Sírio aproveita exposição na mídia para conectar refugiados e brasileiros

Você já deve ter visto a foto do sírio Talal Al-tinawi por aí. Há um ano e meio, ele deixou o país árabe e se instalou com a família no Brás (região central), conhecido reduto de imigrantes. Desde julho, quando começou uma campanha de arrecadação de fundos para abrir um restaurante, o refugiado apareceu em telejornais, sites, jornais e programas de rádio.

Agora, Talal quer aproveitar a notoriedade que conquistou para conectar brasileiros dispostos a ajudar e sírios que precisam de ajuda. Depois da campanha de crowdfunding –que por enquanto atingiu R$ 27 mil dos R$ 60 mil almejados–, ele passou a receber centenas de mensagens no Facebook de pessoas dispostas a doar roupas, alimentos ou contribuir com a comunidade síria de alguma forma.

A campanha coincidiu com o agravamento da crise migratória na Europa e a foto de Aylan Kurdi, de 3 anos, encontrado morto em uma praia da Turquia.

Reprodução/Facebook
O refugiado sírio Talal Al-Tinawy e sua família
O refugiado sírio Talal Al-Tinawy e sua família

Muitas das doações que Talal recebeu já estão em seu apartamento. Para chegar a refugiados de outras cidades do país, como Rio de Janeiro, Curitiba e Blumenau, ele procura sírios para serem intermediários ou destinatários finais das doações.

"Alguém que more no Rio pode falar comigo pelo Facebook porque tem muita gente que quer ajudar", diz.

Em São Paulo, para distribuir as peças de roupas, lençóis, sapatos e eletrodomésticos, ele vai organizar uma reunião em sua casa. Sírios e brasileiros são bem-vindos para trocar informações e conhecer mais da realidade um do outro. O encontro deve acontecer até o fim de setembro e será anunciado pela rede social.

"Alguns imigrantes têm necessidades especiais e precisam de um remédio específico que não podem comprar. Ou têm dúvidas sobre documentação, trabalho. É para reunir todo mundo."

CHEGADO AO BRASIL

Talal, sua mulher e os dois filhos do casal chegaram a São Paulo em 2013, depois de morarem dez meses no Líbano.

Ele diz que deixou a Síria após ficar três meses preso por ter sido confundido com uma pessoa de mesmo nome. Antes de deixar a prisão, um colega de cela deu a dica: ele deveria sair do país o mais rápido possível, antes que o governo de Bashar Al-Assad o prendesse de novo.

Talal deixou na terra natal o pai e um irmão, que vivem no centro de Damasco, onde, diz, ainda é "mais ou menos seguro".

"Eles não querem sair de lá. Em outras cidades do país destruíram tudo."

Outro irmão está na Alemanha há cinco meses e uma irmã vive nos Estados Unidos há doze anos.

Quando chegou à capital paulista, o refugiado trabalhou alguns meses como engenheiro em uma oficina de Santa Cecília, mas o salário não correspondia à função. Ele ganhava muito menos por não ter validado o diploma no Brasil.

Começou, então, a fazer comida árabe para vender. A exposição na imprensa aumentou o número de encomendas. Antes das entrevistas, eram um ou dois pedidos por semana. Depois, ele atende até seis por dia.

O plano do restaurante não é o único. Quer voltar a ter um emprego como engenheiro e mudar com a família rumo ao sul. Talvez Curitiba ou Florianópolis, cidades que conheceu durante uma viagem.

"Ainda consegui continuar minha vida no Brasil", diz em mistura de português e árabe, com toques de sotaque paulistano.

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