Primavera: veja flores típicas de São Paulo e saiba onde encontrá-las

Às margens dos rios Pinheiros e Tietê crescem apenas duas mudas de uma espécie de orquídea típica dali. A Cattleya loddigesii era comum nas beiras dos rios nos anos 1920, como o botânico Frederico Carlos Hoehne (1882-1959) descreve no livro "Iconografia de Orquidáceas do Brasil", mas desapareceu ao longo das décadas seguintes.

No início do ano, elas voltaram ao seu local de origem pelas mãos do paulistano Alessandro Marconi, 30. Orquidófilo com dez anos de experiência, ele tenta arrecadar verba por meio de financiamento coletivo para plantar mil mudas da planta nessas mesmas margens.

Com o projeto "Mil Orquídeas Marginais" (catarse.me/pt/milorquideasmarginais ), Marconi tem divulgado a história da planta em diversos canais na internet.

Apesar de São Paulo ter flores típicas da sua vegetação (que mistura características que vão do cerrado, do Centro-Oeste, até a mata atlântica de encosta, da Serra do Mar), as mais comuns e conhecidas na cidade são espécies estrangeiras.

A azaleia , flor considerada símbolo da capital, por exemplo, é asiática, originária de países como China e Japão. Já a tipuana (Tipuana tipo), árvore comum por aqui, vem da Argentina e da Bolívia.
Trata-se de um reflexo do verde da metrópole, que tem 80% de suas árvores e plantas vindas de outros países ou Estados brasileiros.

"O problema é que muitas delas podem se comportar como invasoras e ocupar o lugar das nativas. Além disso, são plantas que não oferecem alimento para a fauna daqui", diz o botânico Ricardo Cardim, dono do site arvoresdesaopaulo.wordpress.com.

O pesquisador do Jardim Botânico de São Paulo Eduardo Catharino cita o exemplo da espatódea (Spathodea campanulata), árvore africana que dá flores vermelhas.

Encontrada em São Paulo, ela tem um néctar tóxico, que mata insetos e beija-flores. "Outra questão é que a população não conhece a flora típica da cidade, e o que a gente não conhece, não preserva", afirma Ricardo Cardim.
Mas, ainda que seja com plantas que não são essencialmente "paulistanas", a capital tem florescido.

A cidade tem um cartela de flores que nascem durante o ano inteiro, em revezamento. Muitas espécies florescem mesmo no verão ou no inverno, caso das nativas orelha-de-onça e da eritrina. Já os ipês, que têm mais de uma centena de variações de cores e espécies, costumam exibir suas flores de abril a setembro.

"Isso acontece porque no nosso clima não há uma diferenciação grande entre as estações", explica Catharino, do Jardim Botânico.

A primavera, que começa nesta segunda-feira (22), às 23h29, é o período símbolo das flores porque combina chuvas com o aumento de temperatura e dias mais demorados, com iluminação prolongada.
Tudo isso faz com que as plantas despertem sabendo que vão poder procriar mais facilmente.

Segundo especialistas, a seca dos últimos meses pode aumentar a incidência de flores. "É uma resposta que elas têm para isso. Se a situação está ruim, algumas espécies produzem mais sementes, a semente dispersa e vai para outro lugar", diz o professor do Instituto de Biociências da USP Marcos Buckeridge.

Ele também acredita que, nos últimos anos, a cidade tem tido um resgate do interesse pelas árvores e pelas flores nativas da região de São Paulo e do Brasil, tanto pelo poder público quanto pela população.

TIQUATIRA

O empresário Hélio Silva, 62, é um dos que se dedica a trazer a flora paulistana à tona. Ao longo dos últimos 11 anos, ele afirma ter plantado 17.680 árvores na área que hoje é chamada de parque linear Tiquatira, na zona leste.

"As flores mais lindas são as selvagens, não as criadas geneticamente. Aqui [no parque linear], 98% das árvores são típicas da região." De fato, as flores nativas são bem distintas das ornamentais estrangeiras, como camélia, cravo e hibisco.

As nossas normalmente são de árvores que dão frutos e têm formatos diferentes das grandes, coloridas e vistosas que figuram em floriculturas.

No "jardim" criado por Hélio, por exemplo, é possível encontrar espécies como o embiruçu, diferentes ipês e a eritrina (também chamada de suinã). Muitas delas foram compradas em viveiros do interior de São Paulo ou vieram de caminhão de outros Estados. Para o empresário e jardineiro, o parque é "a maior unidade básica de saúde da região".

"Mudou o clima, resgatou a autoestima do pessoal. Estão acostumados com flores em casa, mas o lindo é no campo", diz Hélio, que desembolsa cerca de R$ 3 mil por mês na manutenção do local.

SAIBA ONDE ENCONTRAR AS FLORES TÍPICAS DA CIDADE

Azaleia: leia mais sobre a flor, decretada símbolo de São Paulo.

Orquídea, Cattleya loddigesii
Onde encontrar: orquidário Ruth Cardoso, no parque Villa-Lobos, zona oeste
Floração: de julho e setembro
História: cada floração dura cerca de 20 dias e uma de suas características é a cor lilás, que pode ter variação com pintas. Na década de 1920, essa espécie era comum nas margens dos rios Pinheiros e Tietê

Ipês amarelos, brancos, rosa e roxos, Handroanthus spp
Onde encontrar: parque Ibirapuera, zona sul, Horto Florestal, zona norte, avenida Sumaré, zona oeste, e outros
Floração: de abril a setembro, dependendo da cor da flor e do clima
História: pode atingir até 30 m de altura e tem mais de uma centena de variações da espécie e de cores. Quando floresce,
a árvore perde todas as suas folhas

Embiruçu, Pseudobombax grandiflorum
Onde encontrar: parque Alfredo Volpi, Morumbi, zona oeste, e parque linear Tiquatira, zona leste (foto)
Floração: de agosto a setembro
História: é uma árvore que atinge de 15 m a 25 m de altura, com tronco de 50 cm a 80 cm de diâmetro. Costuma atrair morcegos e beija-flores

Pitangueira, Eugenia uniflora
Onde encontrar: Casa Bandeirista do Butantã, zona oeste, e parque linear Tiquatira, zona leste
Floração: de agosto a novembro
História: suas flores duram de uma a duas semanas. Geralmente, produz frutos duas vezes por ano: uma em outubro e outra entre dezembro e janeiro

Manacá-da-serra, Tibouchina mutabilis
Onde encontrar: no entorno da praça Panamericana, zona oeste
Floração: de janeiro a maio
História: pode ser confundido com as quaresmeiras (Tibouchina granulosa). No manacá, no entanto, as flores abrem brancas e mudam de cor até ficarem roxas

Flor-do-cambuci (rara), Campomanesia phaea
Onde encontrar: largo 13, em Santo Amaro, zona sul, e largo do Cambuci, região central
Floração: de agosto a novembro
História: sua árvore dá fruto de mesmo nome, que pode ser utilizado em sucos e doces. Já foi abundante por aqui, batizando até um bairro

Íris-da-praia, Neomarica caerulea
Onde encontrar: viveiro Manequinho Lopes, no parque Ibirapuera, represas Billings e Guarapiranga, zona sul, e Horto Florestal, zona norte
Floração: setembro
História: é confundida com a orquídea. Suas flores duram apenas um dia e, após a floração, as hastes que tocam o solo podem enraizar e formar novas mudas

Araçá-do-campo (rara), Psidium guineense e outras espécies do gênero
Onde encontrar: nos dois remanescentes de cerrado no campus da USP, zona oeste
Floração: de junho a dezembro
História: arbusto que dá uma espécie de "goiabinha", já foi tão abundante que nomeou o caminho que ligava a capital a Sorocaba -o caminho do Araçá-, hoje rua da Consolação. Depois, o cemitério na av. Dr. Arnaldo o herdou o nome

Murici-do-campo (rara), Byrsonima intermedia
Onde encontrar nos dois remanescentes de cerrado no campus da USP, zona oeste
Floração: de agosto a setembro
História: arbusto de floração abundante que fica quase todo amarelo. Seus frutos, de sabor intenso e perfumados, atraem pássaros e insetos. Era comum em lugares como avenida Paulista, Ipiranga, Campo Belo e Perdizes

Dedaleiro, Lafoensia pacari
Onde encontrar: parque Ibirapuera e parque ecológico do Guarapiranga, na zona sul
Floração: de abril a agosto
História: costuma ser usada como planta medicinal. Recomendada para plantio urbano por não atingir a fiação. As flores se abrem no final da tarde e são visitadas por beija-flores e por morcegos vegetarianos

Eritrina, Erythrina speciosa
Onde encontrar: parque do Carmo, zona leste, e Horto Florestal, zona norte
Floração: de julho a setembro
História: árvore que pode ter de 3 m a 5 m de altura e que atrai muitas abelhas e beija-flores. Em visita ao Brasil em 2001, o então primeiro-ministro britânico Tony Blair recebeu como presente oficial do Governo do Estado de São Paulo uma aquarela de eritrina feita pela ilustradora do Jardim Botânico da cidade

Língua-de-tucano, Eryngium paniculatum
Onde encontrar: parque Alfred Usteri, no Jaguaré, zona oeste
Floração: de dezembro a março
História: flor diminuta, de meio centímetro, que nasce em cachos. Há histórias de que, no final do século 16, José de Anchieta, o fundador de São Paulo, teria utilizado a planta para fazer sandálias

Orelha-de-onça, Tibouchina grandifolia e Tibouchina holosericea
Onde encontrar: parque Ibirapuera, zona sul
Floração: de janeiro a maio; outras espécies florescem em épocas diferentes
História: suas folhas têm pelos curtinhos que dão textura de veludo. É um arbusto que pode chegar a 3 m e uma planta dificilmente atacada por pragas ou doenças

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