Segurem suas cabras que meu bode está solto

Vem circulando na internet listas de estudantes de escolas públicas da periferia de São Paulo chamadas de Top 10. A eleição não se refere ao desempenho escolar. Para figurar na lista, a garota precisa ser eleita uma das mais vadias. Há casos em outros Estados e eu não ficaria surpresa de que aconteçam coisas parecidas em escolas particulares.

O ranking é feito por garotos e, pasmem, por algumas garotas, que encontraram uma forma de se vingar de suas desafetas. Existe também o Top 10 dos meninos, mas a conotação é bem diferente. São sempre os lindos, os pegadores, os que "comem 12 em duas horas". E há também listas de estudantes sendo chamados de gays, bichas e outros termos impublicáveis.

Esses episódios revelam que a educação sexual vinda da escola e de dentro de casa tem falhado muito mais do que em relação à importância de se usar camisinha. Crianças e jovens não devem estar recebendo a mínima orientação sobre igualdade de gênero ou preconceito.

Crescem ainda sob uma nuvem espessa de machismo em que sexo é um direito apenas do homem. A sexualidade da mulher se torna alvo de ataques. O menino é sempre o garanhão. A menina é sempre a vadia.

Infelizmente, independentemente da classe social, muitos pais ainda educam os filhos de forma diferente. O menino pode, a menina não. Ensinar sobre igualdade de gênero é muito mais do que rosa pode ser uma cor para os garotos e que as meninas também podem brincar de super-heróis.

Educação sexual tem que deixar de ser tabu e a igualdade de gêneros dever ser uma das pautas mais importantes. Pais e professores têm que parar de se valer do ditado "segurem suas cabras que meu bode está solto".

Crianças que aprendem que todos têm direitos, deveres e oportunidades iguais serão adultos que irão respeitar o outro e nunca protagonizar episódios lamentáveis como esses que acontecem nas escolas.

Não adianta ensinar sobre a importância de se usar camisinha e não orientar sobre como as pessoas devem se relacionar. Ao fechar os olhos para essas questões, estamos criando adultos mal informados, preconceituosos e machistas. E isso o uso de camisinha não resolve.

Jornalista e roteirista. Apresenta o programa "Sem Mimimi com Mariliz", no YouTube. A colunista escreve na Folha às quintas e sábados.

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