Prestes a completar 75 anos, João Carlos Martins se sente 'um paizão'

Sentado ao piano, de onde enchia de música a sala de ensaio na sede da Fundação Bachiana —embaixo do viaduto 9 de Julho (centro)—, João Carlos Martins ergueu os olhos e sorriu.

Feitos os cumprimentos, queixou-se de uma dor na mão. "Acho que é de tanto estudar. Eu quero entrar e tocar", iniciou a conversa. O maestro se preparava para uma apresentação na Sala São Paulo celebrando seu aniversário de 75 anos, a serem completados no dia 25/6.

Martins ficou conhecido por sua interpretação da obra de Bach. Em 2002, porém, abandonou a carreira de pianista por problemas nas mãos. Algum tempo depois, retornou como regente.

"Meu filme vai ser muito baseado no 'Whiplash' (2014). A grande coisa da minha vida foi a obstinação pela música", conta sobre o longa biográfico, com direção de Bruno Barreto, sem previsão de estreia.

Ele recentemente criou um perfil no Facebook. "Vou comemorar meus 75 anos tocando, regendo e anunciando projetos para os próximos 25", diz. É pique, é pique. E que pique.

sãopaulo - Qual será seu pedido de aniversário?
João Carlos Martins - O mesmo de sempre: que através da ciência eu possa voltar a ter a mesma digitação que tinha quando era pianista. Sempre fica isso na cabeça, não posso negar. Mas, antes do pedido, faço um agradecimento por poder continuar na música.

Você ainda fica chateado por não tocar como antes?
Virei a página do passado. Não ouço mais gravação minha [de pianista] nem nada. Hoje eu rejo. Qualquer ensaio meu, ouço a gravação por horas -para corrigir. É viver o momento e o futuro. Respeitar a memória sem viver do passado.

A Bachiana cresceu muito?
A orquestra começou, em 2004, com 18 pessoas ensaiando lá em casa. Dois anos e meio depois a gente pisou no Carnegie Hall [em NY]. Essa exposição toda já fez a gente correr mais de cem cidades do Brasil [a temporada 2015 terá sete concertos na Sala São Paulo até novembro].

O que te emocionava quando começou e o que te emociona agora?
Como pianista você acaba virando uma pessoa muito voltada para si mesmo. Regendo uma orquestra, passa a ver o mundo de outra forma. Acaba considerando o problema de cada músico um problema seu. Me sinto como um paizão de todos. Isso me ajudou a crescer como pessoa. Os valores foram mudando com a mudança de uma vida intimista como pianista para uma vida em conjunto. Sempre com um único objetivo: fazer música e tentar deixar um legado.

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