'SP é cada dia mais impactante', diz rapper Ogi, que lança segundo álbum

Em outubro, Rodrigo Ogi, 35, identidade nem tão secreta do rapper batizado Rodrigo Hayashi, lançou "Rá!", seu segundo álbum solo desde "Crônicas da Cidade Cinza", de 2011.

Com envolvimento de nomes que vêm se destacando na safra atual de músicos brasileiros, o disco conta com vozes de Juçara Marçal (do grupo Metá Metá) e Mao (antigo vocalista do Garotos Podres), arranjos de Kiko Dinucci, Thiago França e Daniel Ganjaman, e produção do curitibano Nave, entre outras participações.

"Agora estou muito mais maduro, falo muito mais coisas e com mais técnicas", afirma o rimador, que mora com a mulher em um sobrado na Vila Monumento, zona sul da capital paulista –a pit bull Cléo morreu recentemente, aos 13 anos de idade.

Quatro anos depois de "Crônicas", porém, a essência das letras de Ogi continua a mesma : situações reais experienciadas em São Paulo misturadas a certa ficção em ritmo ora boêmio, ora melancólico, ora frenético como nos quadrinhos e "games" –fontes das quais ele diz beber muito.

Divulgação
O rapper Rodrigo Ogi, que lançou seu segundo álbum solo, "Rá!", com músicas como "Estação da Luz"
O rapper Rodrigo Ogi, que lançou seu segundo álbum solo, "Rá!", com músicas como "Estação da Luz"

sãopaulo - Observar, absorver e transcrever a cidade não é cansativo?
Rodrigo Ogi - Sim, mas é isso que faz eu compor. Gosto muito de andar de ônibus, por exemplo. Fico observando as coisas pela janela. Você vê como as pessoas são, como estão sempre correndo. Gente comendo lixo, famílias embaixo da ponte... São Paulo é cada dia mais impactante.

O paulistano perde a sensibilidade vendo tanta coisa assim pelas ruas?
Perde, cara. Já vi gringo que veio para cá e ficou assustado. Gente de fora, que não está acostumada, se comove mais. Uma vez, num frio de rachar, tinha um cara sentado sem camisa e várias pessoas passavam por ele. Voltei para casa, peguei tênis, meia, blusa e coloquei nele. Estava dando pena. O pessoal já não se comove tanto, você vê que é normal.

A música "Estação da Luz" [do álbum "Rá!"] foi inspirada em alguma das suas andanças de ônibus?
Eu já andei por lá muitas vezes, mas Estação da Luz foi só um jeito de chamar. O que acontece na música [cuja letra fala de um transeunte que fica "em choque" com situações de degradação comumente vistas na região da cracolândia] é geral. Acontece em várias partes da cidade. Você vai ao parque D. Pedro, está ao deus-dará. Vai àquela região da Marechal Deodoro, também vê muito disso. No Brás, no Pari, na Luz...

Como rapper, acha que tem a função de fazer pessoas se sensibilizarem?
Se de dez eu conseguir sensibilizar duas, já está bom. Algumas se comovem, outras não –como se os problemas fossem invisíveis. Há pessoas que não gostam de lidar com coisas que as façam ficar assustadas. Por isso acho que existe esse descaso. Tem gente que vê um cara na rua e acha que é vagabundo. Agora, o que levou ele a estar ali, ninguém pergunta. Ninguém sabe a história dele pra julgar. Sei lá.

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