Reservas ambientais salvam SP de reprovar no mínimo de área verde

Ezyê Moleda/Vinicius Pereira/Folhapress
Horto florestal (à esq.) e centro de São Paulo (à dir.): cidade quase é reprovada no índice médio de área verde por habitante, conforme recomendado pela OMS; distribuição, porém, é desigual
Horto florestal (à esq.) e centro de São Paulo (à dir.): cidade quase é reprovada no índice médio de área verde por habitante, conforme recomendado pela OMS; distribuição, porém, é desigual

Pode soar estranho, mas a cidade de São Paulo está acima do mínimo de 12 m2 de área verde por habitante recomendado pela OMS (Organização Mundial de Saúde). Dados recentes da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente apontam que a média na capital subiu em 2014 para 14,07 m2 por pessoa -contando áreas de preservação fora do perímetro urbano. No ano anterior era 12,5 m2. Em Curitiba, a média é de 64,5 m2.

A capital paulista tem cerca de 1,5 milhão de árvores espalhadas por reservas, praças, calçadas, parques e jardins particulares. Dos seus 125 mil hectares de área total, 35 mil são de cobertura vegetal, segundo o Inventário Florestal de São Paulo.

Todo esse verde, no entanto, é distribuído de forma desigual pela cidade. Na zona leste, por exemplo, nos distritos da Subprefeitura da Mooca (Água Rasa, Belém, Pari, Tatuapé, Brás e a própria Mooca), as áreas arborizadas ocupam apenas 3,85% do território.

No extremo sul, a subprefeitura de Parelheiros tem a melhor média, com 86,44% de vegetação; em seguida, aparece a região norte com destaque para Perus, com 73,92%. Para chegar a esse número, essas duas regiões com alto índice de pobreza contam com áreas de mananciais e trechos de mata atlântica não frequentados pelos moradores.

Considerando apenas os parques e as praças, a média paulistana de área verde cai para 2,88 m2 por habitante. Em Nova York, são 13 m2 para cada um.

"Em relação à região leste, a ocupação do local foi rápida e a construção dos passeios, em obediência à legislação, são relativamente pequenas para o plantio de árvores que mantenha a passagem livre dos usuários", diz o engenheiro agrônomo da Secretaria de Coordenação das Subprefeituras Danilo Mizuta.

Estudos feitos com satélites termais pela professora Magda Lombardo, do departamento de Planejamento Territorial e Geoprocessamento da Unesp, mostraram que o gradiente de calor -que mede a diferença de temperatura nos pontos da cidade- aumentou nos últimos anos. Na região da Serra da Cantareira, a temperatura média é de 18ºC. Na Sé, pode chegar a 33ºC.

"São Paulo teve um aumento em torno de 1,2ºC desde os anos 1950. A cidade precisa de arborização para amenizar o clima", diz a professora.

Existem também pequenos oásis na metrópole. As árvores da Cidade Universitária, na zona oeste, servem como um agente natural que minimiza o impacto da poluição da marginal Pinheiros e reduz a temperatura. A arborização e a ocupação residencial horizontal nos Jardins, na Granja Julieta, no Morumbi e nas chácaras Flora e Santo Antônio também criam microclimas com temperaturas amenas. "O Morumbi tem 40% de área verde, o que reduz em até cinco graus a temperatura do bairro", afirma a professora Magda Lombardo.

Para o presidente do Proam (Instituto Brasileiro de Proteção
Ambiental), Carlos Alberto Bocuhy, essas regiões são reguladores térmicos da cidade. "Árvores robustas lançam gotículas de água na atmosfera que atingem até 50 metros, umidificando o ar da região." Mesmo assim, para Bocuhy, essas áreas são insuficientes porque têm pouco contato com outros lugares da cidade.

"As áreas verdes de São Paulo estão em pontos isolados. Se as margens dos rios Tietê, Pinheiros e Tamanduateí fossem arborizadas, serviriam como corredores ecológicos para o fluxo de aves e polinizadores, aumentando a biodiversidade", diz.
A falta de árvores é acentuada pela verticalização da cidade. O avanço imobiliário criou cobertas de concreto e asfalto com altos índices de poluição, gerando "ilhas de calor" (áreas com temperaturas elevadas e menor umidade do ar) no centro e em bairros como Itaim Bibi, Vila Olímpia, Moema e Campo Belo, nas zonas sul e oeste.

Por outro lado, o ambientalista da organização Iniciativa Verde, Roberto Resende, acredita que o novo Plano Diretor da cidade, ao inibir a verticalização, pode frear o avanço urbano contra o verde. "Agora 25% do território de São Paulo passa a ser considerado zona rural", afirma. Segundo ele, propriedades particulares com grandes áreas verdes, como as que existem na região de Parelheiros, terão manejo fiscalizado, com regras para o uso do solo.

Região Central: zona densamente edificada onde se registra a maior ocorrência de ilhas de calor.

Zona Norte: área arborizada e ocupação residencial horizontal. A serra da Cantareira contribui para dispersão de poluentes.

Zona Leste: região de desequilíbrio ambiental. Solo impermeabilizado, pouco verde e temperaturas acima da média. Em épocas de chuvas, tempestades e alagamentos.

Zona Oeste: zona verde segue do sul em direção ao oeste. Nas áreas industriais, como Barra Funda, Vila Leopoldina e Lapa, falta vegetação e há ilhas de calor.

Zona Sul: os mananciais (Billings e Guarapiranga) e a vegetação contribuem para um clima ameno. Temperaturas abaixo da média por causa da ocupação residencial horizontal.

Fontes: Iniciativa Verde; Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental, Magda Lombardo, Rede Nossa São Paulo, Secretaria de Coordenação das Subprefeituras, Secretaria do Verde e do Meio Ambiente e NYC Parks and Recreation

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