Colégio de SP monta laboratório de YouTube para ensinar audiovisual

Luis Fabiani, 14, pensa em comentar temas como futebol e política. Giovanna Mekhitarian, 14, quer fazer desafios da internet, como o do balde de gelo, com duas amigas. "É fácil e tem audiência."

Brunno Pigatto, 15, mexe na capa do celular enquanto pondera as possibilidades. Ele prefere ficar atrás das câmeras. "Canal que faz sucesso é de humor", dizem, num consenso.

Os três alunos do colégio paulistano Pueri Domus fazem parte dos cem estudantes que se inscreveram para a primeira turma do Pueri VideoLab, um laboratório de YouTube, onde vão aprender a gravar, a editar e a ganhar dinheiro com a plataforma, como os vlogueiros (blogueiros de vídeo).

Os 25 estudantes selecionados vão produzir programas para o canal da escola em um estúdio inspirado no YouTube Space (recinto da plataforma) de Londres, com câmeras profissionais e sala de edição.

As gravações vão acontecer a partir de agosto, ao longo de oito aulas lecionadas pelos produtores Américo Fazio e Duca Mendes, que têm o canal "Audiovizuando". As lições serão dadas à tarde, fora do currículo, e passarão pelas bases da fotografia e do cinema até chegar à publicidade digital.

Segundo Fazio, a ideia é incentivar adolescentes do nono ano do fundamental ao segundo do ensino médio, séries que podem assistir às aulas, a criarem seus canais. Seja para divulgar um hobbie ou como forma de trabalho.

"A escola está considerando que isso é uma carreira. Na minha época, quando falei que queria ser ator, uma professora de física disse que era uma subcarreira, que não era profissão."

Para Cecília Aranha, diretora da unidade do Pueri Domus na Chácara Santo Antônio, na zona sul, onde está o laboratório, o ponto principal do projeto é desenvolver a visão crítica.

"Desde o sexto ano, os alunos têm uma tutoria de ética nas mídias sociais e vamos reforçar isso com o estúdio, que é pioneiro. Queremos formar expectadores menos passivos." Ela diz que o cardápio visual dessa geração passa mais pelo YouTube do que pela televisão.

Brunno, por exemplo, gasta mais tempo na internet do que vendo a programação da TV a cabo. Entre os canais preferidos estão "Porta dos Fundos", "Parafernalha" e "Eu Fico Loko", cujo criador foi convidado para a inauguração do Pueri VideoLab.

Autor de best-seller e com de 2,7 milhões de fãs, Christian Figueiredo tem 21 anos. Os estudantes entrevistados já tiraram selfies com a webcelebridade, que tem um diário digital e fala de temas do universo teen.

OPORTUNIDADES

A professora da Faculdade de Educação da USP Stela Piconez diz que a força da plataforma é explicada, em grande parte, pela facilidade de compreender a linguagem visual. "Se você colocar uma pessoa com escolaridade baixa e outra mais instruída em frente a um vídeo, qual a diferença? Às vezes, a imagem substitui um texto de 60 páginas."

Sobre a liberdade dos alunos de criarem o conteúdo que desejarem para seus canais, ela vê mais benefícios do que problemas. Para Stela, os adolescentes não são "bobos" e, se orientados, fazem boas escolhas.

O que a professora aponta como desafio no projeto é a impossibilidade de escolas de menos recursos o colocarem em prática. Ela trabalha em um colégio estadual em Cotia, onde alunos usam celulares para gravar vídeos.

"A grande dificuldade é a infraestrutura. Escola pública precisa reformar até as tomadas. Se essa oficina fosse inserida dentro de todas as escolas, iria revolucionar."

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