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Dilma 100 Dias
 
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29/09/2011 - 07h00

Leia a transcrição da entrevista de Gilberto Kassab à Folha e ao UOL

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FÁBIO BRANDT
DE BRASÍLIA

O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), participou do programa "Poder e Política - Entrevista" conduzido pelo jornalista Fernando Rodrigues no estúdio do Grupo Folha em Brasília, gravado na quarta-feira (28). O projeto é uma parceria do UOL e da Folha.

PSD e Kassab cogitam apoio a Dilma em 2014
Veja fotos da gravação da entrevista

Leia a transcrição da entrevista e assista ao vídeo:

Gilberto Kassab - 28/9/2011

Narração de abertura: O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, tem 51 anos. É formado em engenharia e em economia pela Universidade de São Paulo.

Kassab é o responsável pela criação do mais novo partido político brasileiro, o PSD, Partido Social Democrático. Mas antes disso já foi filiado ao PL, que hoje é o PR; e também ao PFL, atual Democratas.

Gilberto Kassab foi vereador, deputado estadual e federal. Chegou à Prefeitura de São Paulo como vice de José Serra, do PSDB. Tornou-se prefeito em 2006 quando Serra deixou o cargo para disputar o governo do Estado. Em 2008, Kassab se reelegeu.

Folha/UOL: Olá internauta. Bem-vindo ao "Poder e Política Entrevista".

O programa é uma parceria do jornal Folha de S.Paulo, da Folha.com e do UOL. A gravação é realizada no estúdio do Grupo Folha em Brasília.

O entrevistado deste programa é o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab.

Folha/UOL: Prefeito, muito obrigado por sua presença. Eu começo perguntando: o Brasil precisava ter o 28º partido político, o PSD [Partido Social Democrático, do qual Kassab é o presidente nacional]?

Gilberto Kassab: Olá Fernando, olá internauta. Precisava. Tanto é que precisava que em seis meses surge um partido. Um partido que teve mais de meio milhão de pessoas o apoiando por todo o país. Um partido que nasce com aproximadamente 50 deputados federais, dois senadores, dois governadores, seis vice-governadores, centenas de prefeitos, milhares de vereadores. É um partido que... Tinha um espaço para ser ocupado. Ocupou o espaço que estava evidentemente à disposição de uma ideia, um grupo. Portanto eu estou muito tranquilo em relação à necessidade que o país tinha de um novo partido.

Folha/UOL: Embora o TSE tenha dado o registro definitivo, durante o processo houve muitas acusações de que algumas assinaturas foram fraudadas no apoio. Isso foi eliminado pelo TSE. Mas, essas assinaturas, como é que apareceram lá?

Gilberto Kassab: Isso foi eliminado pelo TSE, Fernando, e por todos os tribunais eleitorais. Porque o registro do partido em todos os Estados foi deferido por unanimidade. E ontem, no TSE, foi quase unanimidade: seis a um. É evidente... nós não vamos polemizar. Mas só falta alguém achar que um partido que foi adquirindo essa dimensão iria, com assinatura falsa, procurar obter o seu registro. Eu não quero polemizar, mas teve muita fofoca, muita maldade, muita jogadinha política. Mas a Justiça Eleitoral ela mostrou ser muito competente, muito eficiente e, agora, depois da decisão de ontem, homologou o partido, que é definitivo.

Folha/UOL: O PSD vai ser intolerante com a corrupção e como?

Gilberto Kassab: Um partido, eu dizia agora há pouco a um grupo de jornalistas, que um partido ele não nasce com as suas propostas. Um partido nasce com a sua conduta. A partir de agora o que existe é uma expectativa da sociedade brasileira em relação à nossa conduta, dos nossos parlamentares no Congresso, nas câmaras municipais, da ação do partido frente a irregularidades, internas e externas. Portanto, a partir de agora, existem os holofotes em relação ao PSD e eu espero junto com todos os companheiros mostrar as razões do nosso nascimento.

Folha/UOL: Recentemente, aqui em Brasília, o Congresso absolveu uma deputada que era alvo de um processo de cassação, Jaqueline Roriz [do PMN-DF, suspeita de envolvimento com o mensalão do DEM]. Ela havia cometido um crime, havia provas, antes do exercício do mandato. Mas o fato se tornou conhecido só durante o mandato. Como teria votado o PSD nesse caso?

Gilberto Kassab: Eu não diferencio os crimes, sejam eles antes, durante ou depois. Crime é crime.

Folha/UOL: Nesse caso o Congresso foi um pouco leniente com essa deputada?

Gilberto Kassab: Não. Seria uma ousadia eu aqui falar que o Congresso foi leniente. Até porque cada deputado, ao votar, ele assume, carrega o peso desse voto para o resto da sua carreira.

Folha/UOL: Mas o voto é secreto, ninguém sabe...

Gilberto Kassab: Se eu estivesse no Congresso Nacional, eu votaria por sua cassação.

Folha/UOL: Nesse caso de Jaqueline Roriz?

Gilberto Kassab: Nesse caso.

Folha/UOL: O sr. ao longo do processo de criação do PSD teve uma declaração que era mais ou menos dizendo que o PSD não seria nem de esquerda, nem de direita, nem de centro, para explicar como seria construída a sigla. O que o sr. quis dizer com essa frase?

Gilberto Kassab: Essa frase, Fernando, foi fruto de uma edição equivocada. O que eu disse no início do partido, nos seus primeiros dias, quando foi perguntado em relação à posição ideológica do partido, que naquele momento não era nem de centro, nem de esquerda, nem de direita, porque iríamos construir o programa partidário. Porque naquele momento tinham duas pessoas lançando as pedras fundamentais do partido, eu e o vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingos. Todos sabem, isso foi público. Depois, fomos juntos, os dois, para a Bahia, onde lá lançamos a pedra fundamental, o processo inicial do partido e eu respondi é que, no decorrer do tempo, iríamos definir se o partido seria de esquerda, de centro ou de direita porque...

Folha/UOL: Ainda não era?

Gilberto Kassab: Não era nem partido. Hoje eu posso lhe afirmar, até porque era essa a minha posição inicial que acabou prevalecendo, que o partido é de centro. Nem de esquerda, nem de direita. O Brasil estava precisando de um partido de centro com essas características e é evidente que, sendo um partido de centro, nós vamos exteriorizar as nossas convergências. E as nossas convergências elas serão sempre baseadas no nosso programa, que será construído a partir de agora, mas baseado num conjunto de diretrizes já estabelecidas publicamente. Diretrizes essas que privilegiam um Estado forte na saúde, na educação, que privilegiam ações que conduzam o Brasil a mais eficiência no que diz respeito às ações quanto à segurança, quanto à justiça. Um partido que vai defender as liberdades individuais, a liberdade de imprensa. É fundamental que deixemos clara a nossa diferença em relação àqueles que não pensam dessa maneira. Um partido que vai efetivamente lutar por regras mais claras para que nosso produtor rural tenha tranquilidade para investir. Um partido que vai defender a Zona Franca de Manaus. Um partido que vai defender o contribuinte, mas com ações efetivas, de que tem entre nós o grande líder, nos últimos anos, das ações frente ao contribuinte, que é o Guilherme Afif Domingos. Portanto é um partido que tem cara, um partido que vai ter clareza na sua conduta.

Folha/UOL: E como vai agir o PSD sobre três temas que estão por aí sempre: CPMF, para financiar a saúde, a nova regulamentação para a prática do aborto e uma nova regulamentação para descriminalização das drogas?

Gilberto Kassab: Quem vai falar é o cidadão e também o presidente do partido. E é evidente que decisões partidárias serão adotadas em colegiado. Em relação à primeira que você disse...

Folha/UOL: CPMF.

Gilberto Kassab: Somos contra. Até porque não tem nenhum sentido no país que precisa fazer uma reforma tributária, antes de fazermos a reforma tributária falarmos em novas taxas, novos impostos. O que precisamos é uma rediscussão do pacto federativo, é uma assembleia nacional constituinte exclusiva que possa inserir nessa discussão, da assembleia, a reforma tributária.

Folha/UOL: Mas de onde vai sair o dinheiro para saúde uma vez que a Câmara acaba de votar a regulamentação da Emenda Constitucional número 29, agora está no Senado, e determina ali que os Estados, as cidades gastem mais.

Gilberto Kassab: Essa é a importância da assembleia nacional constituinte exclusiva...

Folha/UOL: Vamos falar sobre isso, mas antes disso...

Gilberto Kassab: A assembleia nacional constituinte ela está vinculada à discussão das reformas. Você não pode transferir ônus, responsabilidade para os municípios e não transferir receitas. O problema é a rediscussão do pacto federativo.

Folha/UOL: Mas, antes da assembleia nacional constituinte, que eu vou até perguntar sobre isso para o sr., até que ela venha, como vai se financiar a saúde?

Gilberto Kassab: Com mais eficiência das ações de governo. Qualquer que seja.

Folha/UOL: Sem CPMF?

Gilberto Kassab: Qualquer que seja. Eu encontrei a Prefeitura de São Paulo investindo 15% do seu orçamento em saúde. Eu deixo a Prefeitura de São Paulo com o governo investindo 21%. De algum lugar eu cortei.

Folha/UOL: Então o sr., para recapitular, é contra a criação de um imposto específico para financiar a saúde? Seria só na base da gestão então.

Gilberto Kassab: Na base da gestão e da rediscussão do pacto federativo. Porque é claro que falta recurso para a saúde. Eu estou à disposição como prefeito, como cidadão, como presidente de partido para estar ao lado do governo, da presidenta Dilma Rousseff, para encontrar fórmulas que tragam mais recursos para saúde. Mas sem o aumento da carga tributária.

Folha/UOL: Aborto: o sr. acha que... O PSD, não o sr. O PSD talvez terá uma posição a respeito da prática do aborto, se ela deve ser ampliada, as circunstâncias em que pode ser praticada?

Gilberto Kassab: Poderá até ter uma posição partidária.

Folha/UOL: O sr. tem uma posição?

Gilberto Kassab: Se tiver, a minha posição pessoal é contra a ampliação dessas práticas. Eu sou a favor do que está na lei hoje. A regulamentação. Existem os casos previstos em lei. Eu acho que funciona bem.

Folha/UOL: Sem nenhuma ampliação?

Gilberto Kassab: Sem nenhuma ampliação.

Folha/UOL: Descriminalização de drogas leves. Por exemplo, a maconha.

Gilberto Kassab: Eu sou contra. Na medida em que um país como o Brasil, que culturalmente ainda tem sérias dificuldades em diversas regiões, você discriminalize, você terá uma tendência de ter uma ampliação do uso, do número de usuários da droga. É uma droga ainda. Portanto eu sou contra. Tenho respeito por quem tem a posição divergente, mas irei trabalhar para que, no caso de o partido ter que adotar uma posição, que tenha uma posição contrária.

Folha/UOL: O sr. é o principal dirigente do PSD. O sr. vai mandar no PSD, imagino, porque é o presidente, é um regime presidencialista dos partidos políticos. Essas suas posições podem ser entendidas como talvez as que serão assumidas pelo PSD?

Gilberto Kassab: Olha, Fernando, é um partido que nasce diferente. Porque, no Brasil, os partidos que têm coronel, os partidos que têm dono, geralmente eles não fazem convenções, não elegem diretórios estaduais. Não elegem nem diretório nacional. É tudo baseado nas comissões provisórias regionais e nacionais. Felizmente, nós fizemos convenções em todo o Brasil, estaduais. Temos diretórios e não comissões executivas provisórias, temos diretório nacional eleito. Portanto temos instâncias que deverão ser ouvidas. E não valerá apenas a palavra ou a posição do presidente. É um partido que está organicamente constituído definitivamente.

Folha/UOL: Mas mesmo os partidos que têm diretórios constituídos e não comissões provisórias, alguns têm no Brasil, são poucos mas tem, ainda assim eles têm dirigentes que se perpetuam nos cargos.
Gilberto Kassab: É, mas veja...

Folha/UOL: O sr. acha que o PSD vai ter condição de ter uma rotatividade nos cargos de direção?

Gilberto Kassab: Olha, nós já tivemos na primeira reunião da executiva e foi ratificada uma decisão que era informal e hoje nós tivemos oficialmente a primeira reunião, já duas decisões importantes, que mostra a importância que temos para a rotatividade nos cargos de importância do partido e também a importância das ações em colegiado. Em relação aos nosso líderes no Congresso: nós não poderemos, as bancadas, repetir os seus líderes numa única legislatura. Já foi escolhido o primeiro líder, o deputado Guilherme Campos, que ficará esses dois meses e o ano que vem. Não poderá mais ser líder ao longo dessa legislatura. Não haverá possibilidade de um mesmo líder ao longo dos quatro anos.

Folha/UOL: Isso se repete nas assembleias [estaduais] e câmaras de vereadores [municipais]?

Gilberto Kassab: Num primeiro momento não. Num segundo momento sim. Até porque como o partido ainda está sendo constituído, você tem realidades de formação do partido aonde ações de imposição podem dificultar o nascimento do partido.

E em relação a CPIs [Comissões Parlamentares de Inquérito]. Também foi aprovado por unanimidade dos parlamentares e da Executiva, portanto é uma decisão oficial, que um parlamentar só assinará uma CPI depois da reunião da bancada. Portanto, nós teremos decisões colegiadas de CPI. A bancada se reúne, mais da metade define a permissão de apoiamento. Aqueles que quiserem, podem assinar. Acho que é muito importante. As CPIs são importantes para o país, mas decisões não podem ser em caráter pessoal. Portanto o PSD, na pessoa dos seus deputados federais e senadores, cada deputado só assinará uma CPI quando o colegiado de deputados, a bancada se reunir e, na sua maioria, definir que poderão [apoiar a CPI]. Isso vai dar unidade de ação ao partido.

Folha/UOL: Sobre unidade de ação do partido no Congresso em votações diversas. Vai ser uma prática do PSD tentar fechar questão sempre, ou na maioria das votações não?

Gilberto Kassab: Com certeza, na maioria das votações, não haverá fechamento. O partido além de ser independente, pelas peculiaridades de sua formação, nós temos líderes e parlamentares de diversas origens. Pega meu caso, por exemplo. Eu apoiei a candidatura do presidenciável José Serra. Pega os deputados de São Paulo do PSD, eles estavam na campanha de José Serra. Pega os deputados da Bahia, junto com o governador Jaques Wagner [do PT], eles apoiaram a candidatura da presidenta Dilma Rousseff. Portanto, temos que respeitar as origens de cada um para que nos respeitemos. E para que a sociedade, a opinião pública nos respeite com as nossas posições.

Folha/UOL: Assembleia Constituinte exclusiva. Está prevista num dos documentos constitutivos do PSD. Como o sr. imagina que vai convencer os outros 22 partidos representados no Congresso a votar esse tipo de decisão, que muitos tentaram antes e não conseguiram?

Gilberto Kassab: Em primeiro lugar, a sociedade civil está madura. Esta madura e ela entende a importância das reformas. Hoje a sociedade civil pede a reforma tributária, pede a reforma política, pede a reforma da Previdência, pede a reforma administrativa. Portanto, existe uma conscientização maior por parte da sociedade civil. Os meios de comunicação perceberam hoje o quanto é importante debater esse tema. Qual a melhor maneira de fazer reformas? A Assembleia Nacional exclusiva. Porque se ela não for exclusiva, os constituintes estarão atrelados aos interesses partidários, aos interesses legítimos eleitorais que o levaram a ocupar uma cadeira no Congresso.

Folha/UOL: Agora, quando o sr. fala que a sociedade quer a reforma política, da Previdência, não seria um interesse mais difuso? Porque nós não vemos uma passeata a favor da reforma política, da Previdência... E também não vemos uma mobilização a ponto de forçar o Congresso a votar todas essas propostas...

Gilberto Kassab: Mas você vê mobilização da sociedade por melhores serviços de saúde, você vê uma mobilização da sociedade por melhores salários para professores. Você vê uma mobilização da sociedade por melhores e maiores investimentos em transportes públicos nas grandes cidades. E isso, esses objetivos, só vamos poder conseguir, com as reformas.

Folha/UOL: Que tipo de estratégia terá o PSD para chegar a essa Assembleia exclusiva para 2014?

Gilberto Kassab: Nessa primeira reunião, nós já definimos algumas missões e os seus coordenadores. Caberá ao Ricardo Patah, que o presidente da UGT, coordenar as atividades de mobilização da sociedade civil para que possamos reformular a nossa legislação trabalhista e social. Caberá ao Guilherme Afif Domingos, vice-governador de São Paulo que presidirá a nossa fundação, coordenar seminários por todo o país para que possa nesses seminários construir o programa do nosso partido. E caberá à senadora Katia Abreu [TO] apresentar a proposta de Assembleia Nacional Constituinte exclusiva no Congresso Nacional e através dessa proposta, com essa proposta nas mãos, procurar os demais senadores, com os nossos líderes na Câmara, os demais deputados federais. E, apresentada essa proposta, junto com o partido, levar à discussão junto à sociedade civil essa emenda.

Folha/UOL: Já se falou sobre esse tema antes, aqui no Congresso, e o que se diz é que é muito difícil uma Assembleia Geral Constituinte, ainda que exclusiva. Seria talvez mais facilitada essa tarefa se fosse uma Assembleia Constituinte restrita a determinados temas. O sr. não gosta então dessa ideia?

Gilberto Kassab: Não, não gosto porque, já que é uma Assembleia Nacional Constituinte, já que vão ser eleitos constituintes com exclusividade de ação para esse tema, que seja ampla, para que a gente possa nessa Assembleia corrigir as distorções que deveriam ter sido corrigidas em 1993. A Constituinte de 1988 previa essa Constituinte [revisora]. E isso não aconteceu. A Constituição de 88 previa.

Folha/UOL: O PSD até o dia 7 de outubro tem uma expectativa de ter qual bancada na Câmara, no Senado e o número de governadores e de prefeitos?

Gilberto Kassab: Fernando, nós temos aproximadamente, em torno de 70 a 80 deputados que participaram do processo de fundação do PSD em alguma etapa. No apoiamento ou diversos na participação de comissões provisórias. Todos eles estão habilitados a se transferirem para o PSD nos próximos 30 dias, após a publicação no 'Diário Oficial' da decisão do TSE de ontem [27.set.2011].

Folha/UOL: Mas menos dias os que desejarem concorrer a prefeito e a vereador no ano que vem...

Gilberto Kassab: Eu estou falando em termos de parlamentares. Nós temos hoje 49 deputados federais que já se manifestaram publicamente e que já participam de diretórios, da bancada informal no Congresso. E eu acredito que nós devemos ter mais alguns companheiros deputados que vão se somar à bancada do PSD nos próximos 30 dias. Portanto, deveremos ultrapassar 50 deputados federais. Em relação ao Senado, temos dois. Poderemos ter mais dois ou três. São diversos os que participaram das primeiras etapas e estão habilitados.

Folha/UOL: Governadores e prefeitos...

Gilberto Kassab: Temos dois governadores. O governador Omar Aziz e Raimundo Colombo. O Aziz do Amazonas e o Colombo de Santa Catarina. Prefeitos já são centenas. Deputados estaduais, centenas. Vereadores já milhares. Portanto, estamos muito bem enraizados dentro do processo político de representação.

Folha/UOL: O sr. É um político experiente e sabe que o Brasil já teve diversos partidos políticos. O Brasil já teve, desde a redemocratização mais de 80 partidos. Hoje são 28. O que vai fazer do PSD um partido parene e não apenas como seus adversários dizem, uma janela de infidelidade momentânea?

Gilberto Kassab: O que irá nos diferenciar é a nossa conduta. Até porque,
programas todos os partidos têm. Quem cumpre? Ideias todos têm. Quem obedece? Conduta ética todos pregam. Quantos realizam? Então, o que vai nos diferenciar são as nossas ações, a nossa conduta a partir de agora. Nós tivemos diversas lideranças políticas que não vieram para o partido, mas mostraram sua simpatia. Eu destaco entre elas, e faço aqui a minha homenagem pública, o meu reconhecimento, entre essas personalidades a presidenta Dilma Rousseff -que nos recebeu, nos deu o apoio, nos transmitiu o sentimento de que era bom para o país ter um partido que vinha com esses objetivos. Diversos governadores. Eu cito entre eles e homenageio o governador da Bahia, Jaques Wagner [PT], que foi o primeiro Estado que abriu as portas para que o PSD pudesse fazer uma reunião e com isso mostrar os seus propósitos. E nascemos fortes na Bahia. O governador Marconi Perilo [PSDB] em Goiás, que também de uma maneira muito democrática abriu as portas do Estado para que pudéssemos nos constituir. Em relação aos partidos existentes, diversos partidos nos saudaram com muito entusiasmo a nossa vinda, a nossa chegada, torcendo pelo nosso sucesso, pelo nosso êxito. Entre esses partidos, entre diversos dirigentes, eu homenageio o presidente do PSB no Brasil, o governador Eduardo Campos [de Pernambuco], que desde o primeiro momento foi o parceiro, mostrou a sua visão ampla de um país democrático, com partidos fortes, plurais numa democracia consolidada. Enfim, tivemos muita ajuda, muito apoio para chegar a este momento.

Folha/UOL: Muito se falou no processo de criação do PSD que, uma vez formado, o partido já com cerca de 50 deputados, poderia fazer um bloco no Congresso junto com outras legendas e assim se tornar mais forte. Qual é a política do PSD em relação a formar um bloco no Congresso?

Gilberto Kassab: É muito difícil neste momento constituir um bloco. Até porque o que se especula é em relação a um bloco com o PTB, com PSB. E todos sabem da extraordinária relação que adquirimos com o PSB no processo de criação do PSD. Isso é público, não é? O PSD e o PSB estão caminhando juntos praticamente no país inteiro. Mas você constituir um bloco na Câmara dos Deputados é um pouco incoerente.

Folha/UOL: Por quê?

Gilberto Kassab: Porque o PSB é base do governo. O PSD é independente. Eu até acredito que, na maioria das vezes, vamos caminhar juntos nas votações. Mas seria uma incoerência perante a opinião pública brasileira nós, já nesse primeiro momento, nos atrelamos em bloco... aonde fica claro que não somos independentes. Ou o PSB deixaria de ser base do governo -legitimamente o PSB é base do governo, e legitimamente o PSD nasce independente.

Folha/UOL: No início do ano que vem, em 2012, isso seria possível?

Gilberto Kassab: Eu acho difícil porque a nossa posição é por todo o mandato da presidenta Dilma Rousseff. Eu sempre tenho dito e cito o caso da minha convivência com o presidente Lula. Todos sabem que eu sempre procurei estar ao lado do presidente como prefeito da cidade de São Paulo, procurando ajuda-lo, procurando ser parceiro nas ações da cidade de São Paulo, aplaudindo as boas ações, criticando com espírito público as ações que achava que não estavam corretas. E efetivamente, com essa conduta acabou existindo um respeito muito grande e uma relação pessoal entre mim e o presidente Lula. Quando chegaram as eleições, ninguém foi mais determinado a uma candidatura do presidenciável José Serra [PSDB] do que eu. Então, por coerência, eu estou tendo a mesma relação com a presidenta Dilma. Trabalhei pelo candidato José Serra, mas torço pelo sucesso da presidenta. Ela está eleita. Todos os brasileiros querem que ela faça um bom governo e contribuo com o meu trabalho como cidadão, como prefeito e agora como dirigente partidário para que ela faça um bom mandato. Porém, ao longo do seu mandato, a minha atuação, a minha parceria será de independência. Mas completa.

Folha/UOL: Seu partido deve ter cerca de 10% dos deputados na Câmara. Se a presidente Dilma Rousseff convidá-lo para discutir uma possível aliança e uma integração à base do governo, com possibilidade de o PSD ter um ministério no governo Dilma, o que dirá o PSD?

Gilberto Kassab: A presidenta Dilma sabe que ela vai contar conosco, com a nossa lealdade, com nosso espírito público, com a nossa posição transparente em relação ao seu governo apoiando todas as ações que estiverem identificadas com as nossas convicções dos nossos líderes, do nosso partido, do nosso programa. Porém ela sabe que não será possível participar do seu programa, e nem queremos isso. Não precisamos disso para apoiar o que é correto nas propostas do governo. Portanto, não iremos participar do seu governo e ela sabe disso e falo de uma maneira respeitosa. Eu acho que é uma honra para qualquer brasileiro, para qualquer cidadão participar do governo da presidenta Dilma. Mas no caso do PSD, até por conta das razões que levaram ao nascimento e das origens de cada um, seria uma grande incoerência dar um primeiro passo errado.

Folha/UOL: 2014. O PSD é um partido jovem e o sr. Acha que vai adquirir musculatura em 2014 para ter voos próprios para governadores de Estado e Presidência da República? E no caso de Presidência da República, poderia apoiar candidatos dos partidos maiores?

Gilberto Kassab: Eu falo em relação à minha pessoa. Todos sabem que será natural se eu apoiar uma candidatura do ex-governador [de São Paulo] José Serra [a presidente em 2014]. Tenho uma afinidade com ele. Mas no PSD também ninguém poderá achar que não é natural apoiar uma reeleição da presidenta Dilma se ela fizer um bom governo. Portanto, falar agora em relação a posição do partido na eleição de 2014 é muito prematuro, seria um grande equívoco.

Folha/UOL: Mas o sr. particularmente, o sr. mencionou, se a presidente Dilma fizer um bom governo poderia apoiar a reeleição da presidente Dilma. É isso?

Gilberto Kassab: Eu não vejo nenhum problema. Não vejo nenhum problema se ela estiver fazendo um governo que seja bom para o país e que esteja correspondendo às expectativas dos brasileiros não há porque não debater essa questão internamente no partido e, havendo consenso, apoiá-la.

Folha/UOL: Ela faz um bom governo agora?

Gilberto Kassab: Até o presente momento, faz.

Folha/UOL: Qual foi o principal erro da presidente Dilma até agora?

Gilberto Kassab: Ela está no início do seu governo agora. E eu posso dizer a você que ela tem acertado bastante. Então, eu iria registrar que existe muito entusiasmo e confiança em relação ao seu governo. Eu, nesses primeiros vezes, eu vejo muitos acertos. Principalmente em relação à sua conduta pessoal, em relação à sua posição de líder de governo, sabendo liderar o governo, sabendo exigir dos seus companheiros trabalho, eficiência. Eu vejo até o presente momento o seu governo sendo aprovado.

Folha/UOL: Voltando dois anos, 2012. O PSD tem meta para 2012 sobre prefeito, número de cidades?

Gilberto Kassab: Como qualquer partido, o PSD procura conquistar espaço para exercer o poder. Nas eleições municipais vamos nos esforçar para ter candidato a prefeito em todo o país. Nós estamos estruturados nacionalmente e poderemos chegar a ter uma participação, uma representação em todo o país. Sejam com candidaturas próprias, evidente a nossa prioridade, seja em alianças.

Folha/UOL: Cidade de São Paulo. Qual no momento a posição do PSD sobre a sua sucessão?

Gilberto Kassab: No momento, aquilo que era uma posição pessoal, com o registro no TSE ontem [27.set.2011] do partido passa a ser uma posição oficial do partido. Eu tenho dado uma preferência para discussão de 5 nomes. Porque, Fernando, o importante é que se tenhamos um nome que se ganhar as eleições seja um bom prefeito. De nada adianta ganharmos as eleições e o eleito não ser um bom prefeito.

Folha/UOL: Quais são esses 5 nomes?

Gilberto Kassab: A história do país já mostrou recentemente que quebrou a cara aquele que quis ganhar a eleição por ganhar a eleição. Eu só quero ganhar a eleição com alguém que seja um bom prefeito. Se não eu prefiro perder. E nós já publicamente exteriorizamos a preferencia por cinco nomes. Se o Serra for candidato ele será um bom prefeito. Portanto, terá o meu apoio. Se o [senador] Aloizio Nunes [PSDB] for o candidato, terá o meu apoio. Se o Guilherme Afif Domingos, terá o meu apoio. Se o Eduardo Jorge, secretario do Verde do Meio Ambiente for candidato, terá o meu apoio. E ainda insisto, tenho ainda alguns dias, para que o secretario [Francisco] Luna, secretario do Planejamento, possa se filiar a um partido porque também está preparado. São pessoas que ao longo dos últimos 7 anos participaram da administração com alguma responsabilidade, o que me permite que elas conhecem hoje a cidade, os desafios, os seus problemas. Estão preparadas para entrar, para assumir, e para serem bons prefeitos. Exercer a autoridade do cargo de prefeito. Prefeito de São Paulo é um cargo que precisa de pessoas maduras, experientes e responsáveis porque é um desafio muito grande.

Folha/UOL: 2014 de novo. Aécio Neves e Eduardo Campos. São nomes aí que ainda não disputaram eleição presidencial, mas que têm sido como possível pré-candidatos a presidente ou a vice-presidente. Como é que o sr. se relaciona com ambos? O sr. já falou de Eduardo Campos. E qual a possibilidade de vir a apoiar uma chapa diferente, mais jovem como essa?

Gilberto Kassab: É muito prematuro nós falarmos em 2014 antes mesmo de acontecer 2012. O partido vai se posicionar. 2014 terá um momento, acredito eu que o partido vai ter muita unidade na sua definição. Será o nosso ano, o nosso momento. É um partido que nasce forte, um partido que nasce com muita credibilidade, falando a verdade com a opinião pública, havendo um respeito muito grande de seus integrantes, respeitando as suas origens. Mas em 2014 nós temos tudo para nos cobrar unidade. E é evidente que essa unidade deverá levar a um caminho para levar a aquele que interprete a nossas expectativas, o nosso programa partidário, as nossas prioridades para o país. E a nossa decisão será baseada justamente nessas premissas.

Folha/UOL: O sr. demonstrou muita força em criar o PSD em um ano, um novo partido político. Não obstante o sr. enfrenta uma queda de popularidade na sua cidade, São Paulo. Segundo o Datafolha, as suas taxas de aprovação são baixas. O sr. abandonou um pouco a cidade para cuidar da política?

Gilberto Kassab: Não, Fernando. A Folha, o UOL, o Valor, que são os jornais que vocês representam, têm aqui diariamente a minha agenda. Não teve um único dia, de segunda a sábado, que eu me afastei da cidade de São Paulo. Acordo todo dia às 5h30 da manhã, vou dormir às 10h30, tenho uma agenda pública, acordo às 5h30, leio os jornais, faço um pouco esteira, tomo café, recebo duas ou três pessoas para despacho, saio para fazer visitas públicas ou não públicas, almoço na Prefeitura, almoço de trabalho. À tarde, convivo com duas agendas. A agenda do secretario de governo que prepara as reuniões com os secretários para eu participar. A agenda pessoal, onde eu recebo pessoas. E, portanto, não é possível alguém afirmar que a cidade foi abandonada. A participação política, a vida partidária, ela é muito importante para qualquer um que esteja na vida pública. Faz parte da democracia. Foi maldade dos adversários, que não foi assimilada na cidade de São Paulo, porque as pessoas sabem que não é verdade.

Folha/UOL: Por que o sr. acha então que a população está sendo dura com o sr. e dando pouca aprovação para a sua gestão?

Gilberto Kassab: Se você puder analisar as pesquisas, o Fernando, elas dizem hoje, que aproximadamente 30% dos paulistanos acham a gestão boa ou ótima. Que aproximadamente 40% dos paulistanos acham a administração regular. Que aproximadamente 25% dos paulistanos acham a administração ruim e péssima. Você vai perceber que o ruim-péssimo ele está muito ligado a aquelas pessoas que votam no partido adversário, no PT. E 5% não sabem. As outras 70%, se elas acham que está regular, ótimo ou bom, é porque elas têm uma tendência de na campanha, quando se conscientizarem, se inteirarem do que foi feito ao longo dos 8 anos na cidade de São Paulo têm uma tendência de votar na continuidade da administração. Você precisa saber ler a pesquisa. Uma coisa é você perguntar para um cidadão que está na rua, caminhando, sobre uma administração. Sempre vem a ele um problema que não foi selecionado. Outra coisa é, durante uma campanha ele ter a oportunidade de relembrar como era a cidade antes dessa gestão, o que foi feito, e comparar com gestões anteriores. Aí ele começa a avaliar de outra maneira, porque aí ele vai ter que votar. Neste momento, ele não está preocupado com o voto. Eu estou muito otimista em relação à nossa gestão e em relação aos resultados da gestão.

Folha/UOL: Prefeito Gilberto Kassab, muito obrigado por sua presença aqui no estúdio do Grupo Folha.

Gilberto Kassab: Eu que agradeço a você, Fernando, ao Grupo Folha pela oportunidade, mais uma vez de estar aqui conversando sobre o Brasil, sobre São Paulo, sobre a democracia, num momento tão especial, no qual eu tenho a alegria, até o orgulho e a honra, de participar do processo de um partido que acaba de ser criado, e que me honra com a designação de ser o primeiro presidente, e que tenho certeza absoluta tem muito a contribuir para o desenvolvimento do país.

 

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