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Aécio e candidatos em Belo Horizonte votarão em colégio ocupado por estudantes

Reynaldo Turollo Jr./Folhapress
Belo Horizonte, MG - Ocupação de estudantes no Colégio Estadual Central, um dos mais tradicionais de Belo Horizonte, contra reformas do governo Temer; Aécio votará no domingo (30) no local ocupado ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Estudantes reunidos no Colégio Estadual Central, em Belo Horizonte, onde há ocupação e aonde políticos irão votar

Sob cartazes de "Fora, Temer" e com críticas às reformas do governo federal, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e os dois candidatos à Prefeitura de Belo Horizonte, João Leite (PSDB) e Alexandre Kalil (PHS), deverão votar neste domingo (30) em uma escola ocupada por estudantes.

O Colégio Estadual Central (oficialmente Escola Estadual Governador Milton Campos), um dos mais tradicionais da capital mineira, é um dos sete de Belo Horizonte onde estudantes acampam desde o início do mês contra a medida provisória do presidente Michel Temer que reforma o ensino médio.

Preocupado com a votação, o TRE (Tribunal Regional Eleitoral) de Minas fez um acordo na quarta (26) com representantes dos alunos e da Secretaria Estadual da Educação para uma convivência pacífica no segundo turno.

"Nas escolas ocupadas, haverá a delimitação do local de mobilização dos estudantes no sábado e no domingo do segundo turno, de forma a não atrapalhar o fluxo dos eleitores", informou o tribunal em nota.

O Estadual Central é o caso mais emblemático. Símbolo de resistência durante a ditadura militar e localizado numa área nobre da cidade, é ponto de votação de muitos políticos —além de Aécio e dos candidatos Leite e Kalil, votam ali o prefeito Marcio Lacerda (PSB), vereadores e deputados.

Também estudaram no colégio a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e seu correligionário, o governador mineiro Fernando Pimentel, o ex-governador tucano Eduardo Azeredo e expoentes do mundo artístico como o cartunista Henfil (1944-1988) e o escritor Fernando Sabino (1923-2004).

Hoje, debaixo de uma rampa característica do traçado do arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012), que projetou o prédio inaugurado em 1956, se espalham algumas dezenas de barracas onde têm dormido de 30 a 60 alunos, nos cálculos do movimento e da direção da escola.

"A gente optou por não atrapalhar as aulas, por isso estamos em barracas [e não em salas]", disse Carolina Dias, 17, aluna do 3° ano do ensino médio. A informação foi confirmada pela vice-diretora, Roseany Michelini Lopes, que disse que as atividades correm normalmente.

Sobre a convivência com a eleição deste domingo, Carolina afirmou que os alunos se comprometeram a respeitar o espaço destinado a eles e vão tentar "segurar os ânimos" para não pôr em risco o movimento de ocupação, que eles querem que continue.

"A gente quer que isto resista, além de poder gritar 'golpista' para Aécio", disse. Vão gritar? "Dentro da escola, não, mas lá fora..."

Laura Lemos, 15, do 1° ano e diretora do grêmio estudantil, disse que o compromisso dos jovens é não se intrometer nas questões político-partidárias da eleição municipal em si.

"Porém, a gente continua contra a PEC [do teto de gastos, aprovada pela Câmara nesta semana] e contra a MP [medida provisória que reforma o ensino médio], e isso a gente vai continuar deixando bem claro", afirmou.

Ela não quis adiantar se haverá protesto na eleição, mas disse que os alunos são contrários aos políticos do grupo de Aécio, hoje aliados do presidente Temer, que patrocina as mudanças contra as quais os jovens dizem resistir.

A MP do ensino médio, entre outras coisas, prevê que o aluno se especialize em uma das cinco grandes áreas que serão criadas (linguagens, matemática, ciências humanas, ciências da natureza e formação profissionalizante).

Os estudantes, porém, dizem acreditar que boa parte das escolas não terá condições de ofertar essas cinco opções, principalmente no interior do Estado, limitando o aprendizado e frustrando as expectativas dos alunos.

O texto também causou polêmica ao tirar a obrigatoriedade de disciplinas como artes, educação física, sociologia e filosofia. Segundo o Ministério da Educação, as mudanças foram estudadas por especialistas ao longo de anos e deverão tornar o ensino médio mais atrativo.

DIA A DIA

O Estadual Central foi ocupado no último dia 6, após uma assembleia de alunos, incentivados por entidades nacionais como a Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) e a UNE (União Nacional dos Estudantes), que são ligadas a grupos e partidos de esquerda.

Já na primeira noite, segundo Carolina, chegaram doações de alimentos de sindicatos, movimentos sociais e professores, "alguns até de Contagem", na região metropolitana.

Os manifestantes fazem duas assembleias diárias, de manhã e à noite, e dividiram-se em quatro grupos de trabalho para tentar manter o espaço em ordem (limpeza, comunicação, programação e segurança).

Segundo a vice-diretora, a escola tem cerca de 1.900 alunos matriculados. Muitos dos que não participam do movimento se queixam da limpeza dos banheiros, de ver roupas no varal ou colegas de pijama em pleno pátio.

"Eu diria que o movimento tem apoio de quase metade dos estudantes", disse Roseany. "Nós [da direção] somos neutros. Estamos fazendo tudo, dentro do possível, para ajudar."

A escola disponibilizou à ocupação uma sala e a cantina.

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