Ex-braço direito de Dilma auxilia deputado pró-impeachment em Belo Horizonte
Joel Silva - 11.out.2010/Folhapress | ||
Anderson Dorneles (dir.) ao lado da então presidente Dilma Rousseff, em 2010 |
Anderson Dorneles não tem falado com Dilma Rousseff. Um dos principais assessores da ex-presidente, o gaúcho de 37 anos voltou à política para ajudar um amigo a tentar se eleger prefeito de Belo Horizonte. O inusitado, porém, é que o candidato é Luis Tibé (PT do B), um dos 367 deputados que votaram a favor do impeachment.
Mas "o menino", como Dilma chamou seu ex-braço direito por mais de 20 anos, não precisa prestar contas à ex-chefe desde sua demissão, em fevereiro do ano passado.
Anderson foi exonerado do cargo depois que começou a circular a informação de que era sócio de um bar dentro do estádio Beira-Rio, obra ligada à empreiteira Andrade Gutierrez, investigada pela Lava Jato por suspeita de corrupção em empreendimentos da Copa do Mundo de 2014.
Dilma ficou furiosa e pediu que o ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, hoje seu advogado, buscasse esclarecimentos com Anderson. Sem eles, ordenou que "o menino" deixasse o cargo. E não se falaram mais.
Há alguns meses, Anderson tem se dividido entre Porto Alegre, onde reside, e a capital mineira para prestar uma espécie de "consultoria" a Tibé, que registrou 3% das intenções de voto na última pesquisa Datafolha, bem distante do primeiro colocado, João Leite (PSDB), que aparece com 30%.
Anderson não tem função formal na campanha e diz que, após cumprir a quarentena estipulada pela comissão de ética da Presidência, "ajuda de maneira voluntária" o amigo de "longa data".
"Tibé é meu amigo de anos. Vim ajudá-lo com minha humilde experiência de campanha", disse Anderson à Folha. Ele acompanhou de perto a disputa que reelegeu Dilma, em 2014, e a que levou a petista pela primeira vez ao Palácio do Planalto, em 2010.
Na ocasião, Anderson chegou a voltar a Porto Alegre alegando estresse e lá ficou por duas semanas. Queria pedir demissão, mas foi convencido por outro homem de confiança de Dilma, o também gaúcho Giles Azevedo, a voltar para a base, em Brasília.
Sua função era de assessor pessoal: portava o iPhone e o iPad presidenciais. Recebia —e lia— os e-mails de Dilma e atendia e repassava ligações.
Apesar dos contornos de relação de mãe e filho que estabeleceu com a ex-presidente, Anderson era um dos que mais sofriam com os ataques de fúria da petista, sempre que contrariada.
Em uma das inúmeras vezes em que tentou pedir demissão e voltar para Porto Alegre, Anderson queria um emprego na Gerdau. A tentativa foi abortada pela própria Dilma, que ligou para o empresário e pediu que não contratasse o assessor.
Questionado sobre o candidato que hoje detém seu apoio ter votado a favor do impeachment, Anderson prefere não entrar em detalhes. "Ajudo pela minha relação pessoal com ele [Tibé], não por relação política".