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19/12/2010 - 13h00

Emprego e renda formam herança virtuosa

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FERNANDO CANZIAN
DE SÃO PAULO

Em paralelo à rápida melhora no mercado de trabalho, e principalmente por causa dela, os anos Lula trouxeram uma grande transformação, para melhor, nos padrões de consumo e nos negócios das empresas. Por trás das mudanças, algo que não se via em décadas: uma notável melhora no padrão de distribuição de renda brasileiro.

Esse fato vem firmando um ciclo virtuoso no Brasil. Mais empregos estão gerando mais renda, que se transforma em mais consumo, que estimula investimentos produtivos que, por fim, requerem mais empregos para acontecer --reforçando toda a cadeia.

O estopim do processo, em 2003 e 2004, foram os gastos públicos. Primeiro via Bolsa Família. Depois, por reajustes acima da inflação para o salário mínimo e a explosão do crédito consignado (alta de 32% só em 2010), especialmente para dependentes do INSS. Hoje, é o setor privado que impulsiona o país.

O Brasil deve fechar os anos Lula com cerca de 14 milhões de novos empregos formais. Nas regiões metropolitanas, de cada 10 empregos gerados, 8 são com carteira assinada. Trata-se de uma inversão em relação ao padrão dos anos 90 e da segunda metade dos anos 80.

É esse o fato que explica especialmente a queda de mais de 40% no total de brasileiros vivendo abaixo da linha de pobreza desde 2003.

O Brasil tem hoje cerca de 30 milhões de pessoas que ainda sobrevivem com menos de R$ 140 ao mês, o equivalente ao preço de um maço de cigarros por dia. Mas eles seriam mais de 50 milhões se a velocidade da diminuição da pobreza não tivesse se acelerado nos anos recentes.

Na média da década, segundo o Centro de Políticas Sociais da FGV-RJ, a renda do trabalho explicaria 67% da redução da desigualdade; o Bolsa Família, 17%; e os gastos previdenciários, 15,7%.

A grande pergunta a ser respondida com o tempo é se o ritmo de melhora alcançado por Lula vai continuar.

Disso depende o cumprimento da principal promessa de campanha da presidente eleita, Dilma Rousseff: erradicar a pobreza no Brasil.

Pelo critério do Ministério do Desenvolvimento Social, são pobres os 15% de brasileiros que ainda vivem com renda per capita mensal menor do que R$ 140.

Entre eles, 6,5% são considerados miseráveis por viverem ainda pior, com até R$ 70 ao mês (R$ 2,30 ao dia).

Sérgio Mendonça, economista do Dieese, avalia que a fase mais profícua da melhora do mercado de trabalho talvez tenha ficado para trás.

Até 2008, cada ponto de crescimento do PIB significava um aumento equivalente na criação de empregos. Hoje, essa relação é menor, de 1 ponto para 0,5.

"Mesmo assim, se o país puder crescer 5% ao ano, o emprego crescerá mais de 2%, mais até que o aumento do estoque de novos trabalhadores", diz. "Se isso de fato ocorrer, o desemprego poderá desaparecer da agenda de problemas."

Ficaria faltando chegar aos pobres e miseráveis (não alcançados pelo mercado de trabalho) por meio dos programas sociais. Segundo cálculos do economista Marcelo Neri, da FGV-RJ, isso custaria R$ 21,3 bilhões/ano, além dos R$ 13,4 bilhões já gastos para atender 12,7 milhões de famílias no Bolsa Família.

Esse custo será tanto menor quanto maior for a criação das novas vagas de trabalho, que vem "dando o gás" atual para a economia.

Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, diz que o aumento do emprego faz com que a massa de renda na economia cresça a um ritmo anualizado de 30%. "É isso o que sustenta a migração dos mais pobres para a classe média", diz. A MB Associados estima que até 2016 a classe média (renda familiar mensal de R$ 1.530 a R$ 5.100) seja maioria no país.

Até lá, é de esperar que, embora com menos ímpeto, o ciclo virtuoso descrito acima mantenha o emprego, a renda e o PIB em rota de crescimento --tudo sobre um patamar de consumo maior.

Para Renato Meirelles, da empresa de pesquisas Data Popular, "Lula sai como o grande responsável pela democratização do consumo no Brasil". "O que antes era sonho para muitos, virou meta. Isso muda muita coisa."

 

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