Cachorros podem queimar pata e pele no verão; saiba mais

Era para ser um passeio corriqueiro do dachshund Bob, 6, com a sua dona, Maria Raquel Silva, 35. Mas o sol implacável do verão ao meio-dia fez com que o cão voltasse para casa com as patas queimadas pelo chão quente do parque Ibirapuera, na zona sul.

"Saímos de carro e foi uma surpresa vê-lo machucado. A gente vê muitos bichos no sol, não acha que vai acontecer isso", diz Maria Raquel. Quando chegou em casa, ela percebeu o incômodo do bicho ao andar. Viu as patas vermelhas, quase sangrando, e o levou ao médico. "O veterinário passou pomada, fez ataduras e orientou que eu não passeasse mais com ele nos horários mais quentes."

Segundo a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, os atendimentos nos dois hospitais veterinários públicos na capital -no Tucuruvi, zona norte, e no Tatuapé, zona leste- por causa de queimaduras (tanto solar quanto de contato com o chão quente) chegam a aumentar, em média, 40% no verão.

Diferentemente dos humanos, os cães não transpiram para manter a temperatura do corpo. Por isso, o tempo quente gera problemas respiratórios para eles, principalmente os de focinho curto, como pugs e buldogues.

O mais frequente é o "estresse térmico", síndrome causada pelo calor, que pode levar a alterações respiratórias e, nas situações graves, à morte do animal. Esses casos, segundo a prefeitura, ocorrem 98% a mais no verão em relação às demais épocas do ano.

Há quatro meses, a empresária Thaís da Fonseca perdeu a pug Alice, 2. "Era um dia em que até garoava, mas estava abafado", lembra. "Fomos de carro com ar-condicionado e meus outros dois pugs, mas só ela passou mal."

Levada às pressas ao veterinário, Alice estava com a temperatura elevada. Ela foi tratada, mas morreu no dia seguinte. "Agora fiquei paranoica com qualquer passeio. Eles foram para a praia, mas ficaram o tempo todo dentro de casa, no ar-condicionado."

A artesã Sonia Blanco Carreiro, dona de quatro pugs, é precavida. Ela sai para passear com a turma, apelidada de "gangue da Mortadela", apenas em horários com menos sol e portando um "kit socorro". Os cuidados foram indicados por veterinários. "Levo gelo em gel e toalhas para molhar com água fria e colocar em cima deles", conta Sonia.

Mesmo assim, a pug Mortadela, 9, já chegou a desmaiar de calor em um parque. "Em casa, deixo ventiladores ligados, tenho um tapete de gel gelado onde eles se deitam, coloco bolsas geladas na barriga deles", diz. "Toso todos. Alguns criadores dizem que descaracteriza a raça, mas acho que eles se sentem mais aliviados."

Segundo Mario Marcondes, diretor do hospital veterinário Sena Madureira, também é comum animais morrerem porque os donos os deixam dentro de carros. Os veículos, diz o especialista, devem sempre estar com o ar-condicionado ligado.

Quando um animal chega em colapso ao Sena Madureira, é encaminhado para a UTI e fica cerca de dez horas com um colar no pescoço para ajudar o resfriamento do corpo. "Além disso, ele recebe medicação, soro na veia e faz banhos em água fria", afirma Marcondes. Nestes casos, a internação custa de R$ 450 a R$ 900.

Para evitar queimaduras nas patas, a indicação é passear com os cachorros antes das 8h ou depois das 20h. Cães de pelo curto e muito branco também requerem cuidados.

A empresária Edna Saiki é dona de três whippets e costuma passar protetor solar no rosto deles. "Nunca saímos em horários muito quentes e coloco roupinhas para eles não queimarem o dorso", diz Edna.

Ela usa protetor solar comum, mas há marcas especializadas para pets, com creme de gosto amargo para o bicho não lambê-lo.

Ronaldo Lucas, coordenador do hospital veterinário da Anhembi Morumbi, também recomenda visitar um veterinário antes de viajar com os animais.

"Cães podem ter otite, por nadarem no mar ou em piscina, e problemas por receberem comidas em festas. Isso nunca pode acontecer porque mudar a alimentação deles é tragédia anunciada", explica.

Gatos e pássaros também devem ser mantidos longe de áreas abertas nos dias muito quentes. "Gatos brancos, por exemplo, têm muita incidência de câncer de pele e os pássaros precisam de banheiras de água para poderem se refrescar", afirma Mario Marcondes, do Sena Madureira.

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