Diretor novato filma amor gay na adolescência; leia entrevista

O álbum dos filmes nacionais sensíveis sobre a tão complexa adolescência tem uma nova figurinha: "Hoje Eu Quero Voltar Sozinho". Ele entra para o grupo que reúne obras como "Os Famosos e os Duendes da Morte" (2009), "As Melhores Coisas do Mundo" (2010) e "Desenrola" (2011).

Dirigido pelo paulistano Daniel Ribeiro (leia entrevista abaixo), 31, o longa apresenta Leonardo (Ghilherme Lobo), um garoto cego que, devagarinho, se descobre gay.

Qualquer semelhança com a trama do curta-metragem "Eu Não Quero Voltar Sozinho", de 2010, não é mera coincidência. A produção, que estreou na quinta (10), amplia o universo e os conflitos do filme de 17 minutos —este também encabeçado por Ribeiro.

Agora, o protagonista deseja viajar para se libertar da superproteção familiar e tem de lidar com o ciúme de Giovana (Tess Amorim), sua inseparável melhor amiga.

Quando ele conhece Gabriel (Fabio Audi), no entanto, sua vida é transformada. E os dois meninos iniciam um terno romance.

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sãopaulo - Você criou o curta já pensando no longa?
Daniel Ribeiro - Sim. Imaginei essa história para o meu primeiro longa, mas decidi fazer o curta-metragem antes a fim de experimentar algumas coisas. O curta é um experimento para o longa.

E por que a decisão de não usar o mesmo nome do curta?
Quando estávamos [ele e a produção] buscando um nome para o longa, muitas questões surgiram. A gente não podia deixar o mesmo nome até por um conflito comercial. Mas, ao mesmo tempo, como muita gente já tinha visto o curta, conhecia e gostava, também não dava para fugir muito do nome.

Daí, vendo o filme e analisando, percebi que o "Eu Não Quero Voltar Sozinho" não cabia tanto no longa porque os conflitos do protagonista cresceram. Essa vontade do Leonardo de ser independente, por exemplo, é algo que aflorou no "Hoje Eu...". Então, achamos legal mudar. São filmes completamente diferentes, mas que dialogam entre si.

Por que um protagonista cego?
Achei que com um personagem cego a discussão ganharia outro nível. Esse menino nunca viu um homem nem uma mulher e ainda assim ele se apaixona por outro cara. Pensei que esse personagem cego seria interessante para questionar a forma como os desejos despertam dentro da gente.

Como você avalia esta nova leva de filmes que também retratam o universo gay, como "Azul É a Cor Mais Quente" e "Tatuagem"?
É incrível eles serem tão diferentes uns dos outros. Por muito tempo o personagem homossexual era retratado de forma estereotipada. Hoje existe uma multiplicidade de retratos, com gays de todos os tipos, de todas as profissões.

E é legal porque cada um fala com um público variado e todos estimulam debates sobre seus personagens e sobre os gays. Acho que o "Hoje Eu..." alcança um público maior porque aborda o tema de forma mais delicada. Por isso, conseguimos chegar em gente que talvez não lide bem com a homossexualidade.

Para chegar nesse retrato terno e ao mesmo tempo denso da adolescência, você viu muitos filmes sobre essa fase tão complexa da vida, como "As Melhores Coisas do Mundo" e "Desenrola"?
Quando estava quase para começar a filmar, vi "As Melhores Coisas do Mundo", "Desenrola", "Antes que o Mundo Acabe" e "Os Famosos e os Duendes da Morte" para saber o que estava sendo feito no Brasil. As histórias de adolescentes são meio parecidas.

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CURIOSIDADES

  • O curta "Eu Não Quero Voltar Sozinho" teve mais de 3 milhões de visualizações no YouTube
  • No Festival de Berlim deste ano, o longa ganhou dois prêmios: o da Fipresci e o Teddy
  • Os protagonistas do curta também estrelam o longa

Informe-se sobre o filme

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