sua defesa. Após análise da defesa, o juiz da 1ª Zona Eleitoral de São Paulo, Aloísio Sérgio Rezende Silveira, confirmará ou rejeitará a denúncia.

Terça-feira, uma mulher e um adolescente, de 17 anos, foram presos sob a acusação de traficar drogas em Embu, um dos focos políticos de Santos. Com a droga apreendida, guardas municipais encontraram "santinhos" de Santos e, segundo os dois presos, o material era entregue a quem comprava drogas com ambos.

A mulher presa disse à polícia que recebia R$ 40 e também uma cesta básica para distribuir os panfletos aos usuários de droga.

SALVO-CONDUTO
Santos foi considerado foragido da Justiça entre os dias 17 e 23 deste mês, quando o Tribunal de Justiça de São Paulo concedeu a ele um salvo-conduto, em um pedido de habeas corpus.

No dia 17, Santos teve a prisão temporária decretada _por cinco dias. De acordo com o TJ, Santos não pode ser preso por causa da lei que impede a prisão de pessoas até 48 horas depois do encerramento da votação de 3 de outubro.

Caso não consiga revogar a prisão temporária, Santos voltará ser considerado foragido às 17h de terça-feira (5).

ALIANÇAS INUSITADAS
Mesmo acusado pela polícia de vender combustível adulterado, Santos conseguiu firmar uma "dobrada" política com o candidato a deputado estadual Alcides Amazonas, do PC do B, ex-vereador de São Paulo.

De 2005 a abril deste ano, Amazonas foi chefe de fiscalização da ANP (Agência Nacional de Petróleo) e tinha como missão combater a venda de combustível adulterado no Estado e essa é sua principal bandeira política para chegar à Assembleia.

Em um material impresso da campanha de Santos, Amazonas afirma que, "durante mais de dez anos à frente da ANP tive que lacrar centenas de postos da gasolina que vendiam combustível, mas jamais encontrou qualquer irregularidade nos postos de propriedade de Ney [Santos]".

Ao ser questionado pela Folha, Amazonas disse não saber que Santos era dono de postos de combustível, que não sabia que o aliado político suspeito de ligação com o PCC e que já desfez a "dobrada" política com ele.

Outro político que fazem "dobrada" com Santos é o deputado estadual e Said Mourad, também do PSC e membro da Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa de SP. Procurado, Mourad não atendeu ao pedido de entrevista.

Hoje, um dos aliados políticos Santos é Quinzinho Pedroso, candidato a deputado estadual pelo PDT e ex-prefeito de Cotia (Grande SP), já investigado pela PF suspeito de desviar verbas públicas.

Um dos assessores de Pedroso, Maurício André, disse que o candidato não sabia dos possíveis problemas criminais de Santos e que o ex-prefeito tem outras 40 "dobradas" políticas.

PROTEÇÃO POLICIAL
O investigador Luis Fernando Ferreira de Souza, conhecido como Fernandinho e que atua na 2ª Delegacia Seccional Sul, uma espécie de central da Polícia Civil em parte da região sul de São Paulo, foi identificado como um dos homens que fazem a escolta pessoal de Santos.

Souza, que está em férias desde agosto, distribui santinhos com sua foto e a do candidato, a quem declara apoio. o policial não foi localizado pela reportagem. Ele é investigado pela Corregedoria Geral da Polícia Civil.

Dois outros policiais civis são ligados a Santos. Um deles, conhecido como Bico, fez um churrasco semana passada em Juquitiba (Grande SP) para impulsionar a campanha do candidato. O outro é conhecido como Sapão e apareceu na contabilidade de Santos, com um valor de R$ 500 anotado ao lado de seu apelido.

O nome do candidato Quinzinho Pedroso aparece na contabilidade da campanha de Santos registrada em junho deste ano como tento recebido R$ 48 mil.

Ao longo de quinta-feira (30), fiscais da Secretaria da Fazenda e peritos forenses investigaram computadores de Santos apreendidos pela polícia na operação do dia 14.

 

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