Há mais de duas décadas, Marcio Longo, 49, passa seus dias em meio à balbúrdia de cerca de 200 cães, entre buldogues e vira-latas, numa chácara na Granja Viana, em Cotia. "Nesse tempo, peguei dois cães da rua com raiva", conta o criador, que mantém os resgatados em quarentena até colocar sua vacinação em dia.
O cuidado é justificável. De acordo com a Lei Municipal 13.131, cães e gatos de São Paulo devem tomar vacina antirrábica todos os anos.
Pela lei, deve ser assim ainda que alguns medicamentos veterinários contra a doença garantam imunidade de até três anos —e não de apenas um.
A sãopaulo procurou fabricantes, representantes do governo e de instituições internacionais para esclarecer a dúvida sobre a validade dessas vacinas. À reportagem, Fabiana Grecco, veterinária e gerente de produtos da multinacional francesa Merial, que fornece para o governo brasileiro, afirmou que a questão é burocrática.
"Produzimos vacinas utilizadas em mais de 140 países. O que muda em cada nação é a legislação", afirma. "Aqui, a bula da antirrábica precisa ter a indicação de que a vacinação deve ser anual."
CACHORROS IANQUES
Segundo a universidade do Tennessee, nos EUA, os animais do país recebem doses em seus dois primeiros anos e, depois, a cada três anos (a resolução pode variar dependendo da legislação vigente em cada Estado).
Marco Vigilato, assessor de saúde pública veterinária da Opas (Organização Pan-Americana da Saúde), recomenda a vacina anual.
Para o especialista, a vacinação todos os anos no lugar da trienal serve para conter possíveis surtos da doença e é uma medida de saúde pública. "Faz sentido [vacinar mais frequentemente] porque o custo para tratar uma pessoa doente é maior", explica o assessor.
A Opas aponta que 99% dos casos de raiva humana hoje são registrados na Ásia e na África.
Campanhas anuais de vacinação também fixariam na memória dos donos a importância da imunização e reforçariam a proteção para animais com diferentes sistemas imunológicos, de acordo com o professor de veterinária da Unesp (Universidade Estadual Paulista) Rafael Modolo.
CONTROLE BRASILEIRO
Segundo o Ministério da Saúde, 19,5 milhões de cães e gatos (54% da população do país) foram vacinados no Sistema Único de Saúde no ano passado. Só no Estado de São Paulo, 4,5 milhões de cães e gatos foram imunizados contra a raiva em 2013.
Os paulistas não convivem com registros de raiva humana desde 2001: o último caso foi registrado após um cachorro infectado morder uma pessoa em 1997.
Uma nova campanha contra a doença está prevista para ocorrer entre 11 a 24 de agosto.