Com Nanini, 'Beije Minha Lápide' fala sobre túmulo de vidro de Oscar Wilde

Os fãs de Oscar Wilde (1854-1900) enchiam o túmulo do artista, em Paris, de marcas de batom. Eram centenas e centenas de corações e beijinhos vermelhos espalhados pela grandiosa estátua de pedra no cemitério Père-Lachaise.

Mas em 2011, a pedido da família, a sepultura foi restaurada e ganhou uma proteção de vidro para impedir que os admiradores tivessem contato com o monumento, e, assim, preservá-lo.

"Beije Minha Lápide" parte desse mote para criar sua trama. Com estreia na sexta-feira (16), no Sesc Consolação (centro de São Paulo), traz Marco Nanini no papel de Bala, um fã fervoroso do dramaturgo irlandês que é preso após quebrar essa barreira de vidro.

Ele passa o espetáculo inteiro encarcerado dentro de uma estrutura também envidraçada —artifício que, além de fazer um paralelo com a situação do túmulo, possibilita um belo visual por meio de várias projeções de imagens.

Nanini divide o palco com Paulo Verlings, Carolina Pismel e Júlia Marini, todos da Cia. Teatro Independente. A direção é de Bel Garcia, e o texto, de Jô Bilac —com dramaturgia idealizada pela equipe em processo colaborativo.

PERSONAGENS

Na história, Júlia interpreta um moça responsável por levar os turistas em passeios pelo cemitério, onde também estão enterradas personalidades como Jim Morrison (1943-1971), Édith Piaf (1915-1963), Molière (1622-1673), Chopin (1810-1849), Allan Kardec (1804-1869) e Maria Callas (1923-1977).

Ela conversa diretamente com o público, dando informações curiosas sobre o lugar. E também é filha de Bala, com quem não tem contato há um tempo.

Carolina faz uma advogada no auge da carreira que tenta ajudar o homem na prisão —mas que precisa enfrentar os momentos de revolta para, quem sabe, conquistar sua simpatia.

Já Paulo representa o carcereiro. Ele é calmo, introspectivo; fica ali vendo o tempo passar e acaba estreitando sua relação com o prisioneiro, já que passam muito tempo juntos.

"Uma ideia, se não for perigosa, não é uma ideia", diz um trecho da peça. E a frase pode simbolizar tanto a coragem de Bala em cometer o tal delito no cemitério —demonstrando sua indignação em relação ao cerceamento do
túmulo— quanto para questionar o significado dos diversos tipos de arte.

Com trilha sonora forte, o espetáculo também levanta questões sobre preconceitos sexuais, levando em conta que o autor do romance "O Retrato de Dorian Gray" (lançado em 1890) foi mantido preso por dois anos por manter um relacionamento com outro rapaz.

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