Mães, Bebês e Crianças

Crianças participam da chegada de irmãos em partos realizados em casa

Papai Noel? Sim. Coelhinho da Páscoa? Também. Agora, cegonha que entrega bebê em domicílio: essa história a jovem Fairuz Orboñez, 15, nunca ouviu dos pais.

Ela sabe desde cedo de onde as crianças vêm, ainda que só fosse descobrir como são feitas muito depois, na escola.

Aos cinco anos, a menina ajudou a cortar o cordão umbilical de sua primeira irmã, Manuela, que veio ao mundo em um parto natural realizado na casa da terapeuta corporal Janaína Audi, 35, mãe de ambas. Mais tarde, as duas presenciaram a chegada de outro membro da família: Noah, seu irmão nascido em 2013.

"Quando me deram a tesourinha Lembro até hoje. Em outros momentos achei que fosse ser nojento, mas foi maravilhoso", diz a garota, que, segundo Audi, acordou "imediatamente" ao ouvir o primeiro choro da recém-nascida, de madrugada, e correu para vê-la.

"É a chegada de mais uma pessoa à família, me parece muito natural que meus filhos estejam juntos. As crianças sabem que é importante e conseguem entender", afirma.

Para Katia Barga, 39, instrutora de ioga, "o nascimento é um momento em que as pessoas envolvidas criam um vínculo muito forte".

Ela diz que sua primogênita, Sarah, pediu para participar do parto de Alice em abril de 2014, feito em sua casa. "Ela acompanhou toda a gravidez. Durante a gestação, fomos preparando, explicando o que iria acontecer", recorda.

"Na hora, a Sarah ficou bem emocionada —até chorou. Perguntei se tinha ficado assustada, e ela: 'Não, mamãe. Eu chorei, mas às vezes é de alegria, né?' Depois ela ficava super contente de dizer que viu a irmã nascer", afirma Barga.

Audi conta que, depois de ver o parto do irmão, o único comentário que as filhas fizeram foi: "deve doer, né?" Manuela, que se sente mal ao ver sangue, foi chamada para presenciar o nascimento, mas logo que entrou no quarto decidiu voltar para a sala, onde passava um filme na televisão.

"Ela olhou para mim e disse 'não quero ficar aqui.' É uma decisão delas [de participar ou não]."

A psicóloga Patrícia Delfini, 33, reitera a importância de respeitar o real desejo de a criança presenciar aquele momento. Uma vez demonstrada a vontade, deve haver acompanhamento e preparação, com conversas, brincadeiras, leituras e até exibição de vídeos.

A especialista afirma que, estando amparada, a experiência não provoque trauma. "A vinda de um irmãozinho novo gera sentimentos ambivalentes nas crianças, tanto amorosos como hostis. Se a mais velha se sentir incluída no processo e na recepção —mesmo que não veja saindo da mãe—, isso pode ajudá-la a entender de maneira positiva as mudanças que vão ocorrer na família", explica Delfini.

Conhecer o bebê logo depois do nascimento é, para a psicóloga infantil Daniella de Faria, um bom ponto de equilíbrio entre acompanhar todas as contrações da mãe e só ver o irmão dias depois do parto.

Para ela, o meio-termo preserva a criança de vivenciar emoções que pode não entender, como a dor da mulher, mas ainda garante uma aproximação com o irmão. "Esse laço traz um ganho extraordinário. O filho mais velho se sente muito especial, importante, mas ainda é preservado. A relação entre eles começa de um jeito muito bonito."

Na opinião da jornalista Daniele Moraes, 33, desconstruir impressões é justamente um dos aprendizados que podem ser tirados dessa experiência. "Se minha filha [Isadora, 4, que assistiu ao nascimento de Cecília em maio de 2014] tiver aprendido que, apesar do momento intenso, nascer não é sofrer, acho que ela aprendeu tudo."

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