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Pesadelo paulistano
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FABRÍCIO CORSALETTI
COLUNISTA DA sãopaulo
É triste, irritante e assustador constatar que, de uns tempos pra cá, na maioria dos bares e restaurantes de São Paulo há uma ou mais TVs ligadas.
Provavelmente não é um problema só de São Paulo, e o resto do Brasil e do mundo também mantenha esses estridentes retângulos luminosos focados nos olhos e nos ouvidos dos seus bêbados e glutões. Mas vamos nos concentrar na nossa aldeia, seguindo o conselho atribuído ao russo Anton Tchékhov (1860-1904), que, se viveu numa era pré-penicilina, pelo menos teve a sorte de frequentar tavernas ainda não dominadas pelo rosto e pela voz do Faustão.
Não sei explicar o porquê dessa moda. Imagino que as TVs de plasma se tornaram símbolo de status -o dono de bar/restaurante que não tem a sua está excluído do mercado. Ele precisa fornecer esse serviço ao consumidor. Ou então elas são uma reação publicitária à cidade limpa do prefeito Kassab: se não se podem usar outdoors, enfiam-se as propagandas porta adentro. Mas como não entendo nada de negócios & coisas afins paro minha "análise" aí. O que não me impede de protestar.
O fato é que a TV foi inventada cinquenta anos antes das TVs de plasma e nem por isso o pessoal do ramo da comida e da bebida era obrigado a colocá-la nos seus estabelecimentos. Agora elas estão por toda parte.
Pessoalmente, não me incomodo de assistir, uma vez ou outra, a alguma partida de futebol, embora não torça pra time nenhum. Durante o jogo, se o público faz questão, tudo bem: TV ligada.
A tela verde por duas horas, às vezes um lance que vale a pena ser visto... e fim. Quem quiser ouvir os comentaristas do "Cartão Verde", que vá pra casa. E quem não conseguir passar algumas horas com os amigos ou com a família sem novela, filme ou noticiário, que compre uma corda, amarre no teto do quarto, dê um laço no pescoço e chute o banquinho.
Eu também acho a vida um tédio.
Mas nem sempre. Não quando estou com pessoas de que gosto, comendo bolinho de abóbora e tomando cerveja. Nesses momentos, que direito tem o Datena de me contar que um caminhão atropelou uma garota de cinco anos na Raposo Tavares e, além disso, repetir a cena sessenta e quatro vezes? "É a realidade brasileira, mano", me disse um garçom a quem perguntei se ele não se cansava daquele programa sensacionalista. E ele tem razão.
Por isso, resolvi criar uma campanha. O leitor interessado recorta o haicai abaixo (cedido por um amigo que prefere não se identificar) e guarda-o na carteira. Aí, quando tiver a infelicidade de beber e comer no mesmo ambiente em que o Nicolas Cage está decepando a cabeça de monges medievais possuídos pelo demônio, é só pedir a conta e, junto com o dinheiro, deixar na pastinha o poema -o espaço sublinhado preenchido com o nome da bodega. Quem sabe a gente não muda um pouco a realidade paulistana.
QUE CILADA
ATÉ NO _______________
TEM TV LIGADA
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