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Militantes trocam ônibus por avião e resgatam símbolos petistas
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LAURA CAPRIGLIONE
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
"What a wonderful world", a canção que Louis Armstrong gravou em 1967 para falar de esperança em um futuro sem discriminação racial, começou a tocar num saxofone ao meio-dia de ontem, quando o grupo de petistas saiu a pé para ir à posse de Dilma Rousseff.
Bandeiras do PT, camisetas com a cara de Che Guevara, boinas cubanas, cabelos tingidos de vermelho, faixas estampadas com o rosto da jovem Dilma presa no Dops, ainda nos anos 70. E os broches de estrelinhas.
Todo o relicário da militância petista retirado dos armários, o grupo de 62 homens e mulheres voou de São Paulo para Brasília no dia 31 para acompanhar a despedida de Lula da Presidência e a chegada de Dilma. A volta estava prevista para ontem à noite.
A reportagem da Folha acompanhou a turma.
Tinha um homem de 87 anos e um bebê de quatro meses. Tinha gente que ajudou a fundar o PT, lá no final dos anos 1970. E uma jovem estudante de História da USP, que acabou de chegar.
Esse pessoal largou a ceia de Réveillon para ver o "grande momento histórico" --como diziam, ora enfatizando "o coroamento do governo vitorioso de Lula", ora a "posse da primeira mulher presidente do Brasil".
A passagem de ano, para boa parte do grupo, foi no meio da chuva e da lama, na Esplanada dos Ministérios (era para ter uma mega queima de fogos, mas foram uns rojões mixurucas).
Um companheiro dividiu com os membros do encharcado grupo um garrafão de pinga com cambuci -- "É uma frutinha", explicou.
Recuperada a alegria de viver, uns goles depois, a turma fez contagem regressiva para a entrada do ano, distribuiu abraços, gritos de "olê, olê, olê, olá, Dilmaaaa" e até uns beijos apaixonados.
A turma estava tão feliz que, na volta para o hotel, chuvarada na cabeça, pés descalços, dizia que estava tudo bem: "Dilmaaaaa!!!"
Os mais velhos e o bebê não se aventuraram ao relento e ficaram no hotel. Por volta das 22h, um motoboy trouxe a ceia. Oito pizzas e refrigerantes. Mas não houve quem reclamasse o tender.
Na manhã de ontem, o grupo parecia que se conhecia desde sempre. Quanta diferença daquele pessoal tímido que foi chegando, um depois do outro, no portão 17 do aeroporto de Cumbica.
Militantes de base do PT, atuando em movimentos de bairro, sindicais ou setorizados, o pessoal não se conhecia; não havia figurão.
Pela viagem no avião da Gol e um dia de hospedagem em hotel honesto, cada um pagou R$ 456 (entrada de R$ 120 e o resto parcelado em seis vezes no cartão).
"Na primeira eleição do Lula, eu vim de ônibus e não fiquei em hotel. Na segunda, vim de ônibus e fiquei em hotel. Agora, vim de avião e fiquei em hotel. É o país que está melhorando, não é?", comentou um professor.
Na saída para a festa da posse, os novos amigos se juntaram para tirar foto do grupo. Trocaram e-mails.
Cantou-se a musiquinha da campanha da Dilma. E um companheiro fumando charuto Cohiba (cubano legítimo) lembrou o "Lula lá", hino da campanha de 1989.
Foram para a posse de Dilma certos de que este é mesmo um mundo maravilhoso.
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