Nostromondo, primeira boate gay do Brasil, fecha as portas após 43 anos

É o fim do mundo para alguns baladeiros: fechou a Nostromondo. A boate da rua da Consolação, na altura da avenida Paulista, foi inaugurada em 1971 e se orgulhava de ser a GLS mais longeva da América do Sul.

Quem desembolsar R$ 1,5 milhão pode levar o castelinho e o rastro de histórias deixadas nos azulejos brancos e pretos da sua pista de dança.

Como o dia em que Adriane Galisteu, no início da carreira, foi confundida com uma drag queen e elogiada ouvindo que era uma "quase mulher", conta a travesti Ane Carlyle.

Famosos eram figura fácil na casa: Miss Biá, que nos anos 80 imitava Hebe Camargo, levou para o sofá do palco Regina Duarte e outros nomes.

Silvio Santos mandava buscar transexuais lá para participar do show de calouros, narra Carlyle. "Eu mesma fui duas vezes pro SBT."

Foi na porta do inferninho que Alexandre Herchcovitch conheceu Márcia Pantera, uma drag queen que descia a rua Augusta de skate, e que passou a vestir com suas criações.

"Não era essa coisa coxinha de hoje, de se vestir igual. Todo mundo tinha estilo", lembra Pantera.

"Os shows de transformista, que é como nos chamavam nessa época, tinham tanto glamour", diz Silvetty Montilla, a mais bem-sucedida cria da casa, com programa na TV.

(Todas as drags citadas são veteranas com mais de 25 anos de noite e que se furtam a revelar as idades.)

Em 1990, os shows passaram a ser protagonizados por atores pornô.

O empresário Igor Carmona, que é dono da Nostro e de outras casas, como a DJ Club, explica que o fim veio por um motivo: "falta de retorno". "O público hétero tinha preconceito, e o público gay também."

"Se eu fosse milionária, comprava hoje a casa e voltava a abrir", diz Kaka di Polly, espécie de matrona das drags. "Pena que não seja."

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