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07/04/2011 - 19h00

Dilma é pragmática em seus discursos, diferente de Lula, diz jornalista em bate-papo

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DE SÃO PAULO

A jornalista Vera Magalhães, 38, repórter especial da Folha, participou de bate-papo nesta quinta-feira (7) sobre os 100 dias do governo da presidente Dilma Rousseff, que serão completados no próximo domingo.

Para Vera Magalhães, Dilma tem sido mais pragmática em suas falas, tem evitado discursar muito, diferentemente de Lula. "Ela também fez uma inflexão clara na política externa e tem adotado uma postura mais cautelosa em relação aos gastos, com a decisão de cortar R$ 50 bilhões do Orçamento. Mas o governo é de continuidade e ela tem feito questão de reafirmar isso em seus discursos", disse a repórter no chat.

Arquivo Pessoal
A jornalista Vera Magalhães, repórter especial da *Folha de S.Paulo*
A jornalista Vera Magalhães, repórter especial da Folha

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Participaram do bate-papo 105 pessoas.

O texto abaixo reproduz exatamente a maneira como os participantes digitaram suas perguntas e respostas.

*

(05:03:09) Vera Magalhães: Olá, eu sou a Vera Magalhães, repórter especial da Folha, e estou aqui para conversar sobre os 100 dias do governo Dilma. Boa tarde a todos

(05:03:15) carlinha: Olá Vera. Gostaria de saber o que vc achou do comportamento de Dilma diante dessa tragédia no Rj na manhã de hj. Obrigada!

(05:03:57) Vera Magalhães: Achei a fala da presidente muito sóbria, nada apelativa. Achei que ela estava genuinamente tocada pela tragédia.

(05:04:11) Maria: oq vc achou da postura da nossa presidente diante de Barack Obama?

(05:05:01) Vera Magalhães: Maria, achei as falas da Dilma durante a visita do presidente Barack Obama bastante objetivas, reafirmando os interesses brasileiros sem ser hostil aos EUA.

(05:05:17) León: Quando a Dilma se elegeu, muitos questionavam se ela daria continuidade ao governo Lula ou começaria uma administração diferente, mais técnica. Já é possível dizer se ela continuou ou mudou algo?

(05:07:15) Vera Magalhães: León, já é possível notar diferenças de estilo. A presidente tem sido mais pragmática em suas falas, tem evitado discursar muito, diferentemente de Lula. Ela também fez uma inflexão clara na política externa e tem adotado uma postura mais cautelosa em relação aos gastos, com a decisão de cortar R$ 50 bilhões do Orçamento. Mas o governo é de continuidade e ela tem feito questão de reafirmar isso em seus discursos.

(05:07:27) Arnaldo: Estamos bastante próximos a dois eventos esportivos de grande magnitude e os problemas de infraestrutura herdados do governo anterior permanecem sem solução. Afinal, você acha que daremos conta de fazer aeroportos, estradas, hotéis etc etc em tão pouco tempo?

(05:08:48) Vera Magalhães: Arnaldo, é difícil emitir uma opinião num assunto tão técnico, que não acompanho no dia a dia. O que posso dizer é que há vários alertas, entre eles da própria Fifa, de que o Brasil está atrasado nas obras para a Copa. Será preciso acelerar o cronograma para que dê tempo de fazer tudo.

(05:08:53) Ming: O que muda com o Alckmin no lugar do Serra

(05:10:12) Vera Magalhães: Ming, o governador Geraldo Alckmin fez várias mudanças, inclusive em secretários-chave da gestão Serra, como o da Fazenda, Mauro Ricardo. Também trouxe de volta pessoas de sua confiança, como Saulo Queiroz, ex-titular da Segurança, agora em Transportes. Como no caso Lula-Dilma, a sucessão foi de continuidade, mas há diferenças de estilo claras

(05:10:21) Rodrigo Guimarães: pq a dilma fica encontrando um monte de artistas? Tipo Shakira e agora U2. Não acha uma perda de tempo?

(05:12:17) Vera Magalhães: Rodrigo, depois de dois meses em que teve uma atuação bastante discreta, evitando superexposição, Dilma decidiu fazer uma agenda mais "midiática" a partir de março. Também é uma forma de humanizar a figura da presidente, sempre associada a palavras como "técnica" e "neófita na política''.

(05:12:42) roger: Esta notorio que a Dilma nao gosta de se aparecer para imprensa! voce acha que isso ajuda ou atrapalha a sua imagem?

(05:14:35) Vera Magalhães: Roger, eu acho que a presidente está buscando uma maneira de ter uma interlocução com a imprensa. Ela se reuniu com representantes de veículos de comunicação e convidou jornalistas para uma sessão de cinema no Palácio da Alvorada. Também já deu várias entrevistas a veículos nacionais e estrangeiros. Se não gosta de aparecer na imprensa, ao menos ela deve ter avaliado que isso é necessário

(05:14:58) Ming: Nesta gestão o Geraldo Alckmin parece ter optado por uma discrição absoluta. Quase não se houve falar dele nos noticiários. A sua impressão é essa também? É uma estratégia?

(05:16:46) Vera Magalhães: Ming, o governador Geraldo Alckmin tem esse estilo desde o início de sua trajetória política. Não se esqueça do apelido que o José Simão lhe deu: "picolé de chuchu'', em parte porque ele não costuma suscitar polêmicas. Mas aos poucos ele vai pontuando suas opiniões: já ''lançou'' José Serra para prefeito e fez críticas à criação do PSD pelo prefeito Kassab, por exemplo

(05:17:00) Henrique: A polêmica da segurança pública no governo Alckmin ainda terá novos episódios ou você acha que acabou ali no caso da fita do Shopping Higienópolis?

(05:18:36) Vera Magalhães: Henrique, não tenho acompanhado os bastidores desse caso, que estão a cargo de outros colegas da Folha. Mas pode haver, sim, novos desdobramentos, porque existe uma disputa de grupos na segurança de SP, como já mostraram várias reportagens

(05:19:22) Diego: Tabom vamos mais fundo na ferida, o Lula saui com mais de 80% de aprovação, na sua opinião ela vai continuar o governo Lula? O que ela já fez nesse tempo que ela está lá para mostra sua forma de governo, não seria muito cedo para começar a avaliar seu modo de governo, na sua opinião não acha cedo apenas 100 dias, seria melhor uns 6 messes não?

(05:21:22) Vera Magalhães: Diego, sim, ainda é cedo. No entanto, é função do jornalismo tentar mostrar antes as tendências, as inflexões e as políticas de um novo governo, sobre o qual existe grande expectativa da população. Dilma fará, sim, um governo de continuidade. Agora, se essas inflexões se darão em outras áreas, a ponto de marcar uma diferença mais clara entre os dois presidentes, apenas os próximos meses poderão dizer

(05:21:31) DJpsydersonSP: Quando dilma assumiu ela recebeu uma herança de lula. A previdência é uma herança de fernando henrique. voce acha que se o legado da previdencia fosse o do lula seria melhor para os aposentados.

(05:23:18) Vera Magalhães: DJpsydersonSP, não sei se entendi sua pergunta. O governo FHC fez uma reforma da Previdência, que precisaria ser aprofundada. Lula optou por não fazer uma nova reforma. Mais recentemente, o Congresso derrubou o chamado fator previdenciário. Portanto, existe uma herança nesse caso que vem de todos os mandatos anteriores.

(05:23:29) marina: nao vi muitas mudanças no governo Dilma para nós mulheres, como ela havia prometido em campanha...oq vc acha?

(05:25:10) Vera Magalhães: Marina, acho que ainda é cedo para cobrar a não realização de qualquer promessa. Mas Dilma nomeou mulheres para cargos chave na administração e, em sua primeira entrevista, ao jornal Washington Post, se não me falha a memória, condenou o apedrejamento de mulheres e disse que seu governo será claro nessas questões de direitos humanos. São sinalizações que dizem respeito à questão de gênero, que ela sempre ressalta _inclusive no discurso de posse

(05:25:22) Henrique: 100 dias após assumir, a Dilma ainda não deu mostras de que empregará o seu tão falado dom administrativo no Governo Federal. É isso mesmo, ou você sabe de mudanças que ela tenha promovido na gestão do Planalto?

(05:27:41) Vera Magalhães: Henrique, os ministros ressaltam a profundidade com que a presidente os cobra em reuniões, por exemplo. Também apontam como um diferencial o fato de ela preferir despachos individuais às longas e amplas reuniões, que considera pouco efetivas. Do ponto de vista administrativo, os pontos importantes foram a sinalização pelo ajuste fiscal e o lançamento de alguns projetos, como a ampliação de remédios de graça e o lançamento do programa de assistência neonatal

(05:27:57) Rodrigo: As críticas de Aécio Neves ao PT ontem representam um amadurecimento da oposição? Como a você enxerga o posicionamento da oposição nesses primeiros meses?

(05:29:29) Vera Magalhães: A oposição tem pouco poder de fogo no Congresso, onde é franca minoria. No entanto, ela governa Estados importantes em todas as regiões, e pretende usar esse capital político e eleitoral. As críticas de Aécio representam uma tentativa dele de se capitalizar como o líder da oposição, já de olho em 2014. Se terá sucesso é cedo para dizer, e dependerá de muitos fatores

(05:29:46) Stallone Cobra: O fato de Dilma afirmar que vai ao velório das vítimas da tragédia no Realengo demonstra um caráter mais humano da presidente em relação ao antecessor?

(05:30:41) Vera Magalhães: Stallone Cobra, não acredito. Acho que Lula agiria da mesma forma nesse caso, pelo estilo dele. Ele já visitou locais de tragédias em seu mandato

(05:31:28) Daniel: Qual será o maior desafio para Dilma neste ano?

(05:32:13) Vera Magalhães: Pelo cenário atual, Daniel, o maior desafio de Dilma é conseguir conter a ameaça inflacionária, algo já reconhecido pelo próprio governo e pelo Banco Central

(05:32:22) xereta: cara vera...vc acredita que a pressidenta realmente decide as questoes, ou o comando supremo do partido instalado nos ministerios quem decide e a presidenta aparece..

(05:33:47) Vera Magalhães: Xereta, não vejo na personalidade da presidente traços de quem se deixa guiar por partido x ou y. Os partidos costumam se incomodar, aliás, com a forma às vezes monocrática com que ela toma decisões, sem consultá-los, e de como às vezes demora para atender suas reivindicações.

(05:34:34) Rodrigo: Uma grande polêmica ronda as declarações do deputado Jair Bolsonaro. A liberdade de expressão permite que ele se expresse de forma truculenta e grotesca?

(05:37:22) Vera Magalhães: Rodrigo, desde que não haja desrespeito à lei, os parlamentares têm o direito de opinião assegurado pela Constituição. Há representações no Conselho de Ética da Câmara para que se decida se Bolsonaro infringiu a lei em suas declarações _se cometeu crime de racismo, por exemplo.

(05:37:44) João: Heranãs a parte.Ainda teremos aquela ridiula lei contra o jornalismo?Volatremos a ter um verdadeira impremsa livre?

(05:38:50) Vera Magalhães: João, o ministro Paulo Bernardo pediu de volta o projeto que definia a regulamentação da mídia, para estudar se havia nele restrições à liberdade de imprensa. Ele ainda não disse se e quando pretende reapresentar a proposta

(05:39:05) Rodrigo: Já dá para sentir diferenças na forma como os jornalistas são tratados no governo Dilma em relação aos oito anos anteriores? O que espera do debate sobre a regulamentação da imprensa?

(05:40:57) Vera Magalhães: Rodrigo, depois de 10 anos em Brasília, agora estou em SP, então, não tenho mais contato no dia a dia com o governo, para saber de forma precisa das diferenças de tratamento. O que nós, jornalistas, sentimos, é que o governo, nesse começo, está muito reservado, com certo receio de divulgar informações, já que a presidente recomendou que se evitem ''vazamentos'' de informações. Por ora, é a face mais visível da relação com a imprensa. O debate sobre regulamentação da mídia, como disse na resposta anterior, está por ora suspenso.

(05:41:04) Diego: Na questão dos direitos humanos, se houve falar muito disso hoje em dia. O que voce pensa em relação a isso, não acha que estao dando muita atenção a esse tema e esquecendo outros como educação, saude, emprego e outras ares fundamentais? Ela vai ser uma presidente mais focada no dom administrativo que ela diz ter, ja que não fez doutorado como diz ter feito entre outras coisas. Ou vai mais para o lado social?

(05:44:55) Vera Magalhães: Diego, são muitas perguntas em uma só, hehe. Vamos por partes: 1. Direitos Humanos - Dilma já demonstrou que vai priorizar esse tema, tanto no front interno (ao defender a Comissão da Verdade) quanto no externo (no posicionamento sobre o Irã). 2. Não acredito que a defesa dos direitos humanos impeça que ela priorize essas outras áreas que você mencionou. 3. Se ela vai ser mais focada no lado administrativo? Acho que sim, ela dá mais valor a isso do que Lula dava, por exemplo, já que tem uma trajetória mais ligada à área técnica que o antecessor, que sempre foi político. 4.Quanto à questão social, Dilma fez da erradicação da miséria sua principal bandeira de campanha. O mote do governo é algo na linha "país rico é um país sem miséria''. Portanto, acho que terá muita ênfase essa questão

(05:45:02) Daniel: Para o que o governo Dilma não está preparado?

(05:45:31) Vera Magalhães: Daniel, eu é que não me sinto preparada para fazer esse juízo de valor. Só suas ações vão mostrar para que o governo não está preparado.

(05:45:52) jree: Como vc viu a presenca de Obama aqui no BR apos Dilma quebrar a tradicao e se recusar a viajar aos EUA antes da posse?

(05:46:09) jree: A Sra acredita que havera um incremento no intercambio universitario e cientifico entre BR e EUA, apos a visita de Obama"?

(05:47:33) Vera Magalhães: jree, ela não se recusou a ir aos EUA. Apenas quebrou essa "tradição'', que também não era nada escrito ou consignado. Quanto ao intercâmbio universirtário e científico, foram assinados protocolos de intenções para isso, mas resta ver como se dará na prática

(05:47:54) Stallone Cobra: A criação do novo partido PSD pode enfraquecer a maioria petista no Congresso? Será uma dificuldade a mais para o partido de Dilma nas próximas eleições?

(05:49:33) Vera Magalhães: Stallone Cobra, o partido não ameaça, por ora, a hegemonia numérica de PT e PMDB no Congresso. O risco será mais para a oposição, que pode desidratar. Nas eleições municipais o PSD dependerá de alianças para ter dinheiro e tempo de TV. É cedo para avaliar que risco pode representar para o PT ou para a oposição

(05:49:44) lilili: A Dilma já vai fazer sua primeira viagem internacional para a China. É cedo demais?

(05:51:13) Vera Magalhães: lilili. Será a primeira viagem à China, mas não a primeira viagem internacional. É uma viagem cercada de expectativa, porque a China é vital para o comércio exterior brasileiro, e porque há questões delicadas do ponto de vista de direitos humanos, e não se sabe como a presidente vai se manifestar sobre elas

(05:51:44) Trens em Foco SP: boa tarde Vera! Gostaria de saber sua opinião sobre os 100 dias do governo Alckmin, e a sua expectativa acerca das melhorias nos transportes metropolitanos

(05:54:04) Vera Magalhães: Trens em Foco SP. Os 100 primeiros dias de Alckmin foram marcados principalmente pela disputa de grupos na segurança. A questão do transporte foi uma das principais bandeiras de campanha. Vamos ver se ele vai conseguir executar essa melhoria

(05:53:49) Rodrigo: Com a crescente democratização da internet e a difusão de meios noticiosos na rede, o que fazer para o jornal diário não chegar envelhecido às bancas?

(05:56:04) Vera Magalhães: Rodrigo, essa é uma discussão que acontece neste momento no mundo todo, não só no Brasil. Acredito que os jornais devem investir cada vez mais no furo, que é a informação diferenciada, que vai lhe garantir credibilidade e mostrar sua necessidade. Além disso, deve procurar ser mais analítico em relação ao noticiário da internet, do rádio e da TV. São desafios grandes e ninguém tem uma fórmula. Mas acredito que o jornalismo impresso ainda tem vida longa no Brasil e no mundo, porque as pessoas sentem necessidade de aprofundamento das informações, que ele tem mais condições de fazer.

(05:54:45) Mateus: A aprovação popular do governo Dilma pode levar a oposição a tomar uma medida energica para qua a popularidade de Dilma seja igual ou supere a de Lula?

(05:56:43) Vera Magalhães: Mateus, não entendi sua pergunta.

(05:56:09) Anna: Acha que Dilma conseguirá vencer o embate contra o Congresso, forças sindicais e classes empresariais para mudar o sistema previdenciário ainda este ano?

(05:57:21) Vera Magalhães: Anna, acho difícil aprovar uma reforma previdenciária neste ano. O governo parece mais focado na reforma política

(05:58:31) Vera Magalhães: Obrigada a todos pela participação, desculpem as perguntas que não consegui responder a contento e boa tarde a todos.

(05:58:54) Moderadora UOL: O Bate-papo UOL agradece a presença de Vera Magalhães e de todos os internautas. Até o próximo!

 

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