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Com verba restrita, jingles 'pré-fabricados' custam de R$ 300 até R$ 800

"Ahn, ahn, ahn, ahn". Do alto-falante do carro de som, sai a batida inconfundível do funk de maior sucesso do MC Bin Laden.

A abertura da música é semelhante à original, mas logo o "tá tranquilo, tá favorável" é trocado por "é 15, um, dois, três e tá confirmado", repetido freneticamente até finalizar: "Maurício é o meu candidato".

Reinaldo Canato/UOL
SAO PAULO - SP - BRASIL - 22.05.2016 -VIRADA CULTURAL -Show do MC Bin Laden no palco Republica Foto Reinaldo Canato / UOLSAO PAULO - SP - BRASIL - 22.05.2016 -VIRADA CULTURAL -Show do MC Bin Laden no palco Republica Foto Reinaldo Canato / UOL
MC Bin Laden, que canta "Tá Tranquilo, Tá Favorável", uma das músicas usadas em jingles de candidatos

Maurício Benites (PMDB) é candidato a vereador em Comodoro, interior de Mato Grosso. Pagou R$ 300 pelo jingle que contratou do compositor Paulo Henrique Machado, que vive em Leopoldina, interior de Minas Gerais.

Perto dali, na cidade de Cajuri, sudoeste de Minas, o candidato a prefeito Ricardo Andrade (PSB) usa a base da música para o seu jingle, cuja letra feita pelo mesmo compositor é quase igual.

Com teto de gastos mais baixo e restrição no financiamento de campanhas, jingles "pré-fabricados" têm ganhado espaço entre os candidatos a prefeito e vereador.

As músicas, publicadas em sites ou redes sociais em formato "demonstrativo", têm nomes e números fictícios de candidatos.

Como numa prateleira de supermercado, o candidato escolhe a música de sua preferência e recebe a gravação com o seu nome e número em até 48 horas. Pagam entre R$ 300 e R$ 800 pela música, até dez vezes menos que uma inédita e exclusiva.

O preço baixo –que pode ser parcelado em até 12 vezes– embute um detalhe: o mesmo jingle pode ser usado para diferentes candidatos em todo o país.

Paulo Henrique Machado, 40, trabalha com jingles há mais de duas décadas. Há oito anos começou a montar um banco de dados na internet que hoje tem mais de 60 músicas. Neste ano, vendeu para mais de uma centena de candidatos em diferentes cidades do país.

A maioria dos jingles é inspirada em músicas famosas. No top das vendas estão paródias de músicas do cantor Wesley Safadão, como "Camarote" e "Aquele 1%", seguidas de funks como "Tá Tranquilo, Tá Favorável" e "Bumbum Granada".

Além do nome e número do candidato, também são inseridas algumas palavras-chave –como "continuar", para políticos em reeleição, e "mudança", para os de oposição, explica Thales Douglas, dono de uma empresa de jingles em Alagoas.

Para usar as músicas de artistas famosos, os empresários apontam supostas brechas na legislação para não pagar direitos autorais. Segundo eles, os jingles são paródias das músicas e, por isso, não precisam de autorização do autor.

Especialistas, contudo, contestam o argumento. "A paródia é típica do humor, tem um tom jocoso, de brincadeira. No caso do jingle, o objetivo é promover o candidato, o que configura violação do direito autoral", afirma o advogado Rodrigo Moraes, professor de direito autoral da UFBA (Universidade Federal da Bahia).

TRÁ-TRÁ-TRÁ

A arrochadeira "Metralhadora" da banda Vingadora está em alta. Um dos que apostou num jingle foi Bira Rocha (PPS), candidato a vereador em Catolé do Rocha (PB).

A coincidência é que Rocha, 40, responde a três processos por suspeita de homicídio e é acusado de integrar um grupo de pistolagem.

Além de pedir votos para o candidato e prometer "mais educação", o jingle acaba ao som de uma rajada de balas. De metralhadora, é claro.

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