Papagaio mascote de bar na zona oeste de SP morre após dez dias internado

O Zé tinha acabado de encomendar um viveiro. A gaiolona teria 1,60 m x 1,60 m, bebedouro novinho e poleiro de pau de goiabeira.

"O Fred ia levar uma vida de marajá", conta o dono de boteco, de 74 anos. Na manhã daquela quinta (6), ele era só planos. Mas a noite trouxe o pranto.

A família e a boemia do bar do Zé Ladrão não terão sua mascote de regresso. Depois de dez dias internado (de 28/10 a 6/11) por uma doença respiratória, o animal de 24 anos morreu.

A notícia logo se espalhou. O Papagaio, apelido do habitué Walter, desabou em luto. A Preta, cliente que tinha chorado na ida e na volta, pela terceira vez se desfez em lágrimas. Com a dona Emília foi a maior cautela –a mãe do Zé tem 93 anos. O trio visitou a ave um dia antes da morte, quando Fred teve uma ligeira melhora.

A Sônia, mulher do Zé, não quis participar do enterro, feito no sábado (8), no quintal da casa em que vive, em Atibaia, a 60 km da capital. Foi ela que, com a Lola ("do cabeleireiro ao lado do bar"), deu ao papagaio o nome do ídolo Freddie Mercury.

O triste fim do louro do Zé encerra uma história cuja reviravolta começou no dia 29/9. Na data, a Polícia Militar Ambiental bateu à porta do boteco após uma denúncia anônima. O papagaio passava seus dias solto por ali.

A ave, que não tinha autorização do Ibama -manter em cativeiro espécime silvestre sem licença é crime-, foi levada ao Centro de Recuperação de Animais Silvestres no Parque Ecológico do Tietê, onde passou 17 dias, até voltar ao Zé por liminar da Justiça.

"Ele chegou mais magro e com doença respiratória. O estresse e a saudade pelo afastamento do ambiente em que viveu sua vida toda podem ter fragilizado a imunidade, o que pode acarretar infecção", diz o veterinário Rodrigo Ferreira, que atendeu Fred durante a doença.

"É frequente que papagaios com alimentação inadequada apresentem infecções respiratórias", explica a veterinária Liliane Milanelo, do parque Tietê, que diz ter diagnosticado nele estado "não crítico" de falta de vitaminas.

E completa: "Essa ave sugeria intenção de reprodução e foi colocada com fêmeas. Quando foi retirada do contato delas pela liminar, pode ter apresentado frustração reprodutiva, o que, para um animal silvestre, é mais forte que saudade do dono."

A comoção não demorou a chegar à porta do bar, onde foram deixadas diversas mensagens. Fechado há 15 dias por outras questões legais, não há previsão de reabertura do botequim. Para matar essas e outras tristezas, por ora, só a mesa de outro bar.

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