Rede de lar para idosos chega a SP com atividades para autoestima

Branco por fora e com móveis coloridos por dentro, um prédio aberto na Vila Leopoldina, zona oeste de São Paulo, é a primeira etapa de um projeto ambicioso: a criação de uma rede de moradias para idosos que promete oferecer qualidade a um preço abaixo da média. E, ainda, que consiga remover a aura triste que pode permear lugares do tipo.

O espaço, chamado Cora Residencial Senior, tem 15 moradores, mas há vagas para até 115 idosos. O plano é abrir outras 29 casas no Brasil, sendo seis na capital paulista, em bairros como Ipiranga e Campo Belo.

O negócio pertence à BSL (Brasil Senior Living), empresa criada pelo fundo Pátria Investimentos, com aplicação de US$ 150 milhões (mais de R$ 580 milhões). Enquanto espaços de ponta cobram até R$ 18 mil por mês, a mensalidade no Cora parte de R$ 4.880. "Ao comprar produtos para equipar 30 unidades, consigo baixar o preço com fornecedores", diz Ricardo Soares, 42, presidente da BSL.

Apesar da redução, o valor está distante do bolso da maioria dos paulistanos. "Embora seja um custo próximo do gasto com cuidadores em casa, um professor da USP não tem condição de pagar isso sozinho", compara Rosa Chubaci, coordenadora do curso de gerontologia da Universidade de São Paulo.

A grande parte dos residenciais para idosos na cidade tem até 50 vagas, mas há outras instituições de maior porte, como a associação Bezerra de Meneses, gratuita. "Em instituições que mesclam pessoas com alta fragilidade e outras com autonomia, acaba prevalecendo um cuidado centrado na doença e não no sujeito", avalia Beltrina Corte, coordenadora de gerontologia da PUC-SP.

Rosa defende que o governo crie mais instituições públicas para idosos, de modo a atender pessoas de classe C e D. "No Brasil, há a cultura de cuidar do idoso em casa, mas isso fica difícil à medida que as pessoas vivem mais e têm menos filhos. No caso de pessoas debilitadas, a ILPI é mais indicada, pois oferece melhor assistência."

Numa tentativa de tirar o estigma dos asilos, os espaços são chamados de ILPIs (Instituição de Longa Permanência para Idosos).

Para apostar nesse mercado em expansão, a BSL contratou diretores vindos de empresas como o hospital Beneficência Portuguesa e a construtora Cyrela.

Ao longo de dois anos, Soares e sua equipe visitaram espaços para idosos em várias cidades e entrevistaram 200 famílias. Entre as sugestões incluídas no Cora, estão móveis coloridos e funcionais e espaço arejado, com luz natural.

"Não é só trazer e a gente cuida de tudo. A família tem que dar suporte emocional", afirma o empresário. Para facilitar as visitas, as unidades ficarão em bairros bem localizados. "Por que não passar aqui depois do trabalho e assistir ao telejornal junto?", sugere Soares.

Há também salão de beleza, horta, terapia ocupacional e atividades de culinária, como fazer pão. As tarefas são pensadas para fortalecer a autoestima dos moradores, ponto sensível na velhice.

Nos andares superiores, os corredores lembram um pouco um hospital, mas dentro das habitações, a sensação é de estar em um hotel. Das janelas, é possível ver o parque Villa-Lobos, que fica próximo. Cada suíte pode receber até duas pessoas e ser personalizado com fotos, quadros e móveis próprios. "Queremos respeitar as biografias, o que cada um fez antes de chegar aqui", diz Soares.

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