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'População desconfia do setor privado por desconhecimento', diz Doria

Eduardo Knapp/Folhapress
Sao Paulo, SP, BRASIL, 19-09-2016: ***Para Edicao da FOLHA de quarta feira 21.9*** Entrevista exclusiva para a FOLHA com o candidato a Prefeituta de Sao Paulo, o empresaio Joao Doria (PSDB) no comite do partido da Av Europa (Foto: Eduardo Knapp/Folhapress, TREINAMENTO).
O candidato à Prefeitura de São Paulo João Doria (PSDB) em entrevista à Folha

Crítico voraz do PT, o candidato a prefeito de São Paulo João Doria (PSDB), 58, admite que, na esfera dos negócios, a relação com integrantes da legenda que mais ataca sempre foi diferente. Sua faceta empresarial estreitou laços com nomes como Jaques Wagner, ex-chefe da Casa Civil de Dilma Rousseff.

"A relação empresarial tem um patamar. Outra coisa é a relação política. Nesse momento, eu estou disputando uma campanha. Mas, com relação às pessoas, sempre tratei de forma republicana", disse em entrevista à Folha.

O tucano ainda negou que a atuação de seu grupo empresarial, o Lide, possa ser classificada como lobby. "Eu não sou lobista. O nosso negócio é de conteúdo."

Doria defendeu um modelo de gestão liberal e avaliou que as pessoas temem a palavra privatização por falta de conhecimento. Criticado dentro do próprio partido, negou que sua candidatura fomente divisões e afirmou que, se eleito, vai buscar pontes até com o PT. Veja abaixo.

Folha - Como vê as críticas de que sua candidatura está dividindo o PSDB?
João Doria - Não está.

Não?
Não está... Tenho respeito pelo [ex-governador Alberto] Goldman, mas o Goldman é o Goldman. É uma pessoa que merece respeito, consideração, mas não tem a ala do Alberto Goldman, não tem os seguidores dele.

E o distanciamento de outras figuras, como José Serra e Fernando Henrique Cardoso?
Fernando Henrique vai gravar no nosso programa. Como vai o Aloysio [Nunes Ferreira]. O José Aníbal já está integrado... O Aécio [Neves] gravou também.

O sr. critica o PT, o Lula, mas, como empresário, manteve boas relações com petistas. Mudaram eles ou o sr.?
A relação empresarial tem um patamar de ação. Outra coisa é a relação política. Estamos em campanha. E na campanha, me refiro especificamente ao PT, ao partido, mas continuo tratando as pessoas com respeito.

Durante o governo Dilma, sob a batuta de um amigo do sr., a Apex [agência de fomento à exportação] patrocinou diversos eventos do Lide.
Não é verdade. Pelo menos não é verdade absoluta. Temos relação com a Apex desde que ela foi fundada. No período, houve uma intensificação por conta do bom trabalho realizado por Armando Monteiro à frente ministério. Não houve privilégio em função deste ou aquele gestor.

Terá diálogo como o PT, se eleito?
Claro que sim. Com outros partidos também.

Marta Suplicy (PMDB) disse que o que o sr. faz é lobby...
Ela não conhece nada da atividade empresarial. Nunca gerou emprego nem sofreu com a carga tributária pesada e com as taxas que o empresário é obrigado a pagar.

Como classifica, então, o serviço que seu grupo oferece?
Não sou lobista. O Lide não faz lobby. Nosso negócio é conteúdo, promove eventos no Brasil e no exterior.

A atuação envolve fundamentalmente atividade privada, mas não hostiliza a pública. Nem o PT nem outro partido. Seria o mesmo que qualificar o "Valor Econômico", que promove encontros empresariais dos quais participam homens públicos, de um jornal lobista. Ou o "Estado de S.Paulo", o "Globo", a "Exame". Não quero me referir à Folha para não ser deselegante. Não entendo que o que esses veículos realizam seja lobby.

O sr. se orgulha de ser um 'não político', mas seu maior apoio vem de Alckmin, que está no ramo desde os 21 anos. É contraditório?
Não. Quero continuar a ser um empresário na política. Mas não desrespeito os políticos. Sou filho de um. Democracia não se faz sem política. Agora, eu prefiro estar próximo dos bons, dos honestos, como Alckmin.

Sua candidatura é vista como jogada para fortalecer Alckmin na corrida presidencial.
Nosso objetivo não é esse, é conquistar a prefeitura para fazer uma boa gestão. Não vejo a simples eleição como fator suficiente para impulsionar a candidatura. Será se eu for um bom gestor.

O sr. defende firmar parcerias com a iniciativa privada na gestão de mercados, parques, cemitérios, Interlagos, Anhembi, Pacaembu e terminais. Algo mais?
Tá bom, né? [risos] O autódromo de Interlagos será privatizado. O Anhembi também. O Pacaembu será concessão por tempo determinado. Os parques serão concessão, sem custo ao usuário. Nos mercados, concessão ou PPP (parceria público privada).

Terminais de ônibus serão PPP. Os cemitérios, provavelmente, concessão.

A população desconfia de parcerias com a iniciativa privada. Teme sair prejudicada.
Por falta de conhecimento. Ao perceber que é melhor para ela... Reduz custo.

O sr. defende parcerias com organizações sociais para reduzir o deficit de vagas em creches. Eleito, não abrirá creches de administração direta?
Não. Nenhuma. A melhor alternativa são as OSs. Vamos multiplicar fazendo creches menores, que funcionarão melhor em espaços menores.

Sua proposta do Corujão da Saúde é questionada. Há disposição na rede privada?
Claro. Obviamente você não terá todos. Einstein e Sírio Libanês, por exemplo. Mas vai funcionar direitinho. São mais de 40 hospitais.

Há a avaliação de que seria desumano fazer as pessoas se deslocarem durante a noite.
Desumano é você ter uma fila de mais de 400 mil pessoas.

Mais de seis meses na fila. Usar a rede privada onde você, das 20h às 8h, para fazer o exame com hora marcada no hospital mais próximo, não há nada de desumano.

O sr. não tem o custo?
O custeio já está previsto no orçamento. Vamos fazer uma melhor gestão.

Quais secretarias extinguiria?
Vamos trabalhar com 20. Quais deixarão de existir, de cabeça, não vou falar, sem olhar, ler direitinho...

O sr. quer mudar a gestão das subprefeituras, hoje indicadas pelos vereadores. Como pretende negociar com a Câmara Municipal?
Nosso apoio não virá de contrapartida.

Sobre velocidade nas marginais, não vale a pena andar devagar para salvar vidas?
A questão não é vida. A questão é obediência à legislação. As marginais são vias expressas. As estradas estaduais tiveram redução de 12,7% nos acidentes em 2015 e não houve redução de velocidade.

Nem o governo do Estado compara esses índices. São viagens de perfis diferentes.
Não vi essa análise. Houve redução do número de automóveis circulando, fruto da recessão. Outra informação: 72% dos acidentes são originários do uso do celular. Não é o excesso de velocidade, é a distração.

Como pretende lidar com a cracolândia?
O Braços Abertos vai acabar. O isolamento em pensões ou hotéis, se é que dá para chamar aquilo de hotel, é ruim. Vamos implementar o Recomeço, do governo do Estado. Ele propõe o internamento de psicodependentes.

Há um processo que pede a reintegração de posse de uma área pública que o sr. ocupou em Campos do Jordão (SP).
Aquilo é uma viela sanitária, não é um prédio público, e não fiz ocupação. Fiz o que a prefeitura determinou e paguei por isso. Não sou invasor. [A viela] É de 400 m², minha propriedade tem 16 mil m². É inexpressivo, mas não importa. Tem de ser correto.

O sr. tem dinheiro. Por que entrar em campanha? Não avaliou haver risco à sua empresa, às suas propriedades?
Avaliei. Tenho vida limpa. Fui escaneado de fio a pavio. Há um prejuízo familiar e empresarial, mas posso suportar. Quero seguir o exemplo do Michael Bloomberg, uma referência. Disputou eleição contrariando todas as expectativas, em NY, e venceu.

Mas é muito comparado a um outro americano, o presidenciável Donald Trump.
Eu agradeço, mas declino.

O sr. não dorme, não fuma, não bebe. Como desestressa?
Nas orações. [risos]

Editoria de Arte/Folhapress
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