Empreendedor deixa empresa em SP para escalar montanhas em programa

Gustavo Ziller quase teve um piripaque em 2012, enquanto dirigia pela Avenida Cidade Jardim, no Itaim Bibi (zona oeste). O diagnóstico foi simples, apesar dos sintomas assustadores, como taquicardia e visão embaçada: estafa geral. Ziller estava a beira de um ataque de nervos, disseram os médicos.

Três anos depois de correr para o hospital, ele estará bem longe de São Paulo. O empreendedor de 40 anos planeja conquistar o cume do Monte Kilimanjaro, o mais alto da África, em meados de 2015.

Entre um episódio e outro, Ziller, que era sócio de uma empresa de softwares para smartphones e tablets, largou a vida de executivo e a capital paulista. Começou a investir pesado em treinamento para escalar as maiores montanhas de cada continente e também da Antártica e da América do Sul.

A primeira, o Aconcágua, foi riscada da lista em fevereiro, após 14 horas de subida. Ao todo foram 16 dias de escalada, com direito a presenciar, a poucos metros do topo, o resgate do corpo de um polonês que morreu após ter um ataque cardíaco.

Esse e os próximos desafios serão tema do programa "7 cumes", que estreia no próximo sábado, 11 de abril, no canal pago OFF. Cada expedição será mostrada em três episódios numa sequência que deve durar 30 meses e mais cansaço, só que do bom.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista com o mineiro, que já foi colunista de tecnologia da Folha.

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VIDA EM SP

"Sempre fui empreendedor, dono dos meus sonhos. Me mudei para São Paulo porque era um dos sócios de uma empresa de soluções de softwares para smartphones e tablets. Ir para São Paulo era importantíssimo para a empresa crescer. Peguei mulher e três filhos e fui. Sempre fui caxias demais e não tinha outra opção do que fazer a empresa dar certo.

Imagina ficar em São Paulo durante 23 meses sem receber pró-labore (remuneração pelo trabalho). Ficamos sem pagar a escola dos meninos, que foi sempre muito compreensiva. Foi uma situação de imersão total para fazer dar certo e tem o peso emocional disso tudo. Nessa época não percebia, mas estava sendo dragado por uma angústia."

MONTANHISMO

"Um belo dia fui buscar os meninos no colégio e encontrei com um amigo. Eu estava há seis anos parado, sem fazer exercício e ele falou "você devia fazer o Everest comigo". Aquele mosquitinho ficou no meio ouvido zumbindo. Todo mundo falou "pai, você está doido".

Acabou que em 2012 resolvi voltar a treinar e ir para uma montanha. Tinha treinador, médico, investi bastante nessa preparação. Minha primeira aventura foi numa montanha chamada Annapurna, também no Nepal, em abril de 2013.

Estou lançando no final de maio um livro sobre essa preparação. E o último capítulo do livro é justamente a reflexão: e se eu treinasse, fosse uma pessoa comum, com filhos, esposa, e me transformasse em um montanhista através de um treinamento. O roteiro dos sete cumes é o mais tradicional do montanhismo. Passa por todos os continentes e tem montanhas com geologia absolutamente díspares."

TREINAMENTO

"Tenho uma equipe de nove pessoas de apoio. Sou um aprendiz. É o que corre menos risco na montanha. O que corre mais risco é o turista, que acha que está indo para Disney.

Cheguei da primeira montanha muito mal, fiz vários exames, mas lá não tive mal da montanha. Meu organismo estava tão preparado que não tive nenhum dos estágios desse mal. O acampamento inteiro teve uma diarreia radical.

No Aconcágua sofri com cansaço extremo. Seu cérebro não coordena mais os movimentos motores. Tive isso quando estava descendo do cume. No último dia, foram 14 horas subindo, e seis, sete descendo. A distância linear é quase de dois quilômetros. É como atravessar um campo de futebol em uma hora. De onze pessoas [no grupo], só cinco conseguiram chegar no cume."

OBSESSÃO

"Falo que todo ser humano tem uma obsessão na vida. E falo isso no sentido positivo. Quando você entra num processo de estagnação, zona de conforto ou limbo, se você se agarra na sua obsessão, se resgata mais facilmente. Pode ser ler, fazer exercícios. No meu caso é realizar projetos. Pensei "tenho que fazer um projeto para minha vida, para o meu corpo, para minha cabeça". Montar um projeto para me resgatar. Virou documentário e tudo mais. Essa é minha obsessão. "

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