'Cão Branco' foi destruído por estúpida campanha de difamação nos EUA

"Cão Branco" acabou com a carreira de Samuel Fuller nos Estados Unidos. Lançado em 1982, quando o cineasta tinha 70 anos, foi destruído por uma campanha estúpida de difamação por entidades supostamente libertárias, que acusaram o filme de racismo e preconceito, quando era exatamente o oposto: um dos grandes manifestos antirracistas do cinema.

"Cão Branco" conta a história de uma atriz, Julie Sawyer (Christy McNichol), que atropela um pastor alemão. Ela socorre o animal e passa a cuidar dele. O que Julie não sabe —mas vai logo descobrir— é que o pastor é um "cão branco", treinado para atacar pessoas negras.

Reprodução

A atriz leva o animal para um treinador negro (Paul Winfield), para tentar descondicionar o cachorro a atacar.

Fuller era um cineasta que conseguia, como poucos, fazer "thrillers" que tanto divertiam quanto faziam pensar. "Cão Branco" funciona como um filme-pipoca, um "Tubarão", mas também levanta questões importantes: o racismo é "aprendido" em casa? O preconceito pode ser extirpado pela razão?

Poucos, na época, viram o filme com esses olhos. Foi considerado apelativo e de mau gosto, um filme sensacionalista e preconceituoso. Atacado por todos os lados, acabou jogado de escanteio pelo estúdio Paramount, que o enterrou com um lançamento tímido em poucas salas.

Protestos de grupos antirracismo prejudicaram exibições do filme na TV e seu lançamento em VHS. Foi só em 2008 que "Cão Branco" pôde ser visto em DVD nos Estados Unidos.

Arrasado, Samuel Fuller foi morar na França, onde fez mais três filmes antes de morrer, em 1997. Nunca mais fez um filme nos Estados Unidos. Logo ele, um cineasta que sempre defendeu as liberdades individuais e fez filmes radicais contra o "establishment". Seu destino foi ser incompreendido.

FILME

Cão Branco * * * *
DIRETOR: Samuel Fuller
DISTRIBUIDORA: Cinemax (1982, 93 min.)

FILME

Paixões que Alucinam * * * *
Um dos filmes prediletos de Scorsese, Tarantino e Sganzerla: para tentar desvendar um crime ocorrido dentro de um manicômio, um jornalista se faz passar por louco. O filme é um delírio sobre a paranoia americana
da Guerra Fria e um dos grandes momentos do cinema de invenção.
DIREÇÃO: Samuel Fuller
DISTRIBUIDORA: Cinemax (1963, 101 min.)

A Lei dos Marginais * * *
Filme "noir" bem ao estilo de Fuller, com muita ação e violência, sobre um adolescente que trama vingança contra gângsteres que mataram seu pai.
DIRETOR: Samuel Fuller
DISTRIBUIDORA: Cult Classic (1961, 99 min.)

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LIVRO

"Reinações de Narizinho" * * * *
Monteiro Lobato (Biblioteca Azul, 376 págs., R$ 49,90)
Difícil encontrar um livro infantil mais imaginativo e lúdico que esse de Monteiro Lobato, que a Biblioteca Azul relançou em edição de luxo, com ilustrações de Jean Villin e Jurandir Campos.

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DISCO

"Lazaretto" * * *
Jack White (Sony Music, R$ 24,90)
Em seu segundo disco solo, o ex-líder do White Stripes faz uma mistura eclética de pop dos anos 70, blues, country, hard rock e folk. O sujeito é talentoso.

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FILME

"Tudo Por Um Furo" * * *
Adam McKay (2014, 119 min.)
Segunda parte da saga de Ron Burgundy (Will Ferrell), o cretino âncora de telejornal. Dessa vez, Burgundy vai a Nova York, onde vira astro de um novo canal de notícias. Boa diversão para quem gosta de comédias estúpidas.

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