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22/01/2012 - 08h10

O WC sumiu

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BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA sãopaulo

Quem me frequenta neste espaço já pode ter percebido que mudei de ramo, que agora tenho outros interesses. Escrever coluna passou a ser secundário para mim.
Depois de reformar meu apartamento e fazer minha mudança, virei monotemática. Pessoa me pergunta como foi o jogo do Santos e eu desato a falar sobre os preços da Etna
versus a Tok&Stok.

E lá vou eu usar este espaço mais uma vez para falar sobre meu chatô e os temas que gravitam em torno dele. Por uma questão filosófica, a área de serviço do meu apartamento compreende apenas 1,50 x 2,30 m. Quarto de empregada inexiste, tratei de varrê-lo do mapa. Todo mundo que vem visitar faz questão de perguntar: "Onde você enfiou o quarto de empregada e o resto da área de serviço?".

Ilustração Alex Cerveny/Folhapress

Lembro de uma amiga inglesa que veio passar férias na casa dos meus pais, há muitos anos, e questionou: "Como é que vocês aguentam viver com esse monte de estranhos dentro de casa?".

De fato, é uma questão complexa conviver com "o inimigo de branco". A patroa pode até achar seu relacionamento com a "gutcha" cordial. Claro, ela está no lado rosa-maravilha, no bem-bom, nunca deu meia hora de atenção ao assunto. Provavelmente quem se coloca na pele do trabalhador doméstico não vê a relação de forma tão amigável. E nem teria como fazê-lo, uma vez que ser desvalorizado profissionalmente por princípio não deve ser assim tão agradável, bem como ter bonificações pagas em afeto raramente enche barriga.

É claro que existem patroas excelentes, mas se eu fosse obrigada a ir para a Folha de avental de rendinha e sapatinhos moleca, quem sabe eu não pensasse numa parada estratégica na Bayard para a compra de uma pistola automática antes de chegar à al. Barão de Limeira?

Elevadores de serviço ofendem a dignidade humana. Sabemos que eles só deveriam ser usados por cães molhados e carga pesada. Pois a despeito de decretos e tentativas de mudança de hábito continuamos a insistir no seu uso. E se fosse só o elevador ainda haveria esperança de salvar a espécie tapuia. Acontece que tem também o banheiro, o talher e a comida que a gente se recusa a dividir com quem faz todo o serviço dentro da nossa casa. O filme "The Help", que ganhou um par de Globos de Ouro no outro domingo, mostra como era a discriminação contra o serviço doméstico nos EUA nos anos 60. Assista e morra de vergonha do Brasil 2012.

Conheço gente que ainda regula a quantidade de biscoitos que a empregada come. Pessoa tem SUV, viaja ao exterior duas vezes ao ano, possui três bolsas Hermès e acha normal fiscalizar o que o serviçal manda para dentro.

E ainda pontifica dizendo que empregada que quer trocar casa de família por emprego em empresa é burralda, pois vai abrir mão de comida e teto gratuitos. Queria ver quem troca sua liberdade por morar de favor no quarto de pigmeu da casa de alguém, sem ter plano de carreira e de saúde ou fim de semana.

Na minha casa não tem banheiro de empregada. O fato suscitou curiosidade na primeira reunião de condomínio de que participei no prédio novo. Como minha explicação inicial não satisfez, tratei de reformular a argumentação: "Minha empregada já vem cagada de casa". Achei mais fácil simplificar. Em outra oportunidade eu explico melhor.

 

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