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Candidatos ricos substituem empreiteiras e bancos como financiadores de campanha

Eduardo Knapp/Folhapress
Sao Paulo, SP, BRASIL, 19-09-2016: ***Para Edicao da FOLHA de quarta feira 21.9*** Entrevista exclusiva para a FOLHA com o candidato a Prefeituta de Sao Paulo, o empresaio Joao Doria (PSDB) no comite do partido da Av Europa (Foto: Eduardo Knapp/Folhapress, TREINAMENTO).
O candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, João Doria, é o segundo maior doador de campanhas do país

A corrida eleitoral brasileira tem novos patrocinadores. Hoje, candidatos ricos são os campeões em doações eleitorais pelo país, segundo um levantamento feito pela Folha com base em dados entregues pelas campanhas ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Donos de considerável patrimônio, eles são até aqui os grandes novos financiadores das eleições, em substituição a empreiteiras, bancos e frigoríficos –que, quatro anos atrás, lideravam esse ranking.

O levantamento considerou doações financeiras feitas até a última quinta-feira (22) e não levou em conta recursos do fundo partidário repassados às candidaturas.

Com a mudança na lei, empresas não podem mais doar a candidatos. Agora, cabe aos partidos e a pessoas físicas o financiamento de campanha. Um eleitor comum pode doar até 10% de sua renda, mas candidatos estão submetidos a outra regra, o que eleva sua importância no papel de financiadores: podem gastar até 50% de todo o patrimônio na própria campanha.

Dessa forma, podem financiar suas candidaturas e ainda ajudar a custear as de vereadores e de aliados.

O campeão de doações para si próprio é o empresário Vittorio Medioli. Dono de empresas de transportes, usinas e dois jornais, ele é candidato a prefeito de Betim, polo industrial em MG, pelo PHS.

Medioli já investiu R$ 3 milhões na campanha –nem 1% de seu patrimônio declarado, de R$ 352 milhões. Desse total, porém, R$ 1,3 milhão foi repassado, em cheques, para diretórios de dez partidos aliados, que custearam campanhas de vereador.

Os R$ 3 milhões representam 3,7% do valor que foi repassado pelo maior doador eleitoral de 2012, a empreiteira Andrade Gutierrez –que repassou, em toda a campanha daquele ano, R$ 81,7 milhões a partidos, comitês e candidatos pelo país.

Em Barueri, o empresário e ex-prefeito Rubens Furlan (PSDB), que tenta o quinto mandato, adotou estratégia semelhante à de Medioli. Doou R$ 1,5 milhão para a própria campanha, quase 25% de seu patrimônio declarado.
Com o dinheiro, ajudou a bancar materiais para 392 candidatos a vereador, de 19 partidos (ao todo, 23 siglas integram sua coligação).

Os candidatos afirmam que a dificuldade em arrecadar fez com que tivessem que tirar recursos do próprio bolso. Foi o caso de Rodrigo Pacheco (PMDB), que doou R$ 2,2 milhões para sua campanha à Prefeitura de Belo Horizonte.

"Tive que usar meu dinheiro para não deixar os fornecedores sem pagamento. Mas faço isso com tranquilidade, porque sempre fui cumpridor de meus compromissos", afirma o candidato, que até agora bancou 72% da arrecadação da própria campanha.

Assim como ele, o empresário João Doria (PSDB), candidato a prefeito de São Paulo, doou R$ 2,4 milhões para a própria campanha, tornando-se o segundo maior doador nacionalmente. O valor é equivalente a pouco mais da metade do que ele arrecadou.

Para o cientista político Emerson Cervi, professor da UFPR, as novas regras de financiamento mantiveram a desigualdade de condições na disputa eleitoral. "De um lado, os ricos continuam a bancar suas campanhas. Do outro, candidatos sem dinheiro perderam a possibilidade de receber das empresas."

Doações do próprio bolso

FORA DAS URNAS

Dos 20 maiores doadores da campanha deste ano até aqui, só seis são empresários que doaram como pessoa física, sem serem eles mesmos candidatos. Há dois empresários do setor calçadista, um do ramo imobiliário, um empreiteiro, um dono de supermercados e uma pecuarista.

Entre os doadores que não disputam eleições, o que mais repassou recursos é Alexandre Grendene, da indústria de calçados que leva seu sobrenome, com R$ 2,4 milhões.

Deste total, R$ 1 milhão foi repassado à campanha de Ivo Gomes (PDT), irmão dos ex-governadores do Ceará Cid e Ciro Gomes, para a Prefeitura de Sobral (CE). O limite de gastos de campanha na cidade, que abriga uma fábrica da Grendene, é de R$ 1,4 milhão.

O irmão do empresário, Pedro Grendene, também doou R$ 1,3 milhão, contemplando os diretórios do PP e PT.

"Estamos no Ceará há mais de 25 anos e ajudamos nas campanhas em várias eleições. Não tinha porque agora ser diferente, já que sempre jogamos limpo", disse à Folha Gelson Luis Rostirolla, vice-presidente da Grendene.

Segundo ele, a maior doação da empresa foi direcionada para a campanha de Ivo Gomes "pelos mais de 20 anos de amizade" entre as famílias Gomes e Grendene.

Também está entre os principais doadores que não são candidatos um político, o deputado federal João Gualberto (PSDB-BA). Dono da rede de supermercados Hiperideal, ele distribuiu até aqui R$ 841 mil entre 46 candidatos em 32 cidades baianas.

"Na minha caminhada na política, conheci pessoas sérias que se empenharam pela minha eleição. [A doação] é uma maneira que tenho de ajudá-los, sem pedir nada em troca", afirma o tucano.

Doações em 2012

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