Livreiros e sebos boicotam site Estante Virtual após aumento de comissão

Na última segunda (9), cerca de 140 sebos retiraram seus acervos —cerca de 3 milhões de obras— do portal Estante Virtual. Nascido em 2005, o site de compras é o terceiro maior vendedor de livros da internet brasileira, com oferta de 12 milhões de volumes de 1.300 sebos e livreiros. Os livros voltaram ao site na terça (10).

O boicote ocorreu após a Estante Virtual aumentar a comissão por venda de 6% para 8% a 12%, de acordo com o volume de vendas e grau de "excelência em comércio eletrônico" de cada comerciante.

Para Alex Buzeli, dono do Sebonet, que tem 89 mil livros na Estante Virtual, os critérios para pagar a menor tarifa, de 8%, são muito rigorosos. "Além do volume das vendas, é preciso ter índices medidos pelo site difíceis de obter, como o máximo de 20% de cancelamento de pedidos e um tempo médio de postagem de 24 horas. Eu tive uma média de 22% de cancelamento no ano passado, pois muitos clientes não fazem o depósito", diz.

Julio Borges, dono do sebo on-line JDB, com acervo de 5.000 livros, faz coro. "São critérios impossíveis. Parece que a Estante Virtual que tirar os pequenos livreiros do site, que não têm estrutura para cumprir essas metas."

André Garcia, diretor e criador da Estante Virtual, afirma que a revisão tarifária foi realizada com base em um estudo do perfil dos vendedores. Segundo o portal, 68% dos livreiros vão bem nos "índices de excelência": 37% alcançam todos, 15% atingem quatro e 16% conseguem três deles.

De acordo com o diretor, o aumento da tarifa foi uma forma de viabilizar as solicitações de melhorias dos próprios livreiros. "Em novembro do ano passado, visitei dez cidades brasileiras e conversei com diversos livreiros, que propuseram mudanças desde de ferramentas de cadastramento até investimentos em propaganda. A tarefa da Estante foi ver de que forma poderíamos viabilizar essas solicitações sem gerar um aumento de custo para os livreiros, mas concluímos que seria impossível colocar um novo patamar de serviço sem alterar os custos."

Garcia acredita que, com as melhorias do site, como o novo layout e as novas formas de pagamento, por exemplo, as vendas devem crescer 30%. "Nos dois primeiros meses de 2014 a empresa entregou 20% a mais de vendas do que nos dois primeiros meses de 2013", diz.

Descontentes com o aumento da tarifa, 140 livreiros enviaram uma carta com reivindicações a Garcia. "Somos nós, livreiros, que alimentamos o portal, temos o trabalho, atendemos aos pedidos dos clientes e resolvemos a maioria absoluta dos problemas enfrentados nas transações. Decisões unilaterais são tomadas constantemente pelos administradores do portal sem qualquer tipo de consulta ou pesquisa de opinião com os livreiros", diz um trecho da carta.

Além da revogação do aumento no valor das comissões por vendas realizadas no site, outras 16 alterações foram solicitadas pela classe. Entre elas, a liberdade de cada vendedor escolher a plataforma que deseja utilizar para pagamentos eletrônicos, uma maior participação dos sebos nas decisões do site e a revogação da tarifa mínima de R$ 1 por venda.

"Vai ser inevitável aumentar os preços dos livros. Até porque a Estante exige agora um valor mínimo de R$ 2,50. Antes tínhamos livros de menos de R$ 1", conta o livreiro Alex Buzeli.

Após o envio da carta, a Estante Virtual alterou as faixas intermediárias do volume de vendas. A tarifa de venda de 12%, por exemplo, será para os sebos que atingirem os níveis de excelência em comércio eletrônico e tiverem um faturamento de até R$ 1.999,99 e não mais para os que faturam até R$ 4.999,99.

"É uma possibilidade de a partir de dois mil reais de venda mensal o livreiro começar a ter descontos progressivos na taxa de vendas. Isso atrelado a excelência de serviços, porque não adianta ele vender R$ 50 mil por mês e atender mal ao cliente", explica Garcia.

Michelle Paschoalick, do sebo Abaporu, afirma que os livreiros estão dispostos a procurar outros sites do gênero, como o Livronauta e o Sebos Online, e a tomar outras providências. "Estamos programando reuniões nas capitais do país e pretendemos formar uma Associação Nacional de livreiros e um sindicato. Vamos programar mais uma retirada dos acervos do site, agora com mais adesões. Criamos um grupo no Facebook que já está com 700 participantes", diz.

"A Estante Virtual está caminhando para um novo patamar de serviço, com novos custos e é matematicamente inviável fazer melhorias sem elevar as taxas. Tentamos formular as coisas da forma como entendemos que é melhor para todos os vendedores, mas não há mais o que flexibilizar", afirma Garcia.

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