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14/04/2013 - 02h00

O paulistano e o verde

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BENEDITO ABBUD
ARQUITETO E PAISAGISTA

Diz a lenda que, durante a Segunda Guerra, a atriz alemã Marlene Dietrich teria dito que, mesmo se a capital fosse destruída, enquanto houvesse linden (Tilia), Berlim ainda seria Berlim.

A vegetação de São Paulo não se caracteriza pela grande homogeneidade, como algumas cidades europeias, nem por maciços heterogêneos, como no caso do Rio, que possui a maior floresta urbana do mundo.

Aqui é preciso lupa para achar manchas verdes no mapa.

Foi assim, debruçado em fotos aéreas em branco e preto, que descobri o mosaico da vegetação de São Paulo. Trabalho realizado em grupo em 1985 e que, agora, fico feliz em saber que a prefeitura pretende atualizar.

Na cinza periferia, as copas apareciam em poucas manchas agrupadas. Ao visitar os locais, concluíamos que quase sempre eram escolas e que aquelas plantas eram o resultado de comemorações do dia da árvore.

O trabalho me ensinou que o denso verde existe em São Paulo, mas está lá longe, na serra de Cantareira ou na serra do Mar, afastado do cotidiano. Há ainda a presença de manchas verdes densas, porém concentradas em poucos parques urbanos.

Historicamente, a legislação não acolhe a vegetação no desenho da cidade. As calçadas são estreitas, assim como os canteiros centrais e as praças.

A enorme quantidade de muros e arrimos aponta soluções como jardins verticais para estimular a cultura do verde. Protagonistas na discussão, as calçadas sempre foram vistas como "terra de ninguém", inclusive sendo alvo do descarte de plantas inutilizadas nas residências.

A grande quantidade de figueiras que hoje pontuam a paisagem paulistana, inclusive, é resultado da moda dos anos 1950. Eram plantadas como se fosse uma folhagem em modernos vasos cônicos para a decoração das salas. Suas enormes folhas duras e lisas eram lustradas pelas senhoras zelosas que, quando tinham seus vasos quebrados pelas fortes raízes, "jogavam" o problema nas calçadas.

O caso denota a necessidade de a cidade ter técnicos para trabalhar em conjunto com a população na escolha das árvores, contribuindo assim para a criação da identidade verde da cidade.

Benedito Abbud, 58, é arquiteto e paisagista, mestre pela FAU-USP, ex-presidente da Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas e conquistou o prêmio Greening 2013 concedido pelo GBC Brasil.

 

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