Curta mistura documentário e ficção para retratar Laerte
"Eu não sou um tema suficientemente interessante para um documentário." Foi assim que o cartunista Laerte Coutinho respondeu ao interesse dos cineastas Claudia Priscilla e Pedro Marques em retratá-lo em frente à câmera.
Claudia, Pedro e o diretor Kiko Goifman tomaram a liberdade de discordar. Persuadiram o quadrinista de 61 anos (há 31 dos quais publica tirinhas na Folha) a ser protagonista de um curta-metragem.
Ou pelo menos interpretar um personagem nele. "Como ele não queria uma coisa 100% verdadeira, combinamos de fazer entrevistas nas quais ele poderia mentir à vontade. Faríamos o roteiro em cima disso", conta Claudia.
Da investida nasceu "Vestido de Laerte", que entra em cartaz na sexta (24) no Cinesesc, na rua Augusta. O curta-metragem será exibido diariamente às 14h30 e às 19h10, antes de "Olhe Pra Mim de Novo", dirigido por Goifman, que produz e atua no curta sobre Laerte, dirigido por Marques e Priscilla.
Os 13 minutos exibidos após os trailers não são documentário nem ficção. "É como o Laerte, que faz questão de não se definir como homem, transexual ou mulher", diz o co-diretor Pedro Marques.
Na tela, o artista chora, pinta (literalmente, usando borra de café) e borda (só figurativamente). "Eu não estou atuando. Não sou uma atriz", diz Coutinho.
KIKA E A LAERTE
Após a estreia do curta, será a hora de assistir ao documentário "Olhe Pra Mim de Novo", dirigido por Goifman, diretor de "Filmefobia" e "33".
O longa de 2011 mostra uma viagem pelo sertão com Silvyio Luccio, que nasceu mulher e se tornou um cabra muito macho na região do Recife.
"A experiência foi bastante intensa. Em Gramado tivemos uma coletiva de imprensa que foi quase uma pancadaria." Em compensação, no festival de Berlim, Kiko, Claudia e o próprio Silvyo foram aplaudidos de pé.
"Acho que a diferença de recepção foi por causa de um moralismo reinante", diz Kiko (a quem Larte chama carinhosamente de "Kika"). É contra esse moralismo que integrantes do grupo que fez um "saiaço" na USP na semana passada prometem um repeteco do evento.
"Colocaremos nossas saias, tanto homens quanto mulheres, e vamos assistir ao filme no Cinesesc", diz o estudante de direito Marcos Dilínio, 22. "Até para honrar as saias e vestidos do Laerte, que faz tanto pelo fim da discriminação."
O cartunista lamenta que não poderá ir ao evento, por causa de um compromisso profissional. "Mas continuo achando que não valho um documentário", diz Laerte --que é chamado por Kiko de "a Laerte" mesmo, já que seu nome não flexiona para o feminino.
"Vestido de Laerte" e "Olhe Pra Mim de Novo" - Cinesesc - r. Augusta, 2.075, Cerqueira César, zona oeste, São Paulo, SP. Tel.: 0/xx/11/3087-0500. Dom. a seg.: 14h30 e 19h10. Ing.: R$ 4,00.
VEJA O TRAILER DE "VESTIDO DE LAERTE"