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'Não podemos fazer WikiLeaks da história do Brasil', diz Sarney
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GABRIELA GUERREIRO
DE BRASÍLIA
Ao defender nesta terça-feira a decisão do governo de retirar a urgência para a votação do projeto que trata do sigilo eterno de documentos oficiais, o senador José Sarney (PMDB-AP) voltou a criticar a divulgação de informações passadas do país. Sarney disse que não se pode fazer um "WikiLeaks" da história do Brasil.
"Eu acho que nós não podemos fazer WikiLeaks da história do Brasil, da construção das nossas fronteiras. Quanto a documentos atuais, esses aí eu não tenho nenhuma restrição. Acho que devem ser abertos, publicados. Eu quero é melhorar o projeto, eu não quero que o projeto não exista."
Sarney se referiu ao site "WikiLeaks", que no ano passado ganhou notoridade internacional pela divulgação de documentos secretos. O site funciona desde julho de 2007 para publicar documentos por meio do que descreve como "vazamento com princípios". O site abriga mais de 1 milhão de documentos, desde o manual da prisão de Guantánamo até a lista de filiados do Partido Nacional britânico, de extrema direita.
O senador disse ser legítimo ao Congresso "melhorar" o projeto encaminhado pelo Executivo em 2009. O texto reduz para 25 anos o caráter sigiloso dos papéis ultrassecretos, com a possibilidade indefinida de prorrogação, mas emenda aprovada pela Câmara acaba com o sigilo eterno.
"Se o Congresso não pode nem melhorar o projeto, aí não tem razão de ser. Esse projeto foi feito com muita pressa. Está se tratando dele de maneira muito geral, mas é um projeto longo, de mais de 20 páginas."
Sarney disse concordar com a abertura dos documentos secretos da ditadura e os mais "recentes" da história, mas criticou a possibilidade de tornar públicos os "históricos" --como os da época da construção das fronteiras brasileiras.
"Se pegarmos todo o nosso acervo histórico do Itamaraty, da construção das fronteiras do Brasil e fomos divulgar neste momento, nós vamos abrir feridas com nossos vizinhos. Os nossos antepassados nos deixaram esse país com as fronteiras consolidadas. Por que vamos agora abrir para esses países?", questionou.
RECUO
A presidente Dilma Rousseff desistiu de dar prioridade à votação do projeto de lei sobre a divulgação de documentos oficiais e não irá mais se empenhar para acabar com o sigilo eterno de papéis considerados ultrassecretos.
O Planalto decidiu tirar a urgência do texto e, questionado pela Folha, disse que "o governo Dilma sempre apoiou o projeto enviado pelo ex-presidente Lula", que prevê a possibilidade de renovação indefinida do sigilo.
O plano de Dilma era votar a proposta até maio, para casar com o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. Agora, a presidente vai dar pelo menos dois meses para aliados do Senado chegarem a um consenso sobre o tempo em que um documento pode ser mantido sem acesso.
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