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Partidos opostos no impeachment se coligam no interior de São Paulo

Pedro Ladeira/Folhapress
BRASILIA, DF, BRASIL, 29-08-2016, 19h00: A presidente afastada Dilma Rousseff, na foto conversando com o presidente do PSDB senador Aecio Neves (PSDB-MG), faz sua defesa ne sessão para votação do julgamento final do processo de impeachment, no plenário do senado. O presidente do STF Ministro Ricardo Lewandowski preside a sessão. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER)
O senador Aécio Neves (PSDB) conversa com a ex-presidente Dilma Rousseff em sessão de julgamento do impeachment no Senado

Amigos, amigos, negócios à parte. Essa parece ser a lógica de algumas das coligações que se formaram no Estado de São Paulo para disputar as eleições de 2016.

Em lados opostos no impeachment de Dilma Rousseff, partidos como PT e PMDB ou PSOL e PRB se uniram em chapas para prefeitos e vereadores, principalmente em cidades pequenas.

Segundo levantamento feito pela Folha com dados do repositório eleitoral do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), PT e PMDB, partidos opostos na esfera nacional fazem, na municipal, 178 parcerias. Em dez cidades, como Aparecida e Itaí, formam sozinhos a coligação.

"Os temas nacionais não têm tanta relevância nas cidades pequenas", diz Fernando Azevedo, cientista político da Universidade Federal de São Carlos.

Ou seja, mesmo se no processo de impeachment da petista Dilma Rousseff os votos dos dois partidos tenham sido discrepantes —no PMDB de Michel Temer, 59 deputados votaram a favor da abertura do processo e apenas sete contra; no PT, todos os 60 deputados, contra— nas disputas municipais, isso não é impedimento.

"Isso porque nas pequenas cidades, o partido termina sendo mais um veículo para a candidatura, a política gravita em torno de pessoas, não é partidária", afirma Azevedo.

Em Adolfo, cidade de cerca de 3.000 habitantes da região metropolitana de São José do Rio Preto, no noroeste de São Paulo, por exemplo, PT e PSDB se uniram em uma coligação "pura" para tentar eleger 19 candidatos à vereança.

Historicamente opostos, por exemplo, os partidos uniram forças em 61 municípios, como Adamantina (34 mil habitantes) ou Planalto (4.000 habitantes), ainda que combinados também a outros partidos, como o Solidariedade, o PTB e o PP.

"Essa decisão é da executiva municipal, às vezes só ficamos sabendo depois", afirma Pedro Tobias, presidente do diretório paulista do PSDB. Como Azevedo, o deputado estadual afirma que as questões nacionais não pautam a escolha partidária nos municípios menores.

"Se não tem espaço em um partido, ele vai para o outro, não escolhe porque tem uma afinidade com as questões nacionais. Eles não entendem nada de política nacional", afirma ele, que, no entanto, diz haver uma orientação para não formar coligações com o PT. "Se tem, foi por debaixo do pano", diz.

NEGÓCIOS À PARTE - Número de coligações formadas por partidos contra e a favor do impeachment

MORALIZAÇÃO

Em reportagem publicada em julho pela Folha, Emídio de Souza, presidente estadual petista afirmou que a os temas nacionais pautariam as campanhas interioranas, e avisou: "é claro que não apoiaremos quem apoiou o golpe".

Não é, no entanto, o que acontece em cidades como Piquerobi, próxima a Presidente Prudente, no oeste do Estado. Na cidade de menos de 4.000 habitantes, o candidato a prefeito apoiado pelo PT é Valdir Lopes, do PMDB, em coligação composta ainda por DEM e PV —os dois fecharam questão a favor da abertura do processo contra Dilma na Câmara.

Já em Lorena, de 82 mil habitantes, o tucano Fábio Marcondes disputa a prefeitura pela coligação "Moralização e Progresso", que inclui PT, PMDB, PPS, PC do B, DEM, PR, PSD e SD.

A reportagem tentou entrar em contato com o presidente do diretório petista, mas não obteve resposta. Também foi procurado o deputado Baleia Rossi, presidente do diretório estadual do PMDB paulista.

OUTROS PARTIDOS

O partido de Dilma não é o único a se coligar, no interior paulista, com adversários da esfera nacional. O PC do B, cuja bancada de deputados votou contra o impeachment da então presidente, aparece segundo o levantamento, junto apenas com o DEM 78 vezes, tentando eleger 1060 candidatos.

Os comunistas também se coligaram com o evangélico PRB em municípios grandes, como Osasco, na Grande São Paulo, de 666 mil habitantes e mais de 500 mil eleitores segundo o site do TSE.

O PSC de Marco Feliciano e Jair Bolsonaro, por exemplo, fez alianças com o PSOL de Jean Wyllys e Luiza Erundina em três municípios —Duartina, São Sebastião da Grama e Pitangueiras. Já em Avaré, a legenda de esquerda se coligou com o PRB, que tenta eleger Celso Russomanno, adversário de Erundina em São Paulo.

O PSOL afirma que veda a coligação com esses partidos e diz que, nos locais em que ocorreram, o partido entrou com "ações junto aos TREs para desfazer as que foram feitas com partidos da direita tradicional". Segundo eles, porém, os sistemas que listam as coligações "não são atualizados na velocidade que gostaríamos".

Segundo Azevedo, as combinações "exóticas" dificilmente aconteceriam em grandes centros, como São Paulo. "No plano nacional há uma polarização clara desde 2014, com a reeleição de Dilma", afirma o cientista político.

"Se nos pequenos municípios não é tão aparente, porque os problemas são mais locais, nas grandes cidades a questão do país aparece, e, embora não entre nas agendas de campanha, pelo menos norteia a formação das coligações", diz.

Colaborou ANDRÉ MONTEIRO

número de CANDIDATOS - Postulantes a prefeito e a vereador das coligações

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