'Eu faço roupas para princesas', diz estilista predileto de noivas ciganas

"Eu faço roupas para princesas", diz Juarez Fernandes no segundo andar do que chama de seu "castelo" —na realidade, um palacete azul de três andares e paredes espelhadas na rua São Caetano, no centro, a rua das noivas. "Princesas ciganas."

O estilista de 45 anos trabalhou com Clodovil (1937-2009) e Ronaldo Ésper nos seus 30 anos de carreira ("foi meu traço fino que fez com que eles me contratassem"). Mas, desde que abriu seu ateliê na via nupcial, 25 anos atrás, se especializou em noivas que não passam em branco.

"Vestidos são uma competição de brilho e de cor. Quanto mais, melhor. Esse é meu lema", diz o baiano de Amargosa. Diferentemente da camiseta vermelha de tecido "dry fit" que ele usa na tarde quente da entrevista, nada é liso na sua vitrine.

O longo de veludo bordô tem cristais em todo peitoral mais debruns que vão até a manga, assimétrica. O vestido balonê azul curtíssimo, que só cobre as vergonhas, tem um espartilho salpicado de cristais. "Eu amo cristais", diz ele. Com 5.000 pedrinhas de Swarovski, a peça mais exuberante que fez pesava 40 kg —a noiva não chegava ao dobro disso.

Por falar em noivas, as 40 clientes mensais nem sempre têm a razão ali. "Se começa com frescura, digo: 'Nossa história terminou'." Diz ter dispensado dezenas de postulantes assim.

Mas nunca ciganas. "Elas tendem a gostar do que proponho." E são muitas propostas, já que uma noiva chega a usar três vestidos, um de cada cor. Com elas, também aprendeu a fazer tamanhos pequenos.

"Fiz muito vestido para noivas novas, de 12, 13 anos." A tradição da maioria dos 88 grupos contido na denominação "cigano" aceita que menores de idade se casem.

"Eles são ótimos. Cigano só tem um problema: nunca venda com cheque. Já tive muitos devolvidos. E eles se mudam, não dá para achar." Diz preferir dinheiro vivo no pagamento de suas peças, que têm preço mínimo de R$ 4.000.

"O Juarez certamente teve problema com outras etnias também e não generalizou, como fez com os ciganos. Generalizar leva a estereótipos, que geram preconceito e levam à discriminação", diz Nicolas Ramanush Leite, presidente da ONG Embaixada Cigana do Brasil.

TEM PERMUTA?

Mas sua clientela não é só formada pelo povo apátrida. Fernandes tem se aproximado de famosos.

Vestiu de graça a ex-BBB Iris Stefanelli e as dançarinas do É o Tchan Sheila Mello e Scheila Carvalho. "Elas me dão visibilidade."

"Vou apresentar um amigo meu, muito talentoso", disse Angela Maria enquanto se apresentava com Cauby Peixoto no palco do teatro J.Safra, na Barra Funda, há dois meses. "Pode vir ao palco, Juarez Fernandes?"
Ele foi, fez uma reverência à cantora, outra ao público e voltou ao seu lugar. "Os figurinos estão ótimos, querido, só não usei aquele vestido hoje porque ficou pequeno."

A chamada à ribalta foi espontânea, diz Fernandes. "Com ela, juro que não foi permuta. É talento."

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