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Durante campanha no Rio, Freixo foi acusado de não querer ganhar

Marlene Bergamo /Folhapress
RIO DE JANEIRO - ELEIÇOES - PODER - O candidato a prefeito do Rio de Janeiro pelo PSOL, Marcelo Freixo, durante comício nos arcos da Lapa. 26/10/2016 - Foto - Marlene Bergamo/Folhapress - 017
O candidato a prefeito do Rio de Janeiro pelo PSOL, Marcelo Freixo, durante comício em outubro na Lapa

Já havia três anos que Marcelo Freixo, à época estudante de história, era voluntário do grupo de alfabetização de detentos no presídio Edgar Costa, em Niterói.

A 2ª Semana de Cultura do presídio, em 1991, acontecia pela primeira vez com a participação de representantes da Justiça, Defensoria Pública e governo do Estado.

O objetivo era que os debates ajudassem a reverter uma portaria recém-editada que restringia as saídas dos detentos em regime semiaberto. Apesar dos dois dias de encontro, a meta de Freixo e seu grupo não foi alcançada. Ainda assim, o evento foi visto como uma vitória.

"Foi um marco porque as pessoas discutem as questões do apenado fora das instituições penais. Mas discutir isso com a participação dos apenados foi algo novo", disse a socióloga Regina Brasil, coordenadora de Freixo na seção de educação do presídio.

Ponto de vista semelhante tem sido usado por Freixo, 49, ao longo desta campanha, na qual manteve-se atrás do senador Marcelo Crivella (PRB) nas pesquisas de intenção de voto no segundo turno.

"Esta já é uma das campanhas mais bonitas do Rio", costuma repetir o deputado às audiências de seus comícios. "Despertamos nos jovens o interesse na política."

Datafolha 2º Turno Rio de Janeiro

A satisfação com a campanha como um fim em si mesmo rendeu-lhe no meio político uma acusação curiosa: "Freixo não quer ganhar".

"É engraçado. Isso surge quando, no debate da Band [primeiro do segundo turno], a gente discute propostas", disse o candidato do PSOL.

Após a primeira semana do segundo turno, Freixo passou a "mostrar que quer ganhar". Contratou um jornalista, um redator e um roteirista da equipe do marqueteiro Renato Pereira –que trabalhou com Pedro Paulo (PMDB) no primeiro turno– para ajudar a campanha.

O grupo orientou ataques a Crivella na TV, tirou imagem de comícios dos programas para afastar a imagem de esquerdista e tornou o candidato mais agressivo. Repetia a estratégia que levara à vitória o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) em 2014.

"Eles vieram para ajudar, mas não mudamos nenhuma característica nossa", disse.

O professor que buscava pontes na Assembleia com deputados conservadores agora destaca diferenças com o bispo licenciado da Universal.

"Não falta ataque honesto ao Crivella", disse, ressaltando o "honesto".

ORIGEM

Filho de funcionários de uma escola pública, Freixo passou a infância em Niterói. A primeira vez que entrou num presídio foi para jogar futebol. O único campo disponível para peladas no bairro do Fonseca era o da cadeia.

Voltaria ao presídio aos 21, como estagiário do programa de alfabetização de presos.

Deixou o trabalho voluntário para dar aula em escolas e cursinhos para sustentar o primeiro filho, João, que nasceu quando ele tinha 24 anos.

Freixo retornou aos presídios em 2000 como presidente do Conselho da Comunidade, órgão vinculado à Justiça. Foi quando passou a participar de negociações para o fim de rebeliões nos presídios.

Sua primeira vitória eleitoral foi uma vaga na Assembleia Legislativa em 2006. Ele recebeu 13.547 votos nominais –foi eleito graças aos votos nas legendas de PSTU, PCB e PSOL, coligados.

O primeiro a se aproximar de Freixo na Alerj foi o deputado Wagner Montes (PSD), apresentador do programa policial "Balanço Geral".

"O diálogo sempre foi franco, um ouvindo o outro com respeito. Ele é uma pessoa sensível, que sabe ouvir", disse Montes, que apoia Crivella.

O sucesso do deputado na CPI das Milícias –que inspirou o personagem Diogo Fraga em "Tropa de Elite 2"– o tornou o segundo mais votado em 2010, com 177 mil votos. Quatro anos depois, foi o deputado estadual mais votado do país, com 350 mil votos.

Em 2012, disputou a Prefeitura do Rio contra Eduardo Paes (PMDB). Por orientação da equipe, usou terno e gravatas vermelhas nos debates.

"Nunca fui uma pessoa formal, mas nos debates tinha uma coisa... Era meio contrariado com aquilo", disse ele, que abandonou a gravata.

Obteve 914 mil votos, 28% dos válidos naquela eleição. Superar a marca é um dos objetivos. Além de, claro, vencer. Mas isso ele crê já ter conseguido. "Não há nenhuma hipótese de sairmos derrotados. Chegamos ao segundo turno, como podemos sair derrotados?", afirmou.

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