'Ela é irregular, mas não é ruim', diz criador da Comic Sans

Ela está em todo lugar: no cardápio da padaria, em convites de aniversário e nas fachadas de botecos.

Não é preciso ser fã de tipografia para reconhecer a Comic Sans, letra arredondada que parece desenhada à mão e é fonte de polêmica: muito usada pelos leigos, é evitada a todo custo por iniciados em design.

Presente em todos os sistemas operacionais da Microsoft desde o Windows 95, o tipo se tornou popular por ser diferente dos demais. "É uma fonte desenhada, mais informal do que as outras opções que você tinha inicialmente", diz o professor de criação da ESPM Romolo Megda.

Pensada para ser divertida e infantil, acabou impressa em formulários do imposto de renda, em epitáfios e até em uma encíclica papal.

A maioria das pessoas pode não se importar que ela tenha se espalhado feito praga, mas há quem leve muito a sério. Já foram criados movimentos como o Comic Sans Criminal, para ensinar as pessoas a não cometerem um "crime" usando o tipo, e o Ban Comic Sans, para banir o seu uso. Na parede da sala dos criadores desse último há um mapa com todos os locais no mundo onde a infame pode ser encontrada -com um pontinho para São Paulo.

Parece exagero? É o que acha o criador, o engenheiro tipográfico Vincent Connare. "Essas pessoas provavelmente não teriam muito o que fazer se não fosse por ela. E acho que no fundo eles gostam", diz ele. E completa: "A Comic Sans é um pouco irregular, mas isso não quer dizer que seja ruim. Ela nem foi pensada para ser uma fonte".

Há 20 anos, Vincent sentou-se em frente ao seu computador na Microsoft e deparou com algo estranho. O Microsoft Bob, um software em desenvolvimento que tomava a forma de um cãozinho para ajudar os usuários, explicava tudo em Times New Roman.

Vincent achou que a letra —formal e classuda— não combinava em nada com o desenho infantil e didático. "Então criei um tipo inspirado nos livros de história em quadrinhos que tinha na minha mesa. Levei apenas algumas horas."

Na cidade para o DiaTipo, um congresso sobre tipografia, ele contou que já perdeu a conta dos lugares onde viu sua criação. "Na França a Comic Sans está em placas de trânsito e na Austrália, em todas as toalhas de praia", diz ele, que possui uma placa russa com letras cirílicas e a parte em inglês escrita com sua criação.

A turma do congresso saiu em safári caçando usos locais e você vê o resultado nas fotos acima.

O próprio Vincent, entretanto, lembra-se de ter usado a fonte poucas vezes. Uma delas foi quando, num rompante de ódio, enviou uma carta mal-educada ao servidor de internet que o deixou sem conexão por 15 dias. "Funcionou. Fui ressarcido."

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