Um "rebelde de terno". É assim o empresário holandês Mirik Milan, 33, se define. Baladeiro que trabalha com festas desde os 20 anos, ele ocupa atualmente o posto de "prefeito da noite de Amsterdã", onde mora.
No cargo, que é eletivo e voluntário, ele ajuda a resolver conflitos entre donos de bares e de boates, moradores e governo local.
Para convencer os políticos da importância da cultura noturna, ele costuma trocar a habitual camiseta e o tênis pelo terno e gravata.
"O meu trabalho é criar diálogo", diz ele, que esteve em São Paulo para participar do Seminário da Noite Paulistana, na semana passada. O evento discutiu a importância econômica, social e cultural da noite.
"Uma vida noturna vibrante é importante para o crescimento de qualquer lugar", afirma Milan.
Thays Bittar/Folhapress | ||
Mirik Milan, prefeito da Noite de Amsterdã, posa em hotel no centro de São Paulo |
sãopaulo - O que você costumava ouvir sobre a noite de São Paulo?
Mirik Milan - Que, como a cidade, é muito grande e diversa. Ao chegar, vi que São Paulo é um mercado emergente para a música eletrônica. Há muito potencial.
Quem trabalha na noite deveria ter uma formação específica?
Sim. Devagar estamos começando isso em Amsterdã. Pequenas escolas estão surgindo com workshops voltados para a produção de eventos noturnos e especificamente para artistas que trabalham com dance music.
Que características um empresário da noite precisa ter?
Primeiro, você precisa saber do que gosta. Segundo, precisa ter um espírito empreendedor. Terceiro, é necessário ser empático para saber o que as pessoas querem e do que elas precisam em uma festa.
Você identificou algum problema na vida noturna de São Paulo?
Há oportunidades que não estão sendo utilizadas. Ouvi, por exemplo, que o centro é uma área degradada e que lá existem vários prédios vazios. Quando há vida noturna em um local, ele fica mais seguro e atrai mais comércio, investimentos e empreendimentos.
Por que isso não acontece?
A prefeitura poderia tentar facilitar o uso desses prédios para eventos ou para virarem locais de trabalho mais acessíveis: ateliês para artistas, por exemplo.
O excesso de regras para a noite institucionaliza as festas?
Sim, por isso o papel de prefeito da noite foi criado em Amsterdã. Havia muitas regras absurdas. O papel do prefeito da noite é dizer para os políticos que eles não devem criar leis sobre o que não entendem.
Que tipo de leis, por exemplo?
Em Amsterdã, há uma regra contra pole dance, para casas que exploram garotas. A questão é que isso levou ao fato de que uma festa normal não pode ter um pole dance. Outra é que você não pode fumar em pé na área aberta de um bar, só se estiver sentado -e nem sempre há cadeiras. Também há uma sobre o lado certo para o qual as portas dos bares devem abrir. Isso não significa que todas essas regras sejam seguidas. Elas são violadas.