Clube do Choro ganha sede em teatro municipal reinaugurado na zona leste

"É um momento muito favorável para o choro", diz um alegre Nabil Bonduki —o secretário municipal de Cultura não se refere a outras lágrimas que não as de regozijo musical.

É que a partir de terça (18), quando será reinaugurado na Mooca o Teatro Municipal Arthur Azevedo, os "chorões" paulistanos ganham novo lar.

Marco modernista projetado por Roberto Tibau (1924-2003), o prédio consumiu R$ 7,8 milhões em três anos de reforma para granjear acessibilidade, melhorias técnicas e um anexo que sediará o Clube do Choro de São Paulo.

Sua missão? Promover shows, rodas e aulas.

"A ideia é que músicos e produtores tenham um ponto de encontro e estudo", diz o percussionista e pesquisador paulistano Yves Finzetto, 32, um dos porta-vozes.

Foi o bandolinista Danilo Brito, 30, quem lançou a semente do projeto. Após um show no início do ano, Fernando Haddad (PT), na plateia, procurou-o para conversar sobre música. Empolgado, conectou o velho pleito "chorão" ao teatro em obras.

Ali, a programação será gratuita. Não se restringirá ao choro nem à música, contemplando atrações cênicas e de dança, mas focará, no início, o repertório de "chorões" paulistas.

Bonduki louva a iniciativa "por não ser pensada de cima pra baixo". As atividades de formação, ele diz, começam em 2016 e usarão a estrutura da Escola Municipal de Música, vinculada à Fundação Theatro Municipal.

LÁGRIMAS SEM-TETO

Surgido no Brasil no fim do século 19, o choro é notório por mesclar melancolia e técnica apurada e por ser pai de estilos como samba e frevo.

O batismo, dizem os historiadores, captou a emoção dos pioneiros: músicos como Joaquim Antônio da Silva Calado Jr. (1848-1880) e Chiquinha Gonzaga (1847-1935), sucedidos por nomes como Pixinguinha (1897-1973) e Jacob do Bandolim (1918-1969).

Nas últimas décadas, porém, faltava um lar para ladear veteranos, como João Macacão e Baloi 7 Cordas, e novatos. "Carreguei dúvidas por não ter a quem perguntar", afirma Danilo.

A falta de estrutura impediu a profissionalização até de gênios como Izaías Bueno de Almeida, 78. "Sou contador, vivi uma vida dupla", diz. Tido por Mestre, o bandolinista lidera desde 1978 o grupo Izaías e Seus Chorões, que reabre o teatro na sexta (21).

Ele presenciou as duas tentativas de materializar o clube —a mais célebre durou de 1977 a 1979, em Pinheiros, e agregou músicos, como Armandinho Neves (1902-1976) e Paulinho da Viola, jornalistas, como Sergio Gomes da Silva, e artistas, como a cartunista Laerte.

"Minguou quando os sócios deixaram de pagar a mensalidade", lembra Izaías, que chegou a ser o presidente.

Nos anos sem teto, o gênero protagonizou ações como as "ruas do choro", lembra a percussionista Roberta Valente. Também uma série no Sesc Ipiranga, com dois shows ao mês, e a roda na loja Contemporânea.

Após a criação de uma cadeira de choro na atual Emesp Tom Jobim, há cerca de dez anos, cresceu a busca por organização.

Surgiram projetos, como o registro Panorama do Choro Paulistano, e eventos, entre eles "A Hora do Choro", que fez shows no Dia Nacional do gênero (23/4), e a última Virada Cultural, quando 132 artistas revezaram-se em roda por 24 horas.

Unidos, os chorões torcem para que mais artistas conheçam a epifania de Izaías —na falta de escola, aprendeu bandolim aos dez anos "na nata dos botecos do Peruche", diverte-se, "porque ouvi 'Doce de Coco', do Jacob, e desatei a chorar." E como não?

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AGENDA:

Teatro Municipal da Mooca Arthur Azevedo
Av. Paes de Barros, 955, Mooca, tel. 2605-8007. 349 lugares. Livre. Estac. grátis. GRÁTIS
Cerimônia de Reabertura, ter. (18): 10h.
Izaías e Seus Chorões, sex. (21): 21h.
André Parisi Quinteto, sáb. (22): 21h.
Bandinha Popular, dom. (23): 19h.

Roda de Choro da Loja Contemporânea.
R. Gen. Osório, 46, Santa Efigênia, tel. 3221-8477. Livre. GRÁTIS
Todo sábado, das 9h às 14h.

Série Clube do Choro - Sesc Ipiranga.
R. Bom Pastor, 822, Ipiranga, tel. 3340-2000. 100 lugares. Livre. GRÁTIS
Regional do Babeche, qua. (26): 20h.

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OS "CHORÕES" EM AÇÃO

Danilo Brito - "Ingênuo", de Pixinguinha, na série Instrumental Sesc Brasil

Vídeo

Izaías e Seus Chorões - "Pedacinho do Céu", de Waldir Azevedo, na série Instrumental Sesc Brasil

Vídeo

Alexandre Ribeiro e Roberta Valente com o Roda de Choro de Lisboa

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