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Berço do PT, São Bernardo do Campo tem disputa entre antipetistas

Reprodução/Facebook - Divulgação
O candidato Alex Manente (PHS), à esquerda, e seu rival, Orlando Morando, à direita, em campanha em São Bernardo
O candidato Alex Manente (PHS), à esquerda, e seu rival, Orlando Morando, à direita, em campanha em São Bernardo

Luiz Inácio Lula da Silva não tem em quem votar no segundo turno em São Bernardo do Campo. A cidade, berço do movimento sindicalista que consagrou o ex-presidente e deu origem ao PT, não escolheu Tarcisio Secoli, candidato do atual prefeito petista Luiz Marinho.

Na disputa, seguem o deputado estadual Orlando Morando, 42, tucano que surfa na onda do antipetismo, e o deputado federal Alex Manente, 37, do PPS e que votou pelo impeachment de Dilma Rousseff.

No carro de som no bairro Rudge Ramos, Morando prega ser a verdadeira oposição ao PT –chama o adversário de "genérico". "É a certeza de tirar o PT do poder. Eu sou o único que nunca esteve do lado do PT", discursa.

O tucano explora o fato de Manente ter apoiado Marinho no segundo turno em 2008. O prefeito petista venceu Morando com 58% dos votos. Manente ficou em terceiro, com 12% dos votos.

O candidato do PPS diz não se arrepender da escolha à época, lembrando que neste ano votou pelo impeachment. "O segundo turno era continuar com o passado negro ou uma mudança, representada pela candidatura do Marinho", diz. Entre 1996 e 2008, a cidade foi governada por Maurício Soares e seu vice, Dr. Dib, que passaram pelo PSB e PSDB.

Manente, por sua vez, acusa Morando de ter feito acordo com o PT e "fugido" na eleição de 2012, quando decidiu não sair candidato contra Marinho, que foi reeleito no primeiro turno. O PSDB acabou apoiando Manente naquele ano.

No bairro periférico do Taboão, na divisa com Diadema, Manente também tenta colar o PT ao adversário. "Ele se aliou aos comunistas que apoiaram o governo Dilma e o PT. Essa é a verdadeira face de Orlando Morando", discursam apoiadores no carro de som.

Na última terça (4), Morando recebeu o apoio do PC do B, partido aliado do PT na chapa de Tarcisio. O candidato posou para foto ao lado de seu xará, o ex-ministro de Lula e Dilma Orlando Silva.

"O PC do B é mais um partido. Estamos fazendo aliança para obter maioria, governabilidade", diz Morando. "Nosso plano de governo está montado e não tem alinhamento ideológico com o PC do B. Eles romperam porque também não querem andar com o PT."

Para a campanha de Manente, o apoio do PC do B, que é "mais petista que o PT", "pegou mal" para Orlando. "Não faremos acordo com partido político para oferecer secretaria", discursa Manente. "É o que a sociedade não aguenta mais."

SEM MUSEU

Ao anunciar apoio ao PSDB, o presidente municipal do PC do B, Jorge Costa Oliveira, gravou um vídeo ao lado de Morando afirmando que a decisão do partido contrariou a vontade do prefeito petista, que prefere Manente.

O candidato do PPS reagiu e chamou uma coletiva de imprensa na quarta (5) para esclarecer que não tem o apoio do PT. "O PC do B está apoiando o Orlando [Morando], ele fala que o PT me apoia e isso vira uma verdade? Não pode", diz Manente.

Procurado pela Folha, o presidente do PT em São Bernardo do Campo, Brás Marinho, afirmou que o partido se manterá neutro no segundo turno, mas que os dirigentes e militantes têm liberdade para agirem conforme sua preferência desde que não apoiem o PSDB.

"Reforçamos que nosso maior adversário na política é o 45 [número do PSDB]", disse. "O Alex [Manente] tem dito que vai continuar as obras do prefeito Marinho ao contrário do outro. Nesse sentido, estamos liberando nossos dirigentes para ficar à vontade desde que não seja 45."

O dirigente petista afirmou ainda que o partido lamenta a derrota em seu reduto histórico, mas que respeita a decisão do povo. "Perdemos a batalha, mas não perdemos a guerra. Estamos de pé e vamos para frente, não tem espaço para choro", disse Brás.

Ele enumerou os parlamentares petistas de São Bernardo –cinco vereadores, três deputados estaduais e um federal– e concluiu: "estamos mais vivos do que nunca".

Enquanto empurram o PT um para o outro, Morando e Manente disputam os 22,6% de votos de Tarcisio. Já anunciaram, porém, que não darão continuidade à construção do Museu do Trabalhador, sobre as greves na cidade e a trajetória de Lula. Ambos querem outra proposta cultural para o local.

Para Morando, o antipetismo em São Bernardo se deve às denúncias de corrupção e à crise econômica acentuada na cidade, sede de montadoras e onde o desemprego chegou a 17,2% em agosto, segundo o Dieese. No trimestre encerrado naquele mês, o IBGE indicou que o índice no país foi de 11,8%.

"A lei não permite, mas eu ia registrar em cartório que eu não quero ser eleito nem com o voto do Lula nem do Luiz Marinho", afirma Morando.

O clima anti-PT se sente na rua. Ao fazer anotações durante a caminhada do tucano em Rudge Ramos, uma apoiadora questionou a reportagem da Folha. "Pensei que era do PT", disse.

FEBRE JOÃO DORIA

Os candidatos investem na campanha de rua, já que São Bernardo, sem sinal de TV próprio, retransmite o horário eleitoral e os telejornais de São Paulo.

Para a campanha de Manente, foi um alívio a vitória de João Doria (PSDB) no primeiro turno na capital paulista e o fim da sua propaganda na TV.

O efeito Doria impulsionou outros candidatos tucanos na região. Em Santo André, por exemplo, Paulo Serra (PSDB) terminou à frente de Carlos Grana (PT).

"[Geraldo] Alckmin, João Doria, Orlando Morando é um time só. O time do bem", diz o candidato tucano no carro de som.

Morando repete agora o mote de Doria: "sou empresário, sou gestor". "Eu sou empresário, sei as dificuldades que passa o empresário na cidade. São Bernardo não quer mais politiqueiro, a cidade precisa de um gestor público."

Ao contrário de Doria, porém, Morando não pode dizer que não é político. Disputou o cargo de vereador com 18 anos e, aos 28, foi eleito deputado estadual pela primeira vez. Hoje está no quarto mandato na Assembleia de São Paulo. É filho de comerciante e trabalhou nos supermercados do pai na cidade.

Manente elegeu-se vereador aos 25. Foi deputado estadual por dois mandatos e, em 2014, tornou-se deputado federal. Na Câmara, foi um dos membro da comissão do impeachment. É filho de Otávio Manente, ex-vereador e ex-secretário de São Bernardo.

De perfis parecidos, jovens e com alguma pinta de galã, Morando e Manente combinam nos seus jingles "o voto na mudança" e "o candidato preparado".

Na quinta (6), ambos vestiam camisa azul, calça jeans e sapato social. Um pela manhã e outro à tarde, discursaram no carro de som, mas tiveram o passeio interrompido pela chuva.

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