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Grupos se mobilizam para mudar perfil das Câmaras Municipais

Rafael Andrade - 12.nov.2010/Folhapress
Estudantes com cartazes e nariz de palhaço protestam em frente à Câmara do Rio
Estudantes com cartazes e nariz de palhaço protestam em frente à Câmara do Rio

Plataforma de match político, bancada, vitrine digital, selo de qualidade, mapa. Nestas eleições, são várias as iniciativas de grupos da sociedade civil para mudar o perfil das Câmaras Municipais e chamar a atenção para o Legislativo nas cidades.

Em comum, têm o fato de serem suprapartidárias.

Há exemplos conservadores, mas a maior parte se concentra em temas associados à chamada "agenda progressista".

Foi aberta para eleitores na última terça (20) a plataforma digital Me Representa, uma espécie de Tinder político, criada em conjunto pelas campanhas #VoteLGBT, #AgoraéQueSãoElas, que tem blog na Folha, a Rede Feminista de Juristas, a Rede Nossas Cidades, a ONG CFEMEA e o grupo LGBT Brasil.

A ideia é ajudar o eleitor a encontrar candidatos com propostas voltadas para os direitos humanos.

"Somos parte de um grupo muito subrepresentado. Queremos tentar ter um Legislativo com a nossa cara, que pense parecido conosco", diz Manoela Miklos, do #AgoraÉQueSãoElas.

A plataforma funciona assim: de um lado, candidatos preenchem um questionário com perguntas sobre assuntos ligados a causas feministas, LGBT e de uso da cidade.

Do outro, eleitores respondem ao mesmo questionário e, em seguida, um software cruza os dados e oferece uma seleção de candidatos que dizem ter as mesmas visões.

Ainda que as questões levantadas não sejam da competência dos vereadores, para as criadoras importa saber as posições dos candidatos a respeito desses temas, já que as opiniões deveriam condicionar seu pensamento em relação a projetos na Câmara.

"Há uma imprevisibilidade em antecipar todos os projetos de lei que vão passar pela mesa do vereador, mas se eu souber o que pensam sobre direitos humanos, igualdade, justiça, posso fazer uma escolha mais segura", afirma Miklos.

Os partidos mais representados são aqueles ligados à esquerda, como o PSOL, mas também há candidatos de PSDB, Novo e DEM.

Os objetivos das criadoras do Me Representa têm muito em comum com os de fundadores de outras plataformas, como Vereadores Que Queremos, uma vitrine digital criada para destacar candidatos que dizem ter compromisso com a agenda progressista.

A plataforma tem cerca 80 vereadores de 35 cidades. Entre os partidos, há candidatos do PSOL, PT, PC do B, PSB, PCB, Rede e PDT.

"As Câmaras Municipais são os lugares mais próximos dos cidadãos e cidadãs, por isso é fundamental evidenciar novos protagonistas que têm compromisso com a participação popular", disse o grupo, por e-mail.

Outra iniciativa, esta atuante em São Paulo, é a Bancada Ativista, movimento que apoia nove candidatos a vereador –seis novatos na política. Atualmente, reúne candidatos da Rede e do PSOL.

A Bancada requer engajamento com direitos humanos, diminuição da desigualdade social e defesa do Estado Democrático de Direito.

Porém essas iniciativas não propõem, até o momento, formas de monitorar os vereadores após as eleições.

Pensando nessa segunda etapa, a ONU Mulheres desenvolveu a plataforma Cidade 50-50, que é mais voltada para o Executivo, mas também contempla o Legislativo.

Candidatos nos 5.568 municípios poderão se cadastrar e assumir compromissos com a promoção dos direitos das mulheres. Após as eleições, a ONU pretende monitorar o cumprimento desses compromissos.

NA DIREITA

No outro espectro político, há o Mapa da Direita, que catalogou e mapeou, por Estado, 132 nomes de candidatos a vereador e prefeito com visões autodeclaradas de direita. Os integrantes estão em 76 cidades de 21 Estados, distribuídos em 26 legendas, como PSC, PRTB, DEM e PSDB.

O MBL (Movimento Brasil Livre), que se notabilizou ao liderar manifestações pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), também usa as redes sociais para dar destaque aos seus candidatos.

O movimento pretende levar às urnas mais de 200 candidatos em 15 Estados do Brasil. Eles estão pulverizados em diversas siglas de oposição ao PT e, caso eleitos, formarão uma bancada liberal suprapartidária.

Todos essas iniciativas pretendem participar da campanha apoiando a comunicação e a divulgação de seus candidatos, mas não querem se envolver de maneira direta na busca por financiamento. As novas regras eleitorais determinam que doações só podem ser feitas por pessoas físicas.

Para o vice-coordenador do curso de Administração Pública e do Departamento de Fundamentos Sociais e Jurídicos, ambos da FGV (Fundação Getulio Vargas), professor Marco Antonio Teixeira, a existência dessas iniciativas sinaliza uma busca por conexão mais próxima entre representantes e representados.

"É uma resposta à crise de representação pela qual passa o país", diz.

Para ele, os projetos também apontam para a perda de credibilidade de partidos. "Essas iniciativas não viram as costas para a política, mas indicam pouca fé nos partidos."

"A grande dúvida é se conseguirão, de fato, romper com a forma tradicional de fazer política e eleger candidatos, mas isso aponta para uma mudança no cenário político a médio e longo prazo."

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