Melhores Teatros de SP

Especial da sãopaulo avalia os 60 maiores teatros da capital paulista; confira qual a situação do seu palco predileto na cidade

Produtor escala, busca patrocínio e resolve perrengues; conheça alguns

Para que os atores possam ganhar os palcos, os produtores precisam entrar em cena muito tempo antes. São eles que compram os direitos das produções, contratam o diretor, escalam o elenco, correm atrás de captação de recursos, tentam convencer patrocinadores, definem quando e onde estrear, prestam contas de todos os gastos e resolvem os problemas que sempre surgem pelo caminho.

No meio do corre-corre, sempre acontece alguma coisa engraçada. As sócias da Morente Forte Comunicações, Célia Forte e Selma Morente, contam que o ator Dan Stulbach, protagonista da peça "Meu Deus!", anota atrás da porta do cenário o número de sessões que faz.

Quando a comédia foi para o Rio de Janeiro, a equipe teve que levar a porta intacta para lá, sem pintá-la, para não atrapalhar a conta do ator supersticioso. "Está dando sorte." O espetáculo reestreia em São Paulo dia 9/10, no Sérgio Cardoso.

As duas trabalham na área de artes cênicas desde 1985, produzindo comédias, dramas e musicais, como "A Casa de Bernarda Alba" e "Vingança", entre outros. Para Célia, o objetivo do profissional é garantir que tudo vai dar certo na hora H. "É o produtor que segura as pontas."

Ed Júlio, diretor e proprietário da Baobá Produções Artísticas, diz que o profissional transforma o sonho e a fantasia de um texto em realidade.

Em cartaz com "Caros Ouvintes" (no Masp), ele se lembra de uma história inusitada de 2010: em uma turnê por Macapá, o teatro exigiu que o técnico de som fosse da equipe local. Ed explicou ao funcionário que ele deveria ler o texto e, depois de certas palavras, apertar o "play": mas o rapaz era analfabeto. Conclusão: ficou o tempo todo ao lado dele, lendo tudo.

Nos últimos dois anos, a Baobá também produziu as peças "Divórcio!" e "Três Dias de Chuva" (com direção de Jô Soares).

Giuliano Ricca, sócio-diretor da Ricca Produções, está com duas montagens em cartaz na capital, "Através de Um Espelho" (no Sesc Consolação) e "Palavra de Rainha" (Viradalata).

Ele conta que faz muitas parcerias com artistas –eles chegam com ideias para análise e executam os projetos juntos. Com o diretor Alexandre Reinecke, por exemplo, Ricca levou ao palco três peças recentemente, incluindo "A Besta".

"Um projeto sem produtor não sai do papel", diz Ricca, que cita outras de suas atribuições, como decidir em qual teatro estrear, realizar as vontades dos atores e dos diretores e ver se há possibilidade de viajar com o elenco.

Foi em uma dessas viagens, há quase dez anos, que um imprevisto quase causou o cancelamento de uma sessão de "Quarta-feira, Sem Falta, Lá em Casa", com Beatriz Segall e Miriam Pires (1927-2004).

O satélite do caminhão que carregava todo o cenário perdeu o sinal e o veículo ficou travado no meio da estrada, sem poder se mover. Só depois de horas o guincho chegou e conseguiu resolver a situação –tudo no último momento.

Ricca diz que só investe numa montagem quando acredita que o público deva conhecer o autor e os atores envolvidos. "Sou bem ousado nas escolhas e, às vezes, me pergunto por que faço isso", brinca. "Mas não me arrependo, mesmo sabendo do risco." Ele se refere a textos de nomes como Ingmar Bergman e Edward Albee, por exemplo, "que assustam qualquer produtor porque são 'peças cabeça'."

Stephanie Mayorkis, diretora de conteúdo da T4F (Time for Fun), participou da negociação para trazer "O Rei Leão" para São Paulo e diz que o processo começou três anos antes da estreia no Teatro Renault, 2013.

"Foi o mais demorado. A produção é enorme, com objetos cênicos gigantescos. O teatro teve de passar por reforma para comportar tanto figurino, boneco e cenografia." O musical, que ainda está em cartaz e deve encerrar temporada em 14 de dezembro deste ano, foi a peça mais cara já feita no Brasil: custou R$ 50 milhões.

Stephanie, que foi responsável pela vinda da maioria dos originais da Broadway para o país (como "A Família Addams", "Mamma Mia", "Cats" e "O Fantasma da Ópera"), conta que essas peças vindas de fora são mais complexas e demoradas para serem produzidas. "Mesmo que elas já tenham sido realizadas em outros países, trazê-las para cá é uma nova produção."

Aniela Jordan, sócia da Aventura Entretenimento ao lado de Fernando Campos e Luiz Calainho, diz que um espetáculo leva aproximadamente dois anos para ser produzido, desde a concepção até a estreia.

A empresa foi responsável por trazer a São Paulo, nos dois últimos anos, os musicais "O Mágico de Oz", "Rock in Rio" (o de maior orçamento: R$ 11 milhões), "Elis, a Musical" e "Se Eu Fosse Você", que fica no Cetip até 14/12.

A mais parte difícil do processo, de acordo com Aniela, nem faz parte da produção. "É a escolha do musical, do tema, do roteiro. Definir em que vamos apostar, com dois anos de antecedência, é nosso maior desafio."

Publicidade
Publicidade