Em novo álbum, Beck traz arranjos tranquilos e tom confessional

É impossível saber o que esperar de Beck. Numa carreira de pouco mais de 20 anos e 12 álbuns, ele gravou folk, country, hip-hop, blues, eletrônico, guitarras pesadas e experimentos vanguardistas —às vezes misturando tudo no mesmo disco.

Em 2002, arrasado pela separação da namorada, gravou "Sea Change", uma linda coleção de baladas etéreas, que muitos consideram seu melhor disco. O álbum era claramente influenciado pelo folk confessional do início dos anos 1970 de gente como Nick Drake, Joni Mitchell e Crosby, Stills, Nash & Young.

Avener Prado - 9.nov.2013/Folhapress

Mas Beck, em típica atitude "eu vim aqui para confundir e não para explicar", seguiu "Sea Change" com "Guero" (2005), "The Information" (2006) e "Modern Guilt" (2008), em que retomava o estilo anárquico de seus primeiros discos, juntando hip-hop, batidas eletrônicas e letras irônicas.

Por isso, foi uma ótima surpresa ouvir "Morning Phase", seu novo disco, o primeiro em seis anos, e perceber que Beck retornou a um tipo de som mais tranquilo e confessional. Periga ser ainda melhor que "Sea Change".

Produzido pelo próprio Beck e contando com vários dos músicos que o acompanharam em "Sea Change", o disco tem um som que remete a grandes e ambiciosas produções pop dos anos 1970. Pense em LPs como "Pacific Ocean Blue", de Dennis Wilson, ou os melhores momentos dos Carpenters, com lindos arranjos de cordas, violões folk e um clima preguiçoso de domingo de manhã. Não à toa, a palavra mais presente nas letras parece ser "morning" ("manhã").

"Morning Phase" é solar, bonito e, caso raro na discografia de Beck, desprovido de qualquer traço de ironia. Beck nunca cantou tão bem e não faz canções tão pessoais desde "Sea Change". Resta agora esperar para ver o que ele fará depois...

CONEXÕES

DISCOS

Morning Phase * * * *
ARTISTA: Beck
GRAVADORA: Universal (2014, R$ 29,90)

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IRM * * *
Beck compôs quase todas as faixas e ajudou a escrever as letras desse disco de Charlotte, a atriz, cantora e filha do artista Serge Gainsbourg.
ARTISTA: Charlotte Gainsbourg
GRAVADORA: Warner Music (2009, R$ 9,43, venda digital)

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SEA CHANGE * * * *
Vale a pena ouvir os dois discos juntos —"Sea Change" e "Morning Phase"— e conferir como um parece continuação do outro.
ARTISTA: Beck
GRAVADORA: Universal (2002, R$ 49,90)

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LIVRO

O SELF ESSENCIAL * * *
Seis histórias selecionadas de quatro livros de Self, escritos entre 1991 e 2008. Uma boa introdução ao trabalho de um dos grandes satiristas modernos, um escritor sem medo de atacar temas como eutanásia, drogas e doenças mentais, sempre com um senso de humor ácido e muito pessoal.
AUTOR: Will Self
EDITORA: Alfaguara (trad.: Cassio de Arantes Leite; R$ 42,90)

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FILME

MARJOE * * * *
Sarah Kernochan e Howard Smith (1972, New Video Group, importado)
Documentário sensacional sobre Marjoe Gortner, pastor mirim que era uma celebridade nos EUA. Anos depois, ele contou sua história aos cineastas e mostrou como enganava fiéis e simulava milagres. O longa ganhou o Oscar de melhor documentário em 1973, mas os negativos ficaram perdidos por quase 30 anos. Um filme imperdível.

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SHOW

MORRISSEY – LIVE AT GLASTONBURY * * *
Gravado em 2011 no festival de Glastonbury, na Inglaterra, o DVD traz Morrissey e banda interpretando 16 canções, desde hits de sua carreira solo a clássicos dos Smiths, como "There Is a Light that Never Goes Out", "Meat Is Murder" e "This Charming Man", além de uma versão de "Satellite of Love", de Lou Reed.
ARTISTA: Morrissey
DISTRIBUIDORA: Coqueiro Verde, R$ 29,90)

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