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Na Baixada Fluminense, 14 candidatos e políticos foram mortos desde 2015

Ricardo Borges/Folhapress
Forças Armadas no Rio de Janeiro
Forças Armadas no Rio de Janeiro, em frente ao Pão de Açúcar

Numa manhã de sábado, por volta das 9h, Sérgio de Almeida, 37, entrou em seu carro, estacionado em frente à sua casa numa rua residencial de Duque de Caxias (RJ), mas nem teve tempo de ligá-lo. Um outro veículo emparelhou ao lado e de dentro dele vieram os tiros.

Almeida tentou escapar pela porta do carona, mas dois homens —com toucas ninja e luvas brancas— saltaram do carro. Um carregava um fuzil, o outro pistolas.

Foram dezenas de disparos, pelo menos seis na cabeça de Berém do Pilar, como era conhecido o candidato a vereador pelo PSL.

Naquele 2 de julho, ele se tornou o nono político ou candidato a ser assassinado na Baixada Fluminense desde novembro de 2015.

Outros cinco foram mortos desde então, totalizando 14 vítimas envolvidas nas campanhas políticas da Baixada em nove meses. No mesmo período de 2012, registrou-se apenas um caso.

Segundo a Polícia Civil, seis desses crimes foram causados por disputa entre milicianos. Outros dois, por grupos de extermínio, que o delegado Giniton Lages, titular da Delegacia de Homicídios da Baixada, não considera milícias. Quatro mortes foram ações de traficantes.

Só dois dos casos não teriam nenhuma ligação com a atuação política das vítimas.

A brutalidade dos crimes levou o Tribunal Superior Eleitoral a pedir a presença das Forças Armadas em municípios da região e em áreas da zona oeste do Rio.

A Folha apurou junto a policiais e promotores que atuam na Baixada —região formada por 12 municípios e com 3,6 milhões de habitantes— que diferentes milícias apoiam candidatos às Câmaras. Seria um primeiro passo antes de buscar representação nos Legislativos estadual e federal.

As milícias são grupos paramilitares formados por policiais civis e militares, da ativa ou aposentados, bombeiros, militares e civis. Surgiram no Rio nos anos 1990, expandindo-se da zona oeste carioca para a Baixada. Hoje, usam a violência para intimidar os candidatos.

"Não podemos permitir que ocorra neste ano o vexame das eleições de 2012 e 2014, quando candidatos eram impedidos de fazer campanha ou os eleitores eram obrigados a votar em uma determinada pessoa", disse o procurador eleitoral Sidney Madruga.

Ele convocou para a próxima quinta (8) uma reunião com as forças de segurança para discutir o assunto.

"Quando acabar a Paraolimpíada, as Forças Armadas não podem patrulhar mais a zona sul. Terão que cuidar das áreas pobres do Estado", afirmou Madruga.

Após a morte de Berém —que, segundo o delegado Lages, integraria uma milícia local—, a Procuradoria Eleitoral pediu que a Polícia Federal investigasse os crimes. Na sexta (2), a PF informou ao procurador que pediu à Polícia Civil dados sobre os casos.

A Polícia Civil nega a tese de surto de crimes políticos. Considera como tal apenas casos em que o candidato sofre retaliação por sua atividade partidária. Nas mortes da Baixada, a maioria seria reação de grupos criminosos a concorrentes ou opositores, como líderes comunitários –o que os policiais categorizam como crimes comuns.

POLÍTICA DA BALA - Assassinatos de políticos na Baixada Fluminense

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