Bordado em tecido floral, peitos, pernas, corpos que se enlaçam e uma menina que tira a calcinha. Os desenhos, fixados em tecido, chamaram a atenção da aposentada Henilda Mori, 78, que passeava com a neta pelo parque Ibirapuera. "Vi até um bumbum ali!", riu. Sobre a toalha xadrez, vinho, tortas, uvas, morangos e 12 bordadeiras integravam o primeiro piquenique aberto do Clube do Bordado. Seis eram integrantes do coletivo. Outras seis, interessadas no trabalho.
O encontro tinha sido convocado pelas redes sociais. "A gente tá a caminho do Ibira para chorar as pitangas de ontem [a derrota para a Alemanha na Copa do Mundo], falar de coisa boa, conhecer gente nova e bordar para desanuviar. Bora?", reforçou a integrante do grupo Amanda Zacarkim, 27, na manhã chuvosa daquela quarta-feira (9/7).
Inaugurado há um ano, o clube tem como tutora Camila Lopes, 27, formada em design de moda. Aprendeu a bordar com a mãe quando criança. Também formada em moda, Renata Dania, 27, via os bordados da amiga no Instagram e implorava para aprender. No primeiro encontro, preparou quitutes e deu nome ao clube. Naquela noite, aprenderam a bordar o ponto haste.
"O bordado era uma atividade para mulheres que ficavam em casa", explica Renata. "Nos reunimos para bordar porque queremos nos ver —e porque temos esse direito."
De fato, os temas da primeira coleção do Clube do Bordado se distanciam das figuras de pássaros e flores tradicionalmente relacionadas à arte têxtil. "Normalmente bordado é coisa de vovó, os delas falam mais comigo", elogiou a psiquiatra Ana Carolina Vasarhelyi, 44.
Fascinada pelo mundo pornô, a designer de moda Vanessa Israel, 24, estreou no bordado soft porn (nome da primeira coleção, que significa "pornô leve") após "uma forte dor de amor". A ideia de explorar o tema se consolidou após o convite para o Festival Pop Porn, realizado em junho deste ano.
Com a coleção, a designer Laís Souza, 27, vê a oportunidade de discutir tanto a "natureza feminina" do bordado quanto a sexualidade. "A gente gosta de brincar com tecidos delicados e cores suaves, tudo bordado com palavrões, insinuações de sexo oral, masturbação etc."
Até agora, não receberam críticas. Pelo contrário: na feira, ouviram confissões de senhoras que se sentiram vingadas contra a obrigatoriedade do bordado. "Uma me deu um beijo na testa", conta Vanessa. "Outra disse que só odiava bordar pois não teve essa ideia antes."
A boa reação surpreendeu e o hobby hoje é negócio, apesar do receio de Amanda e Marina Dini, 27, de ver o passatempo virar trabalho.
Os bordados soft porn estão à venda (R$ 30 a R$ 160) e dividem espaço com peças contendo cenas de filmes —para o futuro, planejam temas náuticos, de botânica e de astronomia.
Os convites recentes ao clube incluem as decorações de um casamento e de um bar. A ideia é, um dia, viver só de agulha, tecido e bastidor.
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FEITO À MÃO
Consenso entre o grupo: o bordado ajuda na concentração e a controlar a ansiedade, além de suprimir uma necessidade criativa. "Podemos criar sem passar pelo trauma do desenho", diz Amanda. "O bordado não precisa ser perfeito", completa ela, que se inspirou nas HQs eróticas de Milo Manara e Guido Crepax para os desenhos.
Para Marina, a volta do interesse pelo bordado se justifica em um cenário de carência de trabalhos manuais. A artista plástica Cristiana Kovacsics, 44, concorda: "Com tudo pronto, as pessoas não querem ter trabalho".
ONDE ENCONTRAR
Rei do Armarinho
Destaca-se entre os armarinhos da região da rua 25 de Março. Quem quer evitar a muvuca, pode comprar os produtos on-line.
R. Cavalheiro Basílio Jafet, 99, região central, tel. 4083-5555. www.reidoarmarinho.com.br
Guarani
É conhecida como Loja do Turquinho. Os donos, irmãos descendentes de sírios, conhecem bem os produtos e fazem questão de atender a cada cliente.
R. Três Rios,148, Bom Retiro, região central, tel. 3227-5330.
PARA SABER MAIS
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