Paleoartistas recriam 'dinos' e dizem que 'Jurassic World' é só diversão

Das musas, entidades mitológicas da Grécia Antiga, dizia-se que eram capazes de inspirar criações artísticas e científicas. Mulheres belas, talentosas e descendentes diretas de Zeus já foram homenageadas por Shakespeare, Dante e Rafael.

Pois a musa inspiradora de Felipe Alves Elias, 35, tinha 15 m de comprimento e 6 m de altura, pesava até sete toneladas e estaria, hoje, com idade bem avançada: 145 milhões de anos.

Funcionário do Museu de Zoologia da USP, no Ipiranga, região sul, Felipe leva tatuado no braço um crânio de espinossauro e é um paleoartista. "Faço a representação visual de uma hipótese paleontológica, sobre a anatomia, a aparência ou a ecologia das espécies fósseis." Resumindo, faz desenhos de como os cientistas imaginam que tenham sido essas espécies.

Apesar da explicação complicada, você já deve ter visto obras de paleoartistas em livros didáticos, exposições sobre dinossauros e até mesmo em séries de canais como BBC ou Discovery Channel. O trabalho deles, contudo, não aparece nos "Flintsones" ou no recém-lançado "Jurassic World - O Mundo dos Dinossauros".

"A paleoarte tem como função a divulgação científica", diz Ariel Milani, 35, um dos grandes estudiosos da área no Brasil. "No cinema, é entretenimento. Visualmente é lindo, mas tudo ali é uma grande liberdade artística." Ele jura que não é dor de cotovelo. "Como cientistas, temos de ser um pouco chatos. Mas é claro que adoro esses filmes."

Pioneiro da paleoarte no Brasil, Ariel já desenha dinossauros há quase 20 anos e atualmente faz doutorado na Unicamp. "Meu trabalho tenta formalizar a paleoarte dentro das ciências biológicas." "O problema é que as pessoas não entendem o limite entre arte e ciência. Para os cientistas, somos artistas; para os artistas, somos cientistas."

Ariel se define como um "pré-histórico" da paleoarte brasileira. Faz seus desenhos com pincel e tinta, não expõe os trabalhos on-line e se atrapalha um pouco na hora de dar o endereço de e-mail. É um contraste com a "nova geração" de paleoartistas, gente que sabe se virar em redes sociais e trabalha com técnicas de arte digital.

"Muitos talentos têm emergido na internet, mas não dá para dizer que todos são paleoartistas", diz Felipe Alves. "De profissionais atuantes no mercado, acho que não temos mais do que dez pessoas no Brasil", pondera.

Para estimular o crescimento da área no país, anualmente a Paleo SP –reunião anual da Sociedade Brasileira de Paleontologia– organiza um concurso de paleoarte.

O próximo evento, marcado para dezembro, terá como coordenador o paleontólogo Rafael Casati, 32. "É uma área que vem crescendo nos últimos anos, embora as premiações ainda sejam simbólicas."

Ariel, que será o "juiz técnico", dá alguns macetes que podem levar os aspirantes à vitória. "O dinossauro pode ser magnífico, mas se estiver andando em cima de grama, está errado. A grama só surgiu depois dos dinossauros", explica. "E, se você colocar um T-Rex ao lado de um dinossauro do início do período Triássico, então, é um absurdo. O desenho estaria mais correto se houvesse um astronauta sobre um tiranossauro."

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