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'Eu nunca me coloquei como alguém de esquerda', diz Marta Suplicy

Marlene Bergamo/Folhapress
PODER ELEIÇOES- Sao Paulo - Entrevista com a candidata Marta do PMDB. 19/09/2016 - Foto - Marlene Bergamo/Folhapress - 017
Marta Suplicy (PMDB), candidata à Prefeitura de São Paulo, em entrevista à Folha

A candidata a prefeita de São Paulo Marta Suplicy afirmou em entrevista à Folha, nesta segunda-feira (19), que nunca se apresentou como uma pessoa de esquerda, ao comentar sua saída do PT e ingresso no PMDB, partido do presidente Michel Temer.

"Tem valores tão, tão retrógrados que são chamados de esquerda que eu não me identifico em absoluto", declarou.

Para a senadora licenciada, que, pelas pesquisas, disputa com João Doria (PSDB) uma vaga no segundo turno, o empresário não tem experiência para administrar São Paulo porque o seu ramo é o de lobby empresarial usando patrocínio público.

*

Folha - Por que a sra. saiu do PT no ano passado? Foi por falta de espaço?
Marta Suplicy - É muito complexo. Eu ajudei a construir o PT, eu acreditei na busca por valores éticos. Me empenhei muito pela questão da mulher, LGBT. Foram 33 anos de construção. Eu comecei a perceber que os dirigentes estavam com rumos que não eram os rumos pelos quais o partido foi criado. Então não foi uma coisa fácil, foi uma coisa de sofrimento.

A sra. pediu voto para Fernando Haddad em 2012.
Fiz muito mais do que apoiar, eu fiz campanha de rua. E eu acreditava que ele poderia ser um prefeito muito melhor do que ele foi.

A sra. sempre foi vista como progressista. Hoje, está aliada a setores considerados mais conservadores...
Por quem? Não pelo povo. Você está equivocado. Pela Folha, pela mídia, por algumas pessoas. Pelo povo não.

A sra. hoje se classificaria como sendo de esquerda?
Olha, eu nunca nem me coloquei assim, né? Eu acho que neste mundo hoje depende do que você chama de esquerda. Tem valores tão, tão retrógrados que são chamados de esquerda que eu não me identifico em absoluto. Eu tenho valores que eu diria que são cada vez mais de inclusão das pessoas, de respeito à cidadania.

A sra. se constrange de estar no partido de Eduardo Cunha?
Todos os partidos grandes têm pessoas investigadas e pessoas conservadoras. O que me atraiu no PMDB é a capilaridade, estrutura partidária forte no Senado. É um partido que não tem cabresto, não tem encaminhamento de votos, as pessoas ali têm muita independência.

Doria diz que seu jeito de governar é petista.
A minha imagem não está mais associada ao PT. O próprio povo já sabe disso. Agora, essa história de dizer que não é político é extremamente equivocada. Haja vista Pitta, que era um grande gestor, Dilma, que se achava uma grande gestora, o próprio Haddad, que se acha gestor. A vocação para ser empresário é uma vocação que visa o lucro. Nada contra. Mas ter a preocupação de gerar lucro significa cortar, significa diminuir determinados tipos de investimento, que ele até já explicitou. Ele [Doria] junta pessoas para fazerem negócios, geralmente com patrocínio, e patrocínio estatal -patrocínio do PT, bastante, R$ 2 milhões-, patrocínio do Estado -R$ 1 milhão para a revista "Caviar". Então, ele faz essas junções, né? Isso é lobby, né? Que existe, não é ilegal. Mas a prefeitura é muito mais que isso.

A sra. enfatiza que a proposta de reforma trabalhista parte de um ministro do PTB, mas a sra. chegou a fechar com uma vice do PTB [que depois apoiou Russomanno].
Tínhamos começado a conversar. Não tínhamos entrado em nenhum detalhe deste tipo, não chegou a tanto.

Ser aliada do Temer dá votos ou tira votos?
A Presidência da República tem muita capacidade de ajudar. O presidente vai tentar fazer o melhor na negociação. As reformas nem começaram e vamos ver como elas vão caminhar. Já na época da votação quando a Dilma fez o ajuste fiscal, o primeiro, eu votei contra, não é justo que o trabalhador pague essa conta. Não é justo mesmo.

A sra. não se elegeu em 2008 porque perdeu votos na classe média. O está fazendo para reconquistar essa parcela?
Na classe média eu estou entrando melhor desde que saí do PT. Por exemplo, as associações comerciais estão me apoiando. Tem várias áreas em que não existia algo contra mim pessoalmente, mas existia contra o partido que eu representava.

Por que a sra. quer retomar as velocidades anteriores nas Marginais, apesar do que dizem muitos especialistas?
Não precisa de medidas tão drásticas para reduzir mortalidade em via expressa. Primeiro, a mortalidade em via expressa ocorre por imprudência, que vem de vários fatores: uso de celular, em segundo, bebida, e em terceiro, buraco. Fiscalização, principalmente fiscalização noturna em bares, pode ajudar a coibir. Porto Alegre diminuiu em 29,9% a mortalidade só com fiscalização. Campinas, 21%. Belo Horizonte, 17%.

Sua campanha não descarta concessão do Pacaembu e de Interlagos. É a linha do Doria?
Não, está a anos-luz do que ele fala. Pacaembu é um monumento, não tem que ser privatizado em hipótese alguma. O Anhembi eu acho que aí cabe uma concessão. O autódromo dá para estudar [privatizar], tem rendimento.

O setor privado não era citado no seu programa de 2008. A que atribui a mudança?
Eu saí do PT.

Como a sra. vai lidar com os bailes funk nas ruas?
A gente tem que entender por que os pancadões existem, não adianta ficar proibindo, não é por aí. Eu acredito que se você é jovem, mora num lugar onde não tem um espaço de cultura, qual a ideia deles? É pôr um som e dançar, paquerar, eles são jovens.

Para lidar com o crack, a sra. propõe construir cinco centros de reabilitação. Pretende acabar com o Braços Abertos?
Primeiro, eu não vou construir [os centros], eu já tenho a relação dos prédios do INSS que finalmente vieram para São Paulo e serão adaptados. O Braços Abertos tem que ser descontinuado, mas você não faz isso com canetada com as pessoas naquele estado, é paulatino. É um processo de convencimento para desintoxicação. Nós vamos trabalhar com a espiritualidade, com as organizações sociais, principalmente religiosas, que já trabalham.

Duas de suas principais promessas para a saúde são contratar logo de início 2.000 médicos e abrir as unidades básicas até as 23h e aos sábados. Como a sra. pretende custear essas promessas?
Contratar 2.000 médicos custa R$ 288 milhões [por ano], e isso num orçamento de cerca de R$ 9 bilhões [para a saúde] é absolutamente possível, uma gestão competente consegue fazer.

No debate domingo (18), a sra. disse que vai congelar a tarifa do ônibus, hoje em R$ 3,80.
Não, eu disse que não ia aumentar. Essa questão eu tenho que entrar na licitação, que eu não tenho acesso, e poder avaliar. Não tenho intenção de aumentar.

Nos quatro anos?
Eu não posso ter um compromisso sobre isso porque eu não sei. Farei todo o esforço possível para não aumentar [tarifas] nos quatro anos. Agora, temos sempre que lembrar que tem um subsídio de R$ 2,4 bilhões.

A sra. tem dito que vai terminar oito CEUs que o Haddad vai deixar em andamento. Foi dinheiro que faltou?
Foi prioridade. Eu construí 21 [CEUs], e trabalhava com R$ 13 bilhões [R$ 27,6 bilhões em valores corrigidos pelo INPC de 2004 para cá]. Ele trabalha com R$ 52 bilhões. É prioridade, gestão. Educação é minha marca e vai continuar sendo. Então, eu vou investir na qualificação do professor, curso de especialização. Não vai ser obrigatório, mas vai ter meritocracia, vai contar pontos para a carreira e vai receber para fazer o curso.

A sra. promete voltar com a inspeção veicular num modelo novo...
Não fala isso, que vou voltar com inspeção veicular, porque isso é palavra mortal para as pessoas, as pessoas já pulam. A palavra é esta: eu não vou voltar com a inspeção veicular, vai ser opcional.

Opcional e de graça com abatimento no IPTU. A sra. vai onerar a prefeitura duas vezes, porque perde-se o IPTU e paga-se a inspeção. É possível num momento de crise?
Olha, quanto mais pessoas fizerem, mais alegre eu vou ficar, porque isso ajuda a diminuir a poluição, mas num momento de crise eu não tenho ilusão: eu acho que serão poucos cidadãos que irão fazer. Quantos fizerem, a prefeitura não vai ficar triste nem achar que é um ônus.

MARTA NO DATAFOLHA

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