São Paulo, 461

Bairro em SP cresce dentro de cratera de milhões de anos

Quem vai de ônibus até Vargem Grande, no distrito de Parelheiros (extremo da zona sul paulistana) —trajeto que dura uma hora e meia saindo dos terminais Santo Amaro ou Grajaú—, avista uma paisagem bastante variada: prédios, pistas largas, casas de alvenaria, barracos apertados, chácaras, mata nativa, lagos e uma cratera de meteoro.

O bairro de Vargem Grande foi erguido na parte norte da chamada Cratera de Colônia, uma área com 3,6 km de diâmetro causada pelo impacto de um asteroide —não se sabe ao certo se foi um corpo congelado, um cometa, um meteoro, um planetinha ou uma bola de ferro.

Estima-se que o evento tenha acontecido há cerca de 36 milhões de anos, com força dez vezes maior que a bomba de Hiroshima.

De acordo com o professor Victor Velázquez Fernandes, geólogo da Universidade de São Paulo e estudioso da cratera, o impacto é o responsável por bagunçar a ordem dos elementos naquela região.

O comerciante João Fernandes, morador do bairro há 20 anos, conta que, ao cavar um furo de 20 metros para um poço artesiano, encontrou uma árvore e folhas secas remexidas.

Já a moradora Ivanilda Mendonça relata que em outros locais basta uma cutucada no solo para jorrar água fresca. Os fenômenos se devem ao ângulo em que o objeto austral atingiu a terra (45 graus), causando uma depressão remexida de um lado e um morro do outro.

Descoberta por acaso nos anos 1960, a cratera foi reconhecida pela sociedade científica apenas no ano passado, e seu valor como patrimônio geológico, oficializado no banco de dados sobre impactos do mundo. No Brasil há seis crateras do tipo —no mundo, são 183, sendo seis no Brasil.

INFRAESTRUTURA

Vargem Grande, no entanto, não é um bairro regularizado. Apenas 30% das ruas têm calçadas e falta atenção ao sistema sanitário.

Marta de Jesus Pereira, a atual representante legal do bairro e presidente da entidade Achave (Associação Comunitária Habitacional de Vargem Grande), explica que a ocupação da antiga fazenda se iniciou em 1986, quando a União das Favelas do Grajaú adquiriu o terreno e o loteou. Cerca de 3.000 pessoas receberam um lote à prestação e ali construíram. Hoje, segundo a prefeitura, são mais de 40 mil habitantes.

Recentemente, a região viu uma valorização dos terrenos e casas. A moradora Ester Ferreira diz que terrenos em Vargem Grande custam em média R$ 70 mil, enquanto sobrados como os dela chegam a R$ 250 mil.

Com o crescimento de Parelheiros, a Cratera de Colônia, patrimônio geológico do Estado, prospecta a criação de um polo turístico. A verba viria de investimentos provenientes do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), do governo federal, e do Programa de Mananciais da Secretaria Municipal de Habitação.

A ideia é que, além de educar e incentivar os moradores a se preocuparem com a preservação, o polo atraia turistas e aventureiros. Há também um potencial de ecoturismo na mata nativa, com mananciais e a serra do Mar por meio de trilhas até cachoeiras e ciclovias ao redor da cratera (a região abriga o parque Natural Municipal Cratera de Colônia).

"É uma estrutura que, de fato, representa o processo de formação do planeta Terra", diz o geólogo Victor Velázquez Fernandes.

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