'Esta manifestação não vai dar em nada', diz musa dos caras-pintadas

Cecilia Lotufo, a jovem que representou os caras-pintadas do Fora Collor, em 1992, não vai participar da manifestação deste domingo. Hoje com 40 anos, a musa dos protestos que exigiam o impeachment do então presidente Fernando Collor diz não reconhecer a legitimidade de grupos que pedem a saída de Dilma Rousseff. Fundadora do Movimento Boa Praça e do Instituto Kairós, de consumo sustentável, afirma que coloca a mão na massa para ver as mudanças acontecerem. Mas não tira o crédito de quem vai para as ruas, desde que "com causa".

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sãopaulo - As atuais manifestações foram organizadas por grupos. Os protestos de 1992 foram mais espontâneos?
Cecilia Lotufo - Este aqui está sendo incentivado por grupos privados, que se interessam pela desestabilização do governo. Não participei das manifestações, não vejo legitimidade nelas. Até compactuo com as dores e desejos de pessoas que participaram. Não sou contra as manifestações, mas não acho que este contexto seja favorável para qualquer mudança. Os protestos antes da Copa, aqueles sim, eram legítimos, 100% espontâneos.

Por que eram legítimos?
Eram mais plurais, você via de tudo, era a sociedade inteira. Esta eu vejo como uma manifestação de elite. Uma elite que está insatisfeita mesmo, estamos vivendo uma crise. Na época do Fora Collor não tinha ninguém contra as manifestações, a não ser o próprio Collor. Era uma coisa tão unânime. Agora você percebe que tem uma grande massa contra.

O que acha das bandeiras hoje?
Não compactuo. Sinto que as pessoas estão indo na ingenuidade. Eu também quero mudar, mas não quero voltar para a ditadura, não quero ter o Aécio [Neves, PSDB] na Presidência. Não é isso que vai resolver a situação. Como uma pessoa que participou daquela esfera [de protestos], tenho convicção que o processo de transformação é outro.

Por que você diz que as pessoas são ingênuas ao participarem dos atos?
Estão distantes da política e, por isso, acabam fazendo o que está ao seu alcance. No momento que pega no calo delas, querem se mexer. Hoje a discussão fica em PT ou PSDB, mas não é isso. A discussão é mais profunda. Como chegamos a uma discussão que traga soluções concretas de transformação social?

Quais devem ser as consequências?
Quando uma pessoa vai a uma manifestação dessa, não está resolvendo nenhum problema. Temos que nos unir em busca de uma solução concreta, uma nova forma de gerir o país. Tenho certeza que não vai dar em nada e não tenho a mínima disposição de valorizá-la.

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